Com mesmo grau de instrução e tempo de carreira, negros chegam a ganhar 13% menos que trabalhadores brancos, diz estudo do Insper

Racismo estrutural,  pode ser parte da explicação para o salário menor

Um estudo conduzido pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper mostrou que, em especial nos cargos de alto escalão, o percentual de negros nas empresas listadas na Bolsa brasileira ainda é bastante baixo — considerada a composição das diretorias das empresas que fazem parte do Ibovespa, somente cerca de 9,5% é formada por negros, subindo para 23,5% quando se tratam dos cargos de gerência. Já ao considerar os demais cargos dentro das empresas, o percentual de negros sobe para 41,3%.

Recentemente outro estudo do Insper também apontou que trabalhadores negros com as mesmas características produtivas semelhantes aos brancos (nível de escolaridade e tipo de vinculo, formal ou informal), ganham em média 13% menos do que seus colegas brancos.

O levantamento foi feito a partir de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e da Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O estudo, portanto, usa o mesmo conceito do IBGE, que considera negras as pessoas que se declaram como pretas ou pardas.

Os números também mostram que as diferenças são mais profundas, a depender do gênero: o desemprego para mulheres negras, em dados anuais, era de 20,5% em 2021, de 13,7% para mulheres brancas, 12,8% para homens negros e de 9,4% para homens brancos. E entre os 10% mais pobres, negros ganhavam 64% dos brancos em rendimentos do trabalho no mesmo período.

A pergunta se perpetua: Quantas pessoas negras você conhece que estão numa posição de alta liderança em uma empresa ou em cargos de gerência? Recentemente me fiz esta pergunta quando me vi em um espaço majoritariamente branco, tratando de temas que dizem respeito a grupos minorizados e, como sempre, me senti solitária e desconfortável.

Quando falamos sobre o aumento do número de mulheres nos cargos de alta liderança das corporações, normalmente isso não contempla as interseccionalidades e nos retemos assim a mulheres brancas, cisgênero, urbanas e com algum poder aquisitivo. Muitas iniciativas que aceleram mulheres para cargos de C-level, sem levar em conta interseccionalidades, acabam corroborando para a manutenção do poder, sem recorte algum.

A pergunta que faço então é: Onde estão as mulheres ou pessoas negras na sua empresa? Na maioria das vezes, em posições de serviços ou em baixas posições dentro da hierarquia. Precisamos mapear e enumerar todos os meios que excluem pessoas negras nas corporações, talvez este seja o primeiro passo para as mudanças que pleiteamos.

Fonte: Folha de São Paulo

*Kelly Baptista Gestora Pública, diretora executiva da Fundação 1Bi, Linkedin Top Voices, Membra de Conselhos e da Rede de Líderes da Fundação Lemann.

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