“A oportunidade só procura quem tá em movimento”; Hebert Mota, empresário de sucesso no entretenimento, compartilha inspirações de sua carreira

A trajetória do empresário do entretenimento Hebert Mota chama atenção pelos grandes encontros. Aos 45 anos, ele relembra o “corre” que teve que fazer para chegar até aqui e poder narrar sua história, que inclui encontros de negócios com nomes como o rapper bilionário Jay-Z.

Antes desse e de muitos encontros que ajudaram a conectar artistas brasileiros e internacionais a grandes negócios existem anos de trabalho e estratégias profissionais de uma caminhada que começou no bairro de Jardim Americanópolis, na zona Sul de São Paulo, onde o filho de um metroviário e de uma dona de casa, que começou a trabalhar com 13 anos já desenvolvia em casa, com os primos, suas habilidades de socialização.

Aos 16 ele estava viajando como rodie para carregar caixas e equipamentos de bandas pelo Brasil e começava aí o movimento que Hebert Mota dos Anjos faria para se tornar um dos reconhecidos empresários do entretenimento brasileiro. Ele foi agente do lutador Anderson Silva e atuou como conector de negócios para personalidades internacionais como o cantor Kirk Franklin, o jogador de basquete Kobe Bryant, os rappers Kanye West e Jay-Z. No Brasil, nomes como o rapper Mano Brown e o cantor Seu Jorge também integram a lista de celebridades com quem já manteve relacionamentos de negócios.

Para o Mundo Negro, Mota, que hoje é proprietário da B.Conexus, falou sobre aquilo que o inspirou nesse caminho de mais de 20 anos de trabalho que promoveram mudanças estruturais na sua vida pessoal e, principalmente, nos rumos da sua trajetória profissional.

Sempre se considerou uma pessoa determinada?

Sim, eu me considero uma pessoa determinada porque eu foco muito sempre nos resultados. Eu tenho muito para mim que resultado é muito mais do que relevância. Então a determinação acho que está muito nisso. Quando a pessoa está no mundo do esporte, por exemplo, a gente vê isso muito mais explicitamente, a determinação tá muito no lugar da entrega, da performance, do resultado e no mundo artístico, até mesmo na vida, relevância é uma coisa que às vezes a gente fica procurando demais, do tipo ser reconhecido, ser respeitado, ser agraciado ou ser “likeado”, né, digamos assim, no mundo do like hoje, então o fato de eu focar muito sobre resultado, pode ser em relações. Eu quero ser teu amigo, mas que nós tenhamos um resultado na nossa relação, seja ela qual for, pode ser resultado de você poder contar comigo, mas é de fato uma relação com o resultado onde você entrega e também participa da vida da pessoa dessa maneira, nos negócios muito mais importante esse pensamento e no todo acho que determinação é você saber onde você quer chegar e eu por focar no resultado eu tô sempre no plano de determinar as coisas e não só apenas viver e ver onde vai dar.

Quando percebeu que poderia mudar sua história, passando a assessorar grandes artistas? 

Eu percebi que a minha história poderia mudar quando eu entendi a minha ambição. Sabe aquela ideia de você querer muito mais do que aquilo que está permeando ao seu redor? Então quando eu penso em querer ter carro ou querer ter um tênis legal ou querer, isso na infância, na história de vida que eu tenho com os meus pais, por exemplo, a gente teve que construir a própria casa que a gente morou e eu fui percebendo que as coisas precisam ser produzidas, elas não caem do céu, não existem sem um esforço. Então nesse lugar eu também entendi que para que eu pudesse ter alguma coisa daquelas que eu desejava, com a minha ambição, eu precisaria trabalhar para isso, construir soluções. E eu comecei a ver que isso dava certo, começando pela escola, começando lá atrás enquanto roadie e do tipo, determinava que eu queria trabalhar em tal lugar e de algum jeito eu tava lá trabalhando depois de tantos meses porque eu achava um jeito de fazer acontecer, conversando, conhecendo pessoas ou abrindo portas ou vendo quem conhecia quem e assim eu comecei a trabalhar na área de entretenimento. Um grande amigo meu me chamou para carregar caixa de som num evento e desse evento eu já percebi oportunidade de trabalhar com a banda, então eu chegava com a cara de pau e falava “eu quero trabalhar ali”. Então, assim como é para conquistar as coisas materiais, eu tive também na ambição de posicionamento profissional, só que eu fui entender que era uma estratégia natural minha anos depois, quando eu olhei para trás e comecei a enxergar resultados, tanto financeiros quanto de relação profissional e é quando me transformo ali, anos se passando, em uma pessoa que começa a agenciar os artistas, começa a dar conselhos pra artistas. Aí anos se passam, né, estou falando obviamente de 15, quase 20 anos depois de quando eu começo a carregar caixa, eu entendo que de alguma forma eu me aprimorei, não só em querer ganhar e conquistar as coisas, aonde a minha ambição me fez chegar, mas também em renovar, se preparar, se atualizar, consigo mesmo também buscando fortalecer meu conhecimento sobre coisas diversas, não apenas sobre coisas específicas. Eu tenho uma lembrança, por exemplo, eu era holding do Negritude Jr., grupo de pagode da década de 90, e eu me via ali lendo os mesmos livros que o Netinho de Paula lia, sabe. Falava de assuntos que o Wagninho e que os artistas falavam, então eu saía um pouco da casa da produção e ia para a casa dos artistas, por exemplo, enquanto influência e relação porque eu me inteirava de querer aprender coisas que eu eles já sabiam ou estavam aprendendo. Então acho que a curiosidade também me ajudou nisso. E somado tudo ao desejo de mudança eu me transformei do carregador de caixa para o empresário de articulação de negócios pra grandes celebridades hoje no mundo, mas na verdade no Brasil, mais do que no mundo.

No seu livro “Movimento, logo existo” você fala bastante sobre os movimentos que fez para fechar grandes negócios. Que movimentos você acha que são importantes que pessoas negras e de periferia façam para que possam desenvolver seus próprios negócios?

Acho que fechar grandes negócios é importante você se movimentar por conta de uma frase que eu coloco no meu livro, “a oportunidade só procura quem tá em movimento”. E quando se trata de pessoas que não tem tanta oportunidade na vida, tanto por características étnicas ou por características socioculturais, que envolve financeiro, você tá limitado de oportunidade, então você tem que se movimentar, não tem o que fazer, não tem que ficar parado esperando alguém olhar para você. Você tem que realmente mexer para cá para lá tem que ir, tem que bater nas portas, tem que ter movimento para que a oportunidade fale assim “você tá aqui”. Claro que eu entendo que uma vez também que você tem poucas oportunidades você tem dificuldade de enxergar essa condição ou essa confiança e é aonde eu proponho, porque além do se movimentar, é progredir, é crescer. Quando eu falo que o movimento é importante para você existir é se movimentar para frente, com progresso, com crescimento, pode ser de informação e conhecimento como pode ser de dinheiro e conquistas ou carreira ou estudo, mas você tem que ter esse lugar da movimentação. Na minha vida sempre foi assim. Quando eu me movimento para sentar com Jay-Z não é porque eu sou fã dele, além de ser fã dele, eu tenho que movimentar para levar algum business para ele e para levar um business para ele eu tenho que ter o que levar eu tenho que ter mexido o bolo, tenho que ter me movimentado para ter produto para isso e quando automaticamente eu sou essa pessoa que busca essa movimentação ela é uma movimentação porque a oportunidade nunca, nem hoje eu já bem sucedido, bem estabelecido, a oportunidade não chega para mim, eu tenho que mexer e criar. Uma vez eu ouvi de um grande amigo meu, João Adel, que para mim foi um dos padrinhos de negócios, ele falou assim “cara, dinheiro você não ganha você cria você cria o dinheiro”, então quando eu trago isso para as pessoas negras e periféricas, automaticamente eu estou dizendo que são pessoas com poucas oportunidades e que elas precisam criar as oportunidades, elas precisam criar as condições, e que é muito mais difícil e a única maneira realmente que eu consegui, e digo para qualquer pessoa, seja lá o que for, em qualquer área, inclusive para estudar sobre física quântica, você precisa ter um tratado com a sua estima, autoconfiança, autoestima. Autoconhecimento, ele é muito mais importante do que a ‘autopobreza’, ‘autodecepção’, ‘autodificuldade’, porque essas coisas elas não vão mudar, o mundo não vai ser bonzinho, por mais que as empresas estejam falando que agora é a hora do periférico, social dos ESGs da vida ou agora é hora do preto, do Business Black Money do Brasil esquece, esquece, esquece, esquece, esquece. Isso sim é importante, mas de fato o que a gente está dizendo é que se você não tiver a sua estima, sua autoconfiança preparada, não adianta você ter uma cadeira na maior empresa do mundo, lá você vai ser limitante e ser limitante você não traz mudança.

Foto: David Mazzo/Stylist: Salisa Barbosa

O que te movimenta hoje?

É poder dialogar, falar e expressar que nunca foi e nunca vai ser fácil. O que me movimenta hoje é ser verdadeiro, ser transparente, ser pragmático e prático. O que me movimenta hoje talvez seja o fato de eu ser e chegar no lugar de bem sucedido dizer que sou livre, livre daquilo que tecnicamente falando o mundo propõe pra que eu fique algemado, mas ainda assim preso às verdades que me trouxeram até aqui. E parte delas é, obviamente, o lugar de conhecer sobre mim, sobre meu povo, lembrar sobre a minha origem, entender de onde eu saí para onde eu estou indo. O que me movimenta é ver o meu progresso. O que me movimenta é ver pessoas progredindo comigo de alguma forma. O que movimenta é a verdade e a justiça que eu trouxe para minha vida, consegui vencer com isso e posso manter por qualquer coisa que você vem a oferecer para mim, que a vida vem jogar no meu colo, se eu tiver mantendo a verdade e a paz de espírito que até aqui eu criei isso me faz me movimentar. E parte disso é falar para jovens de periferia, é falar para mulheres de periferia, é falar para crianças, adolescentes negros que no final do dia não tem anexo no caixão, você nasce sozinho, você morre sozinho e o que a gente tem além disso são as pessoas que nos trazem à vida, que nos amam e aquelas que vão se despedir de nós, embora elas fiquem aqui a gente vai para um outro campo, um outro lugar. Então o que me motiva é poder levar essa mensagem para poder traduzir isso como importância da vida para viver, essa talvez seja a minha missão, muito mais do que ser chamado de um homem rico, bem sucedido, mas de um negro que venceu por ser Hebert Mota, por ter nome, por ser chamado pelo meu nome isso. Isso me motiva.

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