O Festival Gastronomia Preta 2024 promete uma celebração cultural e culinária de grande impacto, reunindo renomados chefs, expositores e profissionais do setor de alimentos e bebidas no Parque Glória Maria, no Rio de Janeiro, nos dias 23 e 24 de novembro. Em sua segunda edição, o evento é idealizado pelo professor e pesquisador Breno Cruz, que, com uma trajetória pautada pela inclusão e fortalecimento da comunidade preta, visa transformar o cenário da gastronomia brasileira ao dar voz e visibilidade a profissionais que compartilham suas raízes e riquezas culturais.

O festival é gratuito e trará uma programação rica, com destaque para a Cozinha Show Benê Ricardo, espaço onde chefs como Danilo Parah, Vanessa Rocha e Gizele Martins realizarão demonstrações ao vivo de receitas que exaltam a diversidade da culinária preta. Além disso, a Praça de Alimentação contará com mais de 25 barracas oferecendo desde pratos tradicionais, como acarajé e feijão tropeiro, até opções veganas e sobremesas. Uma novidade é a participação exclusiva de expositores pretos, pardos e afro-indígenas, um dos pilares do festival que, em 2023, gerou um impacto econômico de mais de 1,1 milhão de reais para a economia fluminense.

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A Chef Kátia Barbosa – Foto Divulgação

O Prêmio Gastronomia Preta, que será entregue no dia 24 de novembro, às 15h45, é outro destaque. Em sua terceira edição, o prêmio visa reconhecer não só chefs de cozinha, mas todos os profissionais que tornam uma experiência gastronômica completa, como atendentes, fotógrafos e até merendeiras – uma categoria que, para Breno, é essencial. Ele acredita que a comida escolar carrega tanto valor quanto os pratos servidos nos melhores restaurantes, uma reflexão que faz parte de sua trajetória em prol da valorização de cada ponto da cadeia gastronômica. “Atrás do chef tem uma super equipe de cozinha. Atrás do maitre, tem uma super equipe de atendimento. Ou seja, é mais que cozinha”, destaca Breno.

O evento também se conecta ao Pretonomia, curso de extensão universitária criado por Breno para capacitar e empoderar pessoas pretas e pardas em situação de vulnerabilidade. Com o apoio do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) e do Rio Othon Palace, o curso oferece a esses profissionais uma oportunidade de inclusão no mercado de trabalho, sem focar apenas na formação técnica, mas no fortalecimento de uma rede de apoio. “Discutir raça na Gastronomia é extremamente importante. O Pretonomia tem como lema ‘Somos porque Somos’ porque não é sobre mim; é sobre nós”, enfatiza Breno, reforçando que o curso é um pilar fundamental para o festival, gerando impacto duradouro e visibilidade para jovens talentos.

Fotos: Divulgação

Em entrevista concedida à nossa editora Silvia Nascimento, Breno Cruz compartilhou os desafios e a visão por trás do festival:

Breno, o Festival Gastronomia Preta foi idealizado como uma forma de valorizar a culinária preta e seus profissionais. Quais foram os maiores desafios, tanto financeiros quanto logísticos, que você enfrentou para concretizar essa ideia, e como tem sido a recepção do público até agora?

Breno: “Aquilombar é preciso, mas vivemos num país de modismos e que principalmente é estruturalmente racista. Por mais que trabalhemos dia e noite para fazer um lindo evento no mês da Consciência Negra, muitos são os desafios – a começar pelo patrocínio. Quando dei start nessa ideia, não imaginei que poderia crescer da maneira que cresceu. Pensei, inicialmente, numa feira de expositores – mas quis fazer isso com a grandiosidade do nosso povo e por isso coloquei a palavra Festival. E não é que deu certo? Me assustei quando em 2023 as pessoas me paravam no Festival dizendo que vieram de outros estados. Foi um sonho que trabalhei para acontecer, mas que verdadeiramente não imaginei que se tornaria tão grande.

O Prêmio Gastronomia Preta, que já está na sua terceira edição, abrange diversas categorias que vão além da cozinha, como Merendeira e Fotógrafo. O que motivou a criação de um prêmio tão plural e quais os impactos que você espera com essa diversidade de reconhecimento?

Eu não sou chef de cozinha – nem da minha casa. Meu sobrinho é que manda na cozinha aqui de casa e pensar no Prêmio Gastronomia Preta olhando a cadeia como um todo faz parte da minha trajetória profissional. Embora eu seja professor em um Bacharelado em Gastronomia na UFRJ, toda minha formação é em Administração – só fugi um pouquinho no Pós-Doc que fui para a área de Comunicação. Por ser da Administração, eu vejo a Gastronomia como uma cadeia; e, principalmente, a experiência gastronômica não se resume na comida. Em 2020, realizei uma pesquisa com os 10 melhores restaurantes classificados no Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) no Tripadvisor e sabe qual foi a primeira variável nas avaliações? O atendimento.

Foto: Divulgação

Você também é professor na UFRJ e criou o curso de extensão Pretonomia, voltado para a capacitação de pessoas pretas e pardas. Poderia nos contar mais sobre a importância desse projeto para o desenvolvimento desses profissionais e como ele se integra ao Festival?

O Pretonomia para mim é uma cura após tantos processos doloridos na minha trajetória profissional. Discutir raça na Gastronomia é extremamente importante. O Pretonomia tem como lema o ‘Somos porque Somos’ porque não é sobre mim; é sobre nós. Elas, alunas, saem de lá fortalecidas e empoderadas, e vê-las assim empodera a mim e a minha equipe e parceiros. No Pretonomia, que tem o apoio do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) e do Rio Othon Palace, não temos a pretensão de formar cozinheiros. Nossa pretensão é acolher e empoderar.

O Festival deste ano conta com uma programação ampla, incluindo a Cozinha Show Benê Ricardo e a Feira Gastronômica. Quais são as suas expectativas em termos de impacto econômico e cultural para a cidade do Rio de Janeiro?

Em 2023 o impacto econômico do festival pelas nossas estimativas foi algo superior a 1,1 milhão de reais. O impacto social do Festival se conecta com o Pretonomia visto que os empreendedores que expõem no evento, na grande maioria, estão em situações econômicas desfavoráveis. Mas eles aprendem conosco, trocam ideias; e criamos uma rede muito potente de ajuda mútua.”

Como pesquisador e defensor de uma gestão socialmente responsável, que mensagem você deixaria para os profissionais de gastronomia que desejam implementar práticas mais inclusivas e responsáveis em seus negócios?

Para os gestores eu uso a palavrinha da moda – mas não por estar na moda, mas porque para mim cada vez mais na Gastronomia isso tem que ser implementado na prática: EMPATIA. Antes de pedir para um funcionário dobrar no restaurante; antes de marcar folgas em dias diferentes da semana sem que a pessoa possa se planejar; ou, gritos e desrespeitos, é importante o gestor se questionar: ‘e se fosse comigo, eu gostaria de ser tratado assim?’

Serviço do Festival Gastronomia Preta 2024:

Data: 23 e 24 de novembro de 2024
Horário: Das 10h às 18h
Local: Parque Glória Maria, Rua Murtinho Nobre, 169, Santa Teresa – Rio de Janeiro, RJ
Entrada: Gratuita, sujeita à lotação
Atrações: Cozinha Show Benê Ricardo, Praça de Alimentação, shows de samba, Feira Gastronômica, Prêmio Gastronomia Preta
Mais informações: gastronomiapreta.com.br
Redes Sociais: @festivalgastronomiapreta

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