Caetano Veloso e os evangélicos negros

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Caetano Veloso e os evangélicos negros
Foto: Reprodução/Instagram

Texto: Luciano Ramos 

A primeira vez que ouvi a música “Deus cuida de mim” na voz de Caetano Veloso e do pastor Kleber Lucas eu fui tomado por um misto de críticas, estranhamentos. Todavia, como alguém que tem um estranho e profundo amor por Caetano Veloso, eu fui tentar entender o que ele queria dizer por trás daquelas letras cantadas, mas não só pelos versos, mas por sua decisão política de cantar aqueles versos. Fui tentar conhecer melhor Kleber Lucas, que por ignorância, eu desconhecia. Ali, eu descubro um homem preto, líder religioso evangélico que prega um Jesus para todos. Sobretudo, como ele mesmo diz, para os imperfeitos. Ali, eu fui começando a entender a mensagem de Caetano. 

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Em seguida, eu quis entender mais sobre o percentual de evangélicos no Brasil. Segundo o Jornal da USP, em 2023, a cada 03 brasileiros, 01 se identifica como evangélico. Segundo a Revista Veja, por meio de pesquisa realizada pelo DataFolha 59% dos evangélicos são negros. Quando vejo esses dados, eles me ajudam a entender, ainda mais a mensagem de Caetano. As canções do filho de Dona Canô, sejam as compostas por ele, quanto as interpretadas, sempre buscaram fazer o Brasil se conectar com o Brasil mais profundo.

Na atual turnê de Caetano Veloso e de Maria Bethânia, ele, mais uma vez, surpreende. Caetano coloca a canção religiosa de Kleber Lucas. Provavelmente, a música menos cantada do show e que recebeu muitas críticas. Mais uma vez eu fiquei tentando entender os sinais “caetaneanos” em volta disso. E eles vieram quando no show de Salvador, eu me deparo com a imagem que rodou o Brasil de um trabalhador do show, um homem preto, cantando atento e com muita fé a canção. Ali, para mim estava a mensagem que confirmava todas as outras mensagens. 

Para um homem de Xangô e Oxum, como eu sou, olhar para tudo isso a partir de outra fé, que não é a minha, foi importante e desafiador. Também, não é a fé de Caetano. Porém, ele que sempre foi alguém antenado com seu tempo e o seu Brasil, mais uma vez nos convida a fazer o mesmo. Aqui não desprezamos, ao contrário, repudiamos o quanto o fanatismo religioso de parte dos cristãos, sejam evangélicos ou católicos, chega a matar os que professam fé diferente das que eles expressam. Todavia, olhar para esse Brasil real é tentarmos não perder os nossos. Ainda que eles professem uma fé diferente da nossa, eles são os nossos irmãos. Aproximarmo-nos, seja por meio da música, que é um passo pequeno, mas necessário ou das pautas que apontam para as convivências religiosas (aqui não vou usar o termo “tolerância religiosa”, pois ele não me agrada.), se mostra um movimento preciso, uma vez que os dados apontam quem são as pessoas que estão ali: homens e mulheres negros e negras. 

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