Por Kelly Baptista, diretora executiva da Fundação 1Bi
“Quais os impactos da invisibilidade de meninas e mulheres negras na tecnologia?”.
Foi esse o questionamento da Karen Santos, CEO e Fundadora do UX Para Minas Pretas, que me reacendeu um alerta.
Por aqui, já trouxemos discussões sobre o setor da Tecnologia da Informação ainda ser uma das áreas de grande desigualdade racial e de gênero em todo o Brasil. O número de pessoas brancas e homens trabalhando com desenvolvimento digital é muito maior do que a quantidade de colaboradores negros e mulheres atuantes no setor.
Embora representem quase 30% da população, as mulheres pretas ainda são minoria nas empresas de tecnologia do Brasil, ocupando apenas 11% dos cargos. Os dados estão compilados em pesquisa divulgada pela Iniciativa PretaLab, que aponta questões estruturais na base do problema.
Este cenário não é novo e foi observado em estudos anteriores da PretaLab. Entretanto, no contexto da crise atual, ele se perpetua e é reforçado. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego entre mulheres pretas em 2020, primeiro ano da pandemia, representou o dobro dos índices observados entre homens não negros.
A forma como as mulheres negras são afetadas nestes contextos as impedem de se reconhecerem tanto como criadoras daqueles produtos, quanto como consumidoras. Essa invisibilidade, que a princípio parece inofensiva, é mais um caminho para segregar pessoas negras. Enquanto os algoritmos seguirem sendo criados exclusivamente por um perfil de profissionais, haverá a exclusão daqueles que não se enquadram nas representações determinadas pelos seus comandos.
“Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma que gênero é a maneira como a classe é vivida. A gente precisa refletir bastante para perceber que entre essas categorias existem relações que são mútuas e outras que são cruzadas. Ninguém pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras.” – Angela Davis, em Mulheres, Raça e Classe.
É importante ressaltar que existem esforços contínuos de várias iniciativas para impulsionar a diversidade dentro do mercado. Nos últimos anos têm surgido coletivos e grupos com o objetivo de atrair, capacitar e servir de rede de apoio e networking para que mais mulheres negras optem por uma formação e carreira em tecnologia.
Confira algumas iniciativas:
UX para Minas Pretas
A UX para Minas Pretas é feita por e para mulheres negras e o propósito é formar, empoderar, compartilhar conhecimento e criar uma rede de apoio para aquelas que desejam ingressar ou já atuam em tecnologia com foco em UX. O programa mantém e divulga suas atividades no perfil @uxparaminaspretas no Instagram.
Vai na Web
Rede de alta tecnologia e impacto social que busca reduzir as desigualdades sociais, principalmente com relação a mulheres e jovens negros periféricos, contribuindo para o desenvolvimento da força de trabalho com foco no futuro. Saiba mais no site da iniciativa.
PretaLab
O projeto é uma iniciativa do Olabi, organização social que trabalha para trazer diversidade em tecnologia e inovação, e tem como objetivo estimular a inclusão de meninas e mulheres negras no universo das novas tecnologias. O PretaLab disponibiliza em seu site um banco de talentos com perfis e contatos de profissionais negras de diversas partes do Brasil.