Mundo Negro

Artistas brasileiros constroem uma linguagem e estética únicas do afrofuturismo

Foto: Reprodução - Capa do EP "Pirarucool, lançado por Gaby Amarantos em 2003

Texto: Ale Santos

Você já deve conhecer o Afrofuturismo graças aos filmes do Pantera Negra, ​​o primeiro é uma obra que revolucionou a representação negra no cinema, abraçando o afrofuturismo de forma inovadora. Ele nos apresenta Wakanda, uma nação africana tecnologicamente avançada que, ao mesmo tempo, honra suas raízes e tradições ancestrais. Essa fusão entre os elementos tecnológicos, principalmente a abordagem da ficção científica com o ancestral é a essência do afrofuturismo, reescrevendo narrativas dominadas por perspectivas eurocêntricas com nosso próprio olhar. 

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O que talvez você não tenha reparado é que existem, mais e mais versões desse afrofuturismo, produzido com o olhar das populações negras brasileiras que difere bastante da comunidade negra estadunidense, principalmente no aspecto fantástico: Enquanto povos negros dos EUA precisam olhar para um Egito idílico em inúmeras obras para reconstruir sua ancestralidade, temos, no Brasil, as tradições e matrizes africanas vivas como no Candomblé e o culto aos orixás, sem contar as manifestações culturais que culminaram no nosso Samba, Axé e tantas outras características próprias nossas que estão ajudando a construir uma estética afrofuturista poderosa. 

A escritora de ficção afrofuturista, Sandra Menezes é simplesmente a primeira mulher preta afrofuturista a lançar um romance literário e ser finalista do Jabuti, o maior prêmio da literatura nacional, ela fala sobre essa relação íntima com a realidade do Rio de Janeiro em suas obras. “eu procuro já colocar as minhas próprias subjetividades. Sou uma mulher brasileira criada no Rio de Janeiro, no subúrbio, no zona norte do Rio de Janeiro. Então, eu tenho uma intimidade, diária, com vários tipos de universos que compõem uma história. Eu acho que cada um, dependendo da sua sensibilidade, das suas subjetividades, como brasileira, eu procuro colocar nas histórias de afrofuturismo as visões, as questões e as vivências que eu tenho no meu lugar.”

Sua obra mais celebrada, O Céu Entre Mundos, é descrita como  um romance para ter notícias de quem veio antes de nós, pessoas cujas existências já eram futuristas no passado, pois pavimentaram estradas para que nós caminhássemos. 

Do outro lado do Brasil, cresce um movimento afrofuturista Amazônico, do qual tenho o prazer de presenciar. Na maior floresta tropical do mundo onde os povos negros e indígenas cruzam suas histórias e suas vivências, temos encontrado expressões próprias do contexto da tecnocultura local. Eu sempre cito as representações afroamazônicas presentes na música e nos clipes da Gaby Amarantos como ícones desse afrofuturismo da floresta. Uma das melhores formas de entender essa conexão é o PiraruCool, referência a um peixe muito presente na culinária regional. 

GC, um artista visual desse movimento do afrofuturismo amazônico contou um pouco dessa conexão com a ficção e a floresta. 

“Cresci ouvindo músicas de tecnobrega sem saber, e quando comecei meu trabalho como artista visual, a aparelhagem do “crocodilo prime” na época, estava ganhando espaço na cena musical de Belém. Então é uma questão de fascínio e lembrança dos jacarés quando vi pequeno, da música que sempre acompanhou minha vida e da tecnologia que está presente nas aparelhagens.”

Sua obra mais reconhecida é chamada de Príncipe Crocodilo Negro, que é exatamente uma das aparelhagens mais famosas da região. 

Acredito que temos muitas oportunidades de reimaginar com contexto próprio esse afrofuturismo, as oportunidades são infinitas, porque a história dos povos negros no território Brasileira é extremamente rica, em cada canto do país de Salvador à Minas Gerais ainda temos muito para nos inspirar na construção dessas histórias. Em meu recente livro, A Malta Indomável eu trouxe pro universo juvenil um pouco do que chamei de Hypercongado, com elementos também de cyberpunk esse livro é carregado de onças místicas, carros hipervelozes e um contexto escolas que muitos adolescentes pretos das periferias podem se identificar. 

Ainda existem inúmeros outros artistas visuais e escritores que estão contribuindo para essa construção do movimento afrofuturista brasileiro, alguns já são considerados até clássicos na literatura. Fica aqui meu convite para que vocês, interessados em afrofuturismo procurem os nomes que mais se conectam com suas regiões e tragam visões maiores para além dos super heróis da Marvel. 

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