Mundo Negro

Após caso de racismo na escola mãe e filha reforçam autoestima negra em ensaios fotográficos

Imagem/Instagram

Crianças vítimas de racismo na escola podem se tornar adolescentes retraídos ou agressivos e posteriormente adultos com autoestima baixa. Se depender da analista de crédito, Daiane Braz, mãe da garotinha Clara Larchete (8 anos) nenhuma das opções citadas será o futuro de sua filha. 

O perfil no Instagram de Clarinha é o retrato da busca pelo fortalecimento da subjetividade feminina negra na infância, com ensaios inspirados em personalidades que são referenciais de inteligência, liderança e força. Maju Coutinho, Conceição EvaristoMalala Yousafzai e até o astro do rock David Bowie ganharam releituras nos ensaios protagonizados pela menina de sorriso afável. 

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Daiane, a  principio não soube lidar com a violência racial sofrida pela filha: “A gente conversou com ela. Explicou que ela se parecia com a família, por isso que ela tinha o cabelo crespo, por isso que ela é negra. Foi um trabalhar constante”, explica. 

Diante da situação, procurar no Instagram crianças que tinha características físicas parecidas com a as de Clara foi uma forma de tornar mais real o discurso dos pais. Assim a pequena Clara poderia se ver em outros indivíduos além do núcleo familiar. Em 2020, preparando um trabalho de arte para escola, em que a filha emulava uma obra artística veio a ideia dos ensaios inspirados em pessoas que, apesar da dor, do racismo e do machismo, conseguiram se tornar figuras respeitadas no mundo. 

“Quando eu faço a releitura da mulher negra é mostrar para ela que ela pode, que ela tem força, que ela consegue, mesmo as pessoas dizendo à ela que ela não é capaz. Ela tem sim capacidade de alcançar tudo que ela tem na mente desde que ela respeite o próximo, não passe por cima de ninguém. É para ela se ver e descobrir cada dia mais quem ela é”, diz Daiane Braz. 

No perfil de Clarinha há desde indicação de leitura de livros infantis até homenagem aos povos indígenas. Durante a entrevista ela mostra um pouco da influência do pai pelos gostos nerds como videogame e animes, até mesmo indicando obras e mostrando seus desenhos das personagens femininas de Naruto, Tenten e Hinata. 

Embora o projeto tenha fortalecido a autoestima da filha, Daiane crê que a garota ainda não tem noção da proporção que tomou, talvez pela falta de contato com os colegas de escola. “Ela fica no mundinho dela, mas está mais argumentativa. Espero que ela inspire muitas crianças”, deseja Daiane. 

A releitura que Clara diz ter sido a mais divertida para produzir, foi a de Frida Kahlo. Mãe e filha tiveram de atravessar a rua com flores na cabeça para fazer o ensaio usando um muro azul de fundo. 

As releituras tem opinião da modelo e os materiais usados são os que já se encontram em casa, com exceção de quando homenagearam Mae Carol Jemison, primeira mulher negra a ir ao espaço, que exigia uma roupa de astronauta. “As fotos que eu mais gostei de fazer foram a da Frida, do David Bowie e da Mae Carol Jemison”, revela Clarinha entre risos. 

Clara como a pintora mexicana Frida Kahlo

Esse projeto é um símbolo de como a representatividade é crucial para construção e restabelecimento da autoestima de crianças negras, que muitas vezes tem dificuldade para se enxergar em diversos espaços, comumente dominados por um tipo de perfil físico. Uma das fotos mais compartilhadas é a que lado a lado estão Clarinha e a jornalista Maju Coutinho, que inclusive compartilhou a foto em seu perfil do Instagram. 

“Conhecer todas essas pessoas tem sido gratificante. Não só a Clara aprende, mas eu também aprendi muito”, diz Daiane, que sempre coloca uma legenda contextualizando a história das personagens inspiradoras para as imagens, tornando o perfil do Instagram uma fonte de informação para outras mães e crianças. 

Mesmo diante de um tema pesado como racismo a mãe e o pai da influencer mirim tentam sempre conversar de forma leve e dão liberdade para o diálogo, fazendo com que ela se sinta à vontade para falar sobre tudo. 

Para se distrair na quarentena, Clara tem o pai, Flávio Braz, técnico em logística, de 39 anos, que é parceiro nas maratonas de Naruto e outros animes. “Meu pai estava falando de mangá esses dias. Eu gosto bastante de desenhar. Faço alguns desenhos. Eu fiz a Hinata e a Tenten, de Naruto, explica Clara enquanto mostra as ilustrações. 

Com apoio dos pais, Clara Larchete constrói sua autoestima quanto criança preta, preparando-se para se tornar uma referência para outras que vão poder se inspirar nela e conhecer as tantas personalidades que essa camaleoa de 8 anos de idade vem apresentando ao público. Representatividade importa! Sempre importou. 

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