Cadê os Yanomamis? A comunidade Aracaçá, na terra indígena Yanomami em Roraima, foi encontrada completamente queimada e sem ninguém, na semana passada, depois das denúncias de uma menina de 12 anos da comunidade que foi estuprada e morta por garimpeiros que atuam na região, separados por um rio.
A denúncia veio à tona no dia 25 de abril. Dois dias depois, agentes da PF, acompanhados de representantes da Funai (Fundação Nacional do Índio) e do Ministério Público Federal (MPF) foram até a comunidade investigar o caso.
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Em nota conjunta divulgada na tarde de quinta (28), afirmam não ter encontrado nenhum vestígio de crime de homicídio e estupro. Também não há indícios da morte de outra criança, de 4 anos, que teria desaparecido em um rio, após cair do barco dos garimpeiros.
Mas, informaram que continuarão com a apuração porque as “diligências demonstraram a necessidade de aprofundamento da investigação, para melhor esclarecimento dos fatos”.
Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY,) acompanhou as autoridades no local e publicou um vídeo nas redes sociais dizendo que recebeu relatos das violências, praticadas por garimpeiros ilegais que invadiram o território na região de Waikás, próximo de Aracaçás.
Junto com a equipe, Hekurari pousou por lá, e encontraram alguns indígenas, que não quiserem falar muito a respeito.
“Após insistência, alguns indígenas relataram que não poderiam falar, pois teriam recebido 0,5 gramas de ouro para manter o silêncio. Relataram ainda que outros crimes já aconteceram na região e que recentemente um recém-nascido foi levado para a capital, Boa Vista, por um garimpeiro que alegava ser pai da criança”, diz o comunicado do Condisi-YY.
“Esses indígenas foram coagidos e instruídos a não relatar qualquer ocorrência que tenha ocorrido na região, dificultando a investigação da Polícia Federal e Ministério Público Federal, que acabaram relatando não haver qualquer indício de estupro ou desaparecimento de criança”, diz um trecho do comunicado.
No dia seguinte, quando a equipe chegou em Aracaçás, não encontraram os indígenas e uma das casas estava queimada. E no mesmo dia em que a PF foi ao local, um representante dos garimpeiros divulgou um áudio falando que a “paciência acabou” e que “vão responder igual” acerca de denúncias contra eles.
Por ali, viviam cerca de 25 pessoas. Mas outra hipótese levantada de acordo com as lideranças indígenas consultas pelo Condisi-YY, esses povos têm a tradição de queimas e evacuar o lugar onde moram quando morre um parente.
O relatório “Yanomami Sob Ataque: Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami e Propostas para Combatê-lo”, divulgado no mês de abril pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), já alertava para o risco de desaparecimento de Aracaçá devido a forte presença de exploradores ilegais.
O documento diz que o garimpo ilegal avançou 46% entre 2020 e 2021. Se comparado o período de 2016 a 2020, o aumento foi de 3.350%.
Também foi apontado que extração ilegal de ouro e cassiterita na terra indígena provocou uma explosão dos casos de malária e de outras doenças infectocontagiosas e um aumento da contaminação por mercúrio dos rios.
Situações de estupro de crianças e mulheres da reserva foram citadas no relatório, após os garimpeiros embriagarem pessoas das comunidades, inclusive usando a troca de alimentos.
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