Texto: Nadja Pereira
Jeremy K. Simien, colecionador de arte e historiador, se deparou online com uma versão da pintura com o menino e a achou parecida com as obras do renomado artista holandês, Jacques Amans (1801-1888). No entanto, ao fazer outra busca, encontrou uma nova versão do quadro sem o menino e coberto de forma amadora, como se houvesse uma sombra ao seu redor. Isso o deixou intrigado.
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A saga do quadro é bem complexa. O quadro estava em uma garagem da família Grasser que doou a obra para o Museu de New Orleans em 1972. Porém, a pintura continuou nos porões da história, desta vez dentro do museu que o deixou de lado por 32 anos. Depois, o NOMA adquiriu a obra e a vendeu por apenas 6 mil dólares para um colecionador que restaurou a obra e restaurou a presença do menino negro no quadro. Em 2021, Jeremy K. Simien adquiriu a pintura, mas não se sentiu satisfeito até restaurar novamente o quadro e descobrir a história do menino.
Com a historiadora Katy Shannon, especialista na história de negros escravizados de Louisiana, ela encontrou o Bélizaire. Ele provavelmente era uma “criança de companhia” da família de Coralie D’Aunoy Frey, em 1830. A matriarca dona de escravos estava na árvore genealógica da família Grasser. A partir destas informações, a historiadora descobriu que Bélizaire foi vendido com sua mãe, Sally, em 1828. Após a morte do patriarca da família, Bélizaire fora vendido para uma plantação em 1856. Possivelmente nesse momento da história, ele foi apagado do retrato da “família”, como relatou Craig Crawford, restaurador importante que trabalha no quadro.
Infelizmente, a história do Bélizaire acaba em 1861, ano do início da história civil americana e a sua trilha não é encontrada em nenhum registro do país – ao menos até agora. Mas como o Jeremy relata, “Agora sabemos o seu nome, a sua jornada, e isso é incrível”. Apesar da saga, a história tem um final feliz, o quadro foi recentemente adquirido pelo MET, Metropolitan Museum of Art.
E é por isso que o nome dele precisa ser ressaltado tantas vezes, assim como você viu no texto. Isso mostra a importância histórica de um registro dos negros escravizados, uma lição para o Brasil que queimou propositalmente parte do seu acervo. Mesmo com uma pintura de mais de 100 anos, Bélizaire agora tem um nome, uma imagem e uma história.
Fontes:
As imagens são do jornal New York Times.
O New York Times fez uma reportagem de 9 minutos contando a história. É possível ativar as legendas em português.
Bélizaire and the Frey Children – Wikipedia
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