Após apologia à escravidão Pão de Açúcar ignora entidades negras que pedem retratação pública

350
Após apologia à escravidão Pão de Açúcar ignora entidades negras que pedem retratação pública

O grupo Pão de Açúcar parece não estar muito preocupado com o que faz seus consumidores negros felizes. Mais de uma semana após ter a foto de um menino negro escravo, com grilhões nos pés compartilhada por milhares de pessoas no Brasil e no mundo pelas redes sociais e principais jornais do país, o grupo agora ignora o pedido de retratação pública feito por representantes do movimento negro.

“Enviamos um carta a todos os setores responsáveis pelo grupo Pão de Açúcar, no dia 22 e até o momento (manhã de 27 de agosto), não tivemos nenhum tipo de resposta”, lamenta Simone Cruz, secretária executiva da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), em entrevista ao site Mundo Negro.   Na carta redigida por ela e assinada por 28 instituições, que incluem entidades importantes como o Geledés, Irohin e Criola e direcionada ao presidente do Grupo Pão de Açúcar, Enéas César Pestana Neto, elas exigem uma retratação pública, mesmo após a remoção da peça, na loja da Vila Romana.

Notícias Relacionadas


“A identidade de um povo é construída a partir de suas relações sociais. O estado brasileiro, escravista durante mais de trezentos anos, deixou marcas extremamente fortes nesta população, marcas estas que são reforçadas pela manutenção de atitudes como essa”, defende o documento.

Quem entrou em contato com a rede, via Facebook, teve que se contentar com uma resposta automática com um pouco mais de três linhas.  O site Mundo Negro fez dois contatos com a assessoria de imprensa que disse que “Os contatos feitos com a empresa são analisados e posicionados diretamente aos seus remetentes”. Até agora nada.

Já nos EUA

Um grupo de negros teve seu acesso negado, por racismo, no restaurante Wild Wing Café North Charleston, na Carolina do Sul, EUA.  Revoltados, eles postaram sua indignação no Facebook e não precisaram muito para receberam, além de uma oferta de uma refeição gratuita – dispensada por eles – um longo pedido de desculpas dos donos da rede de restaurantes. “Nós estamos conduzindo uma investigação para achar os responsáveis. Não toleramos qualquer comportamento discriminatório em nossa organização”, diz a nota de retratação emitida pelo restaurante, um texto longo e cuidadoso publicado na página do estabelecimento.

Foto: Negros Norte Americanos lutam pelos Direitos Civis nas mídias sociais.
.
Michel Brown e um grupo de 25 pessoas, entre familiares e amigos, todos negros, esperavam para entrar num restaurante de nome WILD WING CAFE NORTH CHARLESTON , em Carolina do Sul , onde pretendiam comemorar o último dia de um parente em Charleston.
Após esperarem pacificamente em frente ao estabelecimento por uma mesa, durante  de 2 horas, o gerente afirma que a entrada do grupo não seria possível porque um dos clientes que estavam dentro do restaurante estava se sentindo ameaçado pelo grupo.
"Nos sentimos alarmados, estávamos lá pacificamente por duas horas!", explicou Brown. "Evidentemente, se estivéssemos fazendo qualquer tipo de conflito, teríamos sido expulsos muito antes disto."
Durante a conversa de Brown com o gerente, alguém do grupo passou a filmar a conversa. Brown pergunta ao gerente:
"Você está dizendo que nós temos de ir embora?". O gerente responde:
" Eu disse que tenho o direito de lhes negar o serviço."
Brown rebate cavando uma resposta: "Você está me pedindo para sair porque está chateado por estar sendo gravado, depois de termos esperado por duas horas, e depois que você já praticamente discriminou a todos nós?" , e o gerente  respondeu que "Sim!"
sem solução para o caso, e ou retorno da Wild Wing Cafe North Charleston, resolveram expor o caso na página do Facebok. A empresa pediu desculpas e ofereceu um jantar grátis para todo o grupo. Brown acha que sofreram discriminação racial ao estilo dos anos de 1960, e não ficou satisfeito - "Nós não estávamos chegando lá para uma refeição grátis. Quando chegamos lá naquela noite, estávamos indo de comemorar. Esta não é uma situação em que você pode nos dar uma refeição gratuita e está tudo ok, porque é mais profundo do que isso."
.
Seu post no Facebook dizia:
"Eu nunca mais irei ao  Wild Wings café  novamente! Nós (grupo de 25 familiares e amigos) esperamos 2hrs, com paciência e não fomos atendidos porque outro cliente (branco) se sentiu ameaçado por nós. Este tipo de discriminação racial é inaceitável e temos de colocar um fim nisso. O gerente me parecia ter o rosto morto  e disse que ela estava nos recusando serviço porque ela tinha este direito. Boicotem este estabelecimento ... Por favor, compartilhem este post ... Precisamos da sua ajuda. "
.
https://www.facebook.com/WildWingCafeNorthCharleston
.
http://www.radiofacts.com/blacks-asked-leave-south-carolina-restaurant-white-customer-felt-threatened-video/

 

 

– Carta da Articulação de Mulheres Negras enviados ao presidente do grupo Pão de Açúcar –

Ao Sr. Enéas César Pestana Neto

Diretor Presidente

Grupo Pão de Açúcar

Senhor Diretor,

A Articulação de Organizações de Mulheres Negras (AMNB) é uma rede de organizações de mulheres negras, constituída atualmente por 28 organizações distribuídas por todas as Regiões do Brasil. Nossa missão está calcada no enfrentamento ao racismo e das desigualdades econômicas, sociais deste País.
Segundo dados levantados pela  Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD, 2011)), O Brasil tem cerca de 192 milhões de brasileiros, destes, 51% se auto-declararam negros e negras, o que faz  do Brasil, o pais com a segunda maior população de negros  de todo mundo – 97 milhões,  atrás apenas da Nigéria, com aproximadamente 160 milhões.
A identidade de um povo é construída a partir de suas relações sociais. O estado brasileiro, escravista durante mais de trezentos anos, deixou marcas extremamente fortes nesta população, marcas estas que são reforçadas pela manutenção de atitudes como essa.
Nos deixa extremamente atônitas o fato de tomarmos conhecimento da estátua exposta decorativamente no Supermercado Pão de Açúcar, no bairro Vila Romana, na cidade de São Paulo, que retrata uma criança negra com grilhões nos pés portando uma cesta de pães (em anexo).
Queremos chamar atenção para dois aspectos: (1) Esta imagem contribui para a manutenção do racismo, pois é a materialização do inconsciente coletivo que coloca o negro sempre num lugar social e simbólico, de subalternidade; não é por acaso que esse menino continua com os grilhões nos pés, símbolo de escravização. (2)  Ela, também, compactua e autoriza, de forma subliminar, o trabalho infantil, que no Brasil é realizado por uma maioria de crianças negras.
Outro grande prejuízo é o impacto negativo desta imagem para a autoestima das crianças negras e para a construção uma referencia positiva de si, que as leve a se sentir em iguais condições na companhia das crianças brancas. Como vocês acham que se sentem as crianças negras que frequentam esta loja?

Nós mulheres negras e indígenas vimos sendo tratadas, sob a escravização e o racismo, como objetos, vulneráveis á todos os tipos de violência pessoal, estrutural. Conhecemos, portanto, a profunda dor das violências que nos atingem. E temos lutado, ao longo de todos os séculos da história do Brasil, por justiça e reparação, pelo o direito de viver a cidadania plena.
Neste sentido que nos dirigimos ao Senhor, Diretor Presidente do Grupo Pão de Açúcar, Sr. Enéas Neto, para dizer que estamos esperando que este Grupo faça uma retratação publicamente, mesmo tendo retirado a estátua colocada de sua loja, reconhecendo neste ato como fortalecedor do racismo no Brasil.
É necessário, e estamos disponíveis a contribuir com essa instituição, a construção de uma ação reparadora que sensibilize clientes e trabalhadores, em toda sua rede, na direção de um país onde a diferença seja compreendida como um valor positivo.
Sem mais,
Simone Cruz

Secretária Executiva AMNB
Organizações Integrantes da AMNB:
ACMUN – Associação Cultural de Mulheres Negras – RS
BAMIDELÊ – Organização de Mulheres Negras na Paraíba – PB
CACES – Centro de Atividades Culturais, Econômicas e Sociais – RJ
Casa Laudelina de Campos Mello – SP
Casa da Mulher Catarina – SC
CEDENPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – PA
CRIOLA – Organização de Mulheres Negras – RJ
CONAQ – Coordenação Nacional  de Articulação das Comunidades Quilombolas – MG
GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra – SP
Grupo de Mulheres Negras Felipa de Sousa – RJ
Grupo de Mulheres Negras Mãe Andressa  – MA
Grupo de Mulheres Negras Malunga – GO
IMENA – Instituto de Mulheres Negras do AP
INEGRA – Instituto Negra do Ceará – CE
Instituto AMMA Psique e Negritude – SP
IROHIN – DF
KILOMBO – Organização  Negra do Rio Grande do Norte – RN
Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras – RS
Mulheres em União – Centro de Apoio e Defesa dos Direitos da Mulher – MG
NZINGA – Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte
Observatório Negro – PE
ODARA – Instituto da Mulher Negra – BA
OMIN – Organização de Mulheres Negras Maria do Egito – SE
Rede Mulheres Negras do Paraná – PR
Uiala Mukaji – Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco – PE

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display

Comments are closed.