BNDES cria Grupo de Trabalho Negro para promover a equidade racial e transformação da economia

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BNDES cria Grupo de Trabalho Negro para promover a equidade racial e transformação da economia
Foto: Rossana Fraga/Divulgação BNDES

Na última terça-feira (23), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com apoio da Open Society Foundations, realizou o Seminário Empoderamento Negro para Transformação da Economia, onde o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, assinou uma portaria que instituiu um Grupo de Trabalho Negro para a Transformação da Economia. 

A formação do grupo tem como objetivo propor medidas que fortaleçam a equidade racial no BNDES. O grupo de trabalho é formado por 14 empregados do órgão público e terá entre suas atribuições acompanhar a elaboração e execução de um novo censo para identificar a composição étnico racial dos empregados do BNDES, além de propor medidas que tenham como objetivo impulsionar a diversidade, equidade e inclusão de pessoas negras no ecossistema do banco.

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Outro ponto a ser trabalhado pelo grupo será a apresentação de propostas que adequem a atuação do BNDES a legislações ligadas à Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância e o Estatuto da Igualdade Racial. 

Ao abrir o evento, Mercadante destacou que: “Essa é a primeira iniciativa para tratar o tema da igualdade racial, do empoderamento dos negros, do combate ao racismo, da diversidade e da inclusão racial na história de 71 anos do BNDES”, disse ele, se desculpando pelo que chamou de “silêncio histórico”.

O evento também discutiu a Lei de Cotas e as ações de equidade racial encabeçadas por empresas de modo voluntário no Brasil. Com a presença do embaixador da África do Sul, Vusumuzi W. Mavimbela, o seminário também destacou a Política de Black Economic Empowerment do país como uma referência para o Brasil ao avaliar a evolução das empresas em relação à equidade racial em cargos de chefia e no quadro de funcionários das empresas em território sul-africano.

“Seguramente serei bastante criticado, nós seremos a partir de hoje, mas faço questão de ter essas críticas no meu currículo. Nós precisamos abrir essa porta, acabar com o silêncio sobre a questão racial no Brasil e hoje é um dia para esse banco liderar pelo exemplo. Nós temos que fazer na casa o que nós queremos que os outros façam”, pontuou Mercadante. 

“Próximo dia 20 de novembro, data de Zumbi, vamos lançar um documento para incluir nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) a questão do racismo. Queremos colocar essa agenda em discussão na ONU”, adiantou o presidente do BNDES, afirmando que a agenda precisa estar em discussão na Organização das Nações Unidas.

O Presidente dos Conselhos Deliberativos (CEDRA) e da Oxfam Brasil, Hélio Santos comentou sobre o papel do capital frente à equidade racial. Ao iniciar sua fala, ele lembrou a medida de Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, que em 1891 decidiu trazer imigrantes europeus e determinou que estes deveriam ser bem tratados. O que não aconteceu com os negros e fundamenta as desigualdades raciais e sociais no Brasil. “Temos que customizar as coisas para o Brasil”, destacou ele chamando a atenção de Mercadante para a necessidade de olhar para os problemas sociais do país considerando os mecanismos de desigualdade que foram estabelecidos ao longo da história. “Não adianta, presidente Mercadante, a vestimenta da Noruega ou da Bélgica para o Brasil porque eles não tiveram três séculos e meio de escravismo e nenhum Fonseca, imagine dois. Essa é a diferença desses lugares”.

Ele também pontuou que “o empreendedorismo negro não pode ser visto como uma iniciativa liberal atrasada, como alguns setores do próprio movimento negro vê. Aqui, o empreendedorismo deve ser visto como um forte fator democrático”. E ressaltou que o BNDES deve investir no desenvolvimento tecnológico avançado em concomitância com o investimento na equidade racial.

O evento também realizou o lançamento da Iniciativa Valongo, que terá coordenação executiva do BNDES. O Cais do Valongo foi o maior porto receptor de escravizados do mundo. O Cais foi encontrado em 2011 durante escavações feitas para a reforma da zona portuária do Rio de Janeiro e recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO em 9 de julho de 2017 por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas. 

Mercadante afirmou que o BNDES vai destinar um aporte de R$ 10 milhões para fortalecer o Museu do Valongo e o movimento que luta para preservação do local. “Nosso desafio é organizar a resistência da memória que está lá para fazer coisas que agreguem, que acrescentem e ampliem”, destacou ele. 

O presidente da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues, a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco e a Ministra da Cultura, Margareth Menezes estiveram no evento e participaram da cerimônia de encerramento.

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