Ota Benga foi sequestrado em sua terra natal, onde hoje fica a República Democrática do Congo, e levado aos EUA para ser exibido em uma jaula, em 1904. Mais de um século depois de virar notícia internacional por exibir um jovem congolês na mesma seção onde ficavam os macacos, o Zoológico do Bronx, em Nova York emitiu um pedido de desculpas. O pedido de desculpas feito pela entidade que administra o local, a Sociedade para Conservação da Vida Selvagem (WCS, na sigla em inglês).
A jornalista Pamela Newkirk, que já pesquisou e escreveu extensamente sobre o assunto, fez uma análise do caso para a BBC. O presidente da entidade, Cristian Samper, disse que é importante “refletir sobre a própria história da WCS e sobre a continuidade do racismo” na instituição.
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Samper pediu desculpas por exibir Ota Benga por “diversos dias” e não pelas três semanas em que ele foi prisioneiro na seção dos macacos. O zoológico publicou versões digitalizadas dos documentos que tem sobre o episódio, entre eles cartas que descrevem em detalhes as atividades diárias de Ota Benga e dos homens que o aprisionaram.
Muitas dessas cartas já estão no livro “Espetáculo: A Vida Inacreditável de Ota Benga”, publicado em 2015 (sem edição no Brasil). Nos cinco anos desde a publicação, o zoológico se recusou, sem explicações, a emitir um pedido de desculpas e a responder a pedidos da mídia. E a seção de primatas onde Ota Benga foi mantido e exibido foi fechada para o público desde então.
O presidente prometeu que a instituição vai se comprometer à total transparência sobre o episódio, que gerou manchetes nos EUA e na Europa do dia 9 de setembro de 1906 —um dia depois da primeira exibição de Ota Benga no zoológico— até o dia 28 de setembro de 1906, quando ele foi finalmente libertado.
Um artigo sobre a exibição, escrito por William Bridges, diretor do zoológico, chegou a aparecer em uma publicação da própria entidade. Apesar de todas as provas, Bridges escreveu que “depois de tanto tempo, isso é tudo o que pode ser dito com certeza, além do fato de que tudo foi feito com a melhor das intenções, porque Ota Benga era interessante para o público de Nova York.”
Compondo essas narrativas enganosas há um livro publicado em 1992 com coautoria do neto de Samuel Verner, o homem que foi ao Congo com muitas armas para capturar Ota Benga e outras pessoas e exibi-las na feira mundial de Saint Louis, em 1904. O livro tinha a história absurda de uma “amizade” entre Verner e Ota Benga e de que tinha Ota tinha gostado de ‘se apresentar’ para os nova-iorquinos.
Os principais fundadores do zoológico do Bronx estavam entre os disseminadores mais influentes das teorias de inferioridade racial que ainda ressoam entre supremacistas brancos.
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