Mundo Negro

BRASILIANO: Filhos do Sol — Dendezeiro Celebra o Sertão em Moda e Resistência

Foto: Marcelo Soubhia

A nova coleção da marca baiana resgata a essência sertaneja com cores vibrantes, técnicas artesanais e uma estética que exalta a força e a beleza do nordeste brasileiro.

Texto: Rodrigo França

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A coleção “BRASILIANO: Filhos do Sol”, da Dendezeiro, é uma ode ao sertão brasileiro, uma terra de resistência, calor e histórias centenárias que se entrelaçam com a modernidade e a inovação. A passarela da SPFW foi tomada por uma celebração vibrante da moda regional, onde o streetwear encontra a alfaiataria em um diálogo que honra a tradição enquanto desafia o conservadorismo estético. Sob a direção criativa de Hisan Silva e Pedro Batalha, a marca baiana trouxe à tona a força do sertão, ressignificando o espaço árido como um solo fértil de criações inéditas e narrativas de força e superação.

Dendezeiro na SPFW N58. (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Em termos técnicos, a coleção se destacou pelo uso de tecidos de fibras naturais, uma escolha consciente que vai além da estética, reafirmando o compromisso com a sustentabilidade e com o respeito à matéria-prima local. A utilização de trançados de palha e miçangas, executados por artesãos da região, foi um aceno ao trabalho manual, elemento essencial na construção de uma moda genuinamente brasileira e artesanal – arte. As modelagens apresentaram cortes amplos e estruturas fluidas, remetendo à leveza necessária para enfrentar o calor sertanejo.

Dendezeiro na SPFW N58. (Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite)

Os looks da “BRASILIANO: Filhos do Sol” não se limitaram a reproduzir símbolos óbvios do sertão, mas criaram uma nova iconografia a partir de detalhes que evocam memórias afetivas e cotidianas. As estampas foram inspiradas na fauna e flora do sertão, presentes em peças que variaram de conjuntos de alfaiataria reinterpretados a vestidos, todos marcados por uma paleta terrosa que ia do marrom profundo ao bege suave, passando por tons quentes de vermelho e laranja, símbolos da conexão visceral com a terra. Em paralelo, o preto surgiu como um elemento de contraste, trazendo profundidade e uma dose de sobriedade aos conjuntos.

A poesia da coleção residiu não apenas nas referências literárias a obras como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, mas na narrativa visual que se apresentou na passarela. O desfile foi, em si, uma espécie de cordel moderno, onde cada peça era um verso e cada modelo, um contador de histórias.

Dendezeiro na SPFW N58 (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

O uso de técnicas como o tingimento natural, o bordado manual e o crochê agregaram texturas únicas às peças, trazendo para a moda uma dimensão tátil que convida ao toque e à exploração dos sentidos. As miçangas e palhas trançadas surgiram como ornamentos, mas também como agentes narrativos, carregando consigo histórias de gerações. Essas técnicas destacam a identidade visual da marca, conhecida por inserir elementos de cultura popular brasileira de maneira refinada e contemporânea. Ao misturar a alfaiataria clássica com o streetwear despojado, a Dendezeiro conseguiu traduzir a complexidade do sertão em roupas que são ao mesmo tempo atemporais e contemporâneas, prontas para ocupar espaços urbanos sem perder o vínculo com a origem.

O desfile foi um verdadeiro espetáculo de identidade e potência cultural. As peças apresentadas na SPFW não foram apenas roupas; foram manifestos visuais, gritos de resistência, em um mundo que ainda tenta silenciar as vozes vindas do sertão. Os filhos do sol, como os carcarás mencionados na descrição da coleção, não voam apenas com fome de conquista, mas com a sede de espalhar a verdade do sertão pelo mundo. A moda, aqui, é mais do que estética: é instrumento de voz, de representatividade e de afirmação cultural.

Dendezeiro na SPFW N58. (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

A marca não apenas mostra o sertão, mas nos convida a senti-lo, a vestir suas histórias e a carregar no corpo a força de um povo que, debaixo do sol inclemente, jamais deixa de florescer. Assim, “BRASILIANO: Filhos do Sol” não é apenas uma coleção; é uma canção, uma jornada e, acima de tudo, uma declaração de amor à terra que, mesmo seca, é berço de uma criatividade sem fim.

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