Mundo Negro

Carnaval sempre foi sobre ‘macumba’

Foto: Vítor Melo

No Rio de Janeiro, das doze escolas que desfilaram no Grupo Especial nos dias 22 e 23 de abril, oito sambas-enredo foram sobre as religiões de matriz-africana.

A Acadêmicos do Grande Rio, da Baixada Fluminense, tem se mostrado a favorita entre os internautas e tem a chance de levar título inédito no carnaval carioca.

Notícias Relacionadas


O enredo “Fala, Majeté! As sete chaves de Exu”, emocionou o povo negro e do terreiro, com uma presença impecável, canto forte e muita fé envolvida, com a proposta de desmistificar a figura demonizada de Exu, associada pelos cristãos.

Entretanto, as homanagens feitas as divindades de matriz africana foram criticadas por muitos preconceituosos.

https://twitter.com/BlogPequi/status/1518339801837182976
https://twitter.com/gabrielchefe7/status/1518649325970202624

A origem do Carnaval

Em entrevista ao Mundo Negro, a diretoria da página ‘Samba Abstrato’ explica como surgiu o Carnaval e a sua relação a população negra.

“Se a gente voltar lá pro Egito, pro Kemet, os pretos já faziam uma festa anual pra celebrar as cheias do rio Nilo, pra Deusa Ísis, para celebrar a fartura, a natureza. Eles enfeitavam os barcos, criavam canções. A sabedoria de fazer essa festa, ela já é nossa há milênios e já foi embranquecida, quando na Roma Antiga, os europeus, passam a praticar essas festas como festas pagãs. Muitas pessoas vão dizer que o Carnaval é de origem europeia, quando na verdade ele é de origem africana”, explicam.

“Eu cresci numa escola de samba e que era uma coisa de preto. Onde elas estavam há 20 anos? Conforme foi melhorando o poder aquisitivo da escola, foi atraindo essas pessoas e tudo bem porque as culturas pretas são culturas de aproximação e de coparticipação mas a gente sabe que a branquitude não sabem participar, eles tomam pra eles”, explica um dos membros, com três gerações de família em uma escola de samba de São Paulo e Mestre em Linguística.

Esse momento marcante foi muito bem visto pelos religiosos. O professor Luiz Rufino, publicou um poema sobre o que é Exu e o papel importante da Grande Rio. Em um trecho ele cita que a escola “assumiu Exu como o texto seminal que nos possibilita outras rotas de vida, alegria e liberdade sacudindo o quebranto do esquecimento imposto por um modelo de mundo que se quer único”.

https://twitter.com/NossosOrixas/status/1518124200212549632

“Exu é uma divindade complexa, é energia circular e infinita, movimento, luta, insubmissão, mudança, que se transforma em incontáveis entidades e que tem muito a ver com a nossa ancestralidade. Mas que é visto com restrição por muita gente. O enredo deste ano, como dos anteriores, visa a desconstruir essa imagem estereotipada, o racismo religioso, a intolerância e a demonização de religiões como o candomblé, a umbanda e as macumbas. Por isso, as sete chaves, para abrir o conhecimento sobre Exu”, disse o carnavalesco Gabriel Haddad ao G1.

Emocionado, o cantor Carlinhos Brown, um dos compositores da escola Mocidade Independente, em entrevista a TV Globo, disse que os enredos deste ano foram escritos pelos orixás. “Desde (os anos) 80, eu nunca vi nada tão sincronizado”.

O enredo escrito pelo Carlinhos Brown, “Batuque ao Caçador”, foi uma homenagem a Oxóssi, orixá regente da Mocidade. A escola teve problemas técnicos, que atrapalhou a evolução da apresentação, e ainda sim teve um desfile impactante e com belas fantasias.

O significado originário de macumba é o nome de um instrumento de percussão africano e o samba surgiu dos batuques feitos pelos africanos escravizados no Brasil. Sendo assim, o carnaval sempre foi ‘da macumba’, já que assim continuam a chamar erroneamente, demonizando as religiões afros.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

Sair da versão mobile