Como o mercado empresarial está olhando para justiça climática sobre a ótica racial?

Por: Priscilla Arantes

Nos últimos anos, temos sido impactados por uma série de termos e narrativas para definir estratégias para conter as emergências climáticas – crise global causada pelas mudanças climáticas, que estão sendo aceleradas pela atividade humana -, discutidas há décadas por ambientalistas, estudiosos e parte da sociedade civil. Lembram dos compromissos firmados na Eco 92? A Agenda 2030 seria a nova Eco 92?

Com a escalada do ESG, sigla para “Environmental, Social and Governance”, que significa “Ambiental, Social e Governança”, em tradução livre, a pauta socioambiental tem ganhado visibilidade, mas ainda muito abaixo do necessário e fragmentada. E não precisa ser um ambientalista para compreender que as três frentes não trabalham sozinhas por um motivo bem simples: estamos cuidando (ou não!) de um só planeta.

Quando nos deparamos com uma geração de líderes (empresários) inclinados a promover impactos positivos no cerne de suas atividades profissionais, a luz da esperança se intensifica. E são debates, estratégias, formações, grupos de trabalho e outras dezenas de caminhos que levam o compromisso proposto na Agenda 2030.

Agora vamos colocar uma lupa no debate. A emergência climática atinge de forma bem ampla o planeta e todes que nele habitam. Mas se estamos falando de uma crise acelerada por atividades humanas, principalmente emissão desenfreada de gases, encontramos o motivo do S (Social) do ESG. Socialmente falando, as desigualdades no acesso e na distribuição dos efeitos das mudanças climáticas afetam principalmente as comunidades mais vulneráveis e marginalizadas do mundo. No Brasil, essa injustiça tem cor e endereço bem definidos.

Justiça Climática e Racismo Ambiental

Recentemente, o Brasil acompanhou a tragédia provocada pelas chuvas no Litoral Norte de São Paulo. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres. Naturais (Cemaden), foram mais de 680 milímetros de chuva acumulados no período de 24 horas, o maior registrado pelo órgão no país. E apesar da amplitude do impacto, as comunidades mais afetadas pela tragédia tinham similaridades. Essas comunidades muitas vezes enfrentam uma série de desafios ambientais, como a poluição do ar e da água, a falta de acesso a espaços verdes e recursos naturais, e o aumento dos riscos de desastres naturais. O racismo ambiental é uma forma específica de injustiça climática, que se concentra nas desigualdades ambientais vividas por comunidades de minorias étnicas e raciais.

Foi assim em 2022, quando a cidade de Petrópolis passou por chuvas intensas,
deslizamentos de terra, vitimando 241 pessoas e mais de 4 mil desabrigados, a maior
tragédia de sua história. Em 2021, quando o sul da Bahia ficou submerso deixando pelo
menos 18 mortos, 16 mil desabrigados. Em 2020, na região metropolitana de Belo
Horizonte, morreram 53 mortes em cinco dias, deixando 30 mil desabrigados. Em 2016, 21
pessoas morreram em Mairiporã, Francisco Morato e Itapevi, na região metropolitana de
São Paulo.

Empresas e poder público

Diante do posto, estamos de acordo que o compromisso para cumprir a agenda 2030
precisa ser coletivo? As estratégias, os debates, o letramento socioambiental precisam,
urgentemente, ser traduzido em ações práticas. As empresas têm papel fundamental nesse
processo (e grande responsabilidade!) e recursos para isso. Uma ferramenta valiosa é a B
Impact Assesment (BIA), desenvolvida pelo Sistema B. A BIA é uma avaliação padronizada
que mede o impacto social e ambiental das empresas em relação a cinco áreas principais:
governança, trabalhadores, comunidade, meio ambiente e clientes.

Ao usar a BIA, as empresas podem identificar áreas onde estão tendo um impacto negativo
sobre as comunidades de minorias étnicas e raciais, e tomar medidas para mitigar esses
impactos. Além de avaliar seu próprio impacto, as empresas também podem trabalhar em
parceria com as comunidades de minorias étnicas e raciais para desenvolver soluções
sustentáveis e colaborativas para os desafios ambientais que enfrentam.

A partir do resultado da avaliação de impacto, ações podem sair do papel e ir direto para a
prática. Promover e incidir em políticas públicas amplia o debate e atuação. Cobrar que o
poder público apoie empresas comprometidas com desenvolvimento socioambiental,
políticas que subsidiem as pequenas e médias para atuarem com compromisso desde o
início das suas atividades, priorizar e promover a educação política para que a sociedade
também saiba cobrar seus direitos.

Enquanto os movimentos socioambientais, as empresas com compromisso socioambiental
e os veículos de comunicação segmentada não incluírem a temática de racismo ambiental,
injustiça ambiental ou racismo climático no centro das discussões, qualquer intenção
permanecerá vaga e inconsistente. Salvar o planeta começa com mudanças no micro
ecossistema.

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