Ele se tornou o queridinho das tardes de domingo do Instagram com suas lives sobre os orixás. Didático, carismático, falastrão e avesso à tecnologia, o babalorixá e doutor em antropologia Rodney William normalmente acessa a internet com um único propósito: combater o racismo religioso e pra isso procura quebrar preconceitos, ressignificar o candomblé e compartilhar uma nova epistemologia para as deusas, deuses e rituais afro todos os dias.
Premiado pelo pelo Mipad/ONU como uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo e autor do livro “Apropriação Cultural” da coleção Feminismos Plurais liderada pela sua filha de axé Djamila Ribeiro, o escritor Rodney conversa com quem entende ou não de candomblé, sempre às 16h.
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Oxum, pra muito além de toda vaidade, nos é apresentada por ele como a grande dama estrategista da sociedade que “com um espelho na mão, vence uma guerra”, já Oyá, “dona do próprio destino”, entre inúmeras possíveis faces assume a das mulheres negras e mães que lutam para criar suas filhas e filhos diariamente e está presente na imagem das mulheres escravizadas, guerreiras e incansáveis da nossa história. É como se em cada mulher pudesse conter um pouco de cada uma delas. E contém. O que já desfaz o mito de que cada orixá tem um arquétipo único, imutável e que deve ser seguido à risca.
Aliás, derrubar mitos e lendas infundados e preconceituosos é uma das missões do antropólogo que também escreveu “A Benção Aos Mais Velhos” e “Palavras de Axé: Fé, Esperança e Coragem”.
Nas palavras de pai Rodney, por exemplo, Ogum abarca não só a guerra como a tecnologia e Exu, “o maior comunicador do universo”, definitivamente se distancia daquela figura diabólica perpetuada ao longo de anos pelo senso comum racista. Aqui, Exu é o orixá inspirador, desafiador, com uma figura assexuada apesar de fálica, cheia de axé e do poder de realizar, como ele ensina no curso.
Pai Rodney William ainda nem chegou na metade do xiré, e já ganhou um canal no youtube e em breve um site. E é preciso que enfatizemos novamente que o babalorixa odeia tecnologia.
A pandemia acabou transformando todas as relações, e é justamente a tecnologia que surge no caminho dele como uma ferramenta indispensável pra diminuir a distância, combater o racismo e, mais que isso, não deixar ninguém desamparado.
“Eu não sei mexer com nada disso. Não gosto e sou uma negação com tecnologia, mas tento, tenho filhas e filhos que me ajudam muito e o Fábio Magri, o assessor do Ilê, que e é muito antenado com essas coisas. A gente tem que se reinventar, né?”.
As consultas passaram a ser por videoconferência, os ebós à distância e, atendendo a pedidos, o Sabejé que normalmente incluía um ritual para angariar doações em plena Avenida Paulista deu lugar às doações virtuais com os pedidos feitos por ele em nome de quem precisava numa celebração pequena, apenas com a família, no terreiro que fica em Mairiporã, região metropolitana de São Paulo.
“Sempre serei grato pela presença de Omolu em minha vida. Mesmo na pandemia, cumprimos nossos ritos e o mês inteiro foi dedicado a ele. No Sabejé desse ano, mais de 500 nomes foram lembrados em nossas orações, pedimos por todos e confiamos que todos receberão as graças de que necessitam. Que venha a cura, que todos os males e dores sejam varridos de nossas vidas.”.
Seguindo esse novo padrão que afasta para proteger, a tradicional imersão anual em Exu também ganhou uma versão online e uma turma apenas não foi o suficiente, lotou em 24 horas e ele se viu obrigado a abrir outra.
“Quem me conhece sabe da minha relação de intimidade com Exu. Eu poderia dizer que eu sou um sacerdote de Exu, que sou um estudioso de Exu, mas, na verdade, eu sou um grande devoto de Exu. Dividir um pouco dessa experiência que tenho com Exu, eu acho que é uma forma de demonstrar a profundidade desse orixá, o poder que esse orixá tem e testemunhar o quanto a gente pode construir uma vida mais feliz, mais próspera e mais cheia de alegrias e realizações. A gente precisa concretizar as coisas em nossas vidas e eu acho que Exu é o orixá que nos ajuda a concretizar.”
A ideia principal é que a imersão, como o nome já diz, seja um espaço, apesar de online, intimista para não perder nada do que o presencial poderia oferecer. E todo mundo que participa do curso entende porque menos é mais no número de pessoas, uma vez que o sacerdote faz questão de responder olho no olho a cada uma das dos alunos mesmo que isso signifique alterar o encerramento da aula. A primeira turma acabou às 20h, duas horas a mais que o combinado.
O ambiente virtual dinamizou o processo da imersão e possibilitou, por exemplo, que sua primeira turma fosse ocupada em sua maioria por pessoas de fora do eixo Rio-São Paulo, principalmente da Bahia.
O aulão do próximo sábado vai ser o último sobre Exu do ano. Pai Rodney sai de férias logo em seguida e, na volta, já tem um curso sobre Iku na agenda. Dessa vez, em parceria com o cientista social Fabio Mariano, professor da PUC-SP. Os dois fecharam o curso também atendendo a pedidos depois que fizeram uma live juntos sobre o tema que está disponível no canal Rodney William do Youtube.
E nesse domingo às 16h, como não poderia deixar de ser, tem live: ele prometeu fechar o mês falando novamente sobre Omolu, o orixá celebrando durante todo o mês de agosto.
Sobre o professor
Rodney William Eugenio é babalorixá, antropólogo, doutor em ciências sociais pela PUC SP. Colunista da revista Carta Capital e autor dos livros “A Benção aos Mais Velhos: Poder e senioridade nos terreiros de candomblé”, “Palavras de Axé” e “Apropriação Cultural”. Em 2019, foi premiado pelo Mipad/ONU, como uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo. É sacerdote no Ilê Obá Ketu Axe Omi Nla.
Serviço
A imersão será no próximo sábado, dia 29/08, online.
Inscrições:
https://forms.gle/Dq9ZRqEMA79Gx6sF6
Investimento: R$350,00
Horário: 14h às 18h
Plataforma: Zoom Meetings
Canal no Youtube:
https://www.youtube.com/channel/UCJkR8T3KmvsQJpn7MLMPW0w
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