Zuleica (Aline Borges) é mãe de três jovens adultos: Marcelo (Lucas Leto), Renato (Gabriel Santana) e Roberto (Caue Campos). Os seus “meninos” são fruto da duradoura relação com Tenório (Murilo Benício). Relação, não casamento. Quando engravidou de Marcelo, Tenório já era casado com Maria Bruaca (Isabel Teixeira), e ela sempre soube. “É bonito de ver, diante de toda a situação que vai acontecer nesse trio, de Maria Bruaca, ela e Tenório, que ela não larga a mão da Maria Bruaca. A sororidade, a empatia estão na frente. E é bonito o Bruno Luperi (autor) não ter ido para o caminho da rivalidade entre elas. Porque a gente vive num Brasil e num mundo onde a mulher foi ensinada a rivalizar.
Neste caso, essa história tem dor, mas tem também respeito, empatia, entendimento de que é muito mais importante a integridade dessas mulheres do que conquistar um espaço na vida desse homem. Principalmente pra Zuleica, que está nessa relação por diversas razões que ainda vão ser reveladas. Ela tem uma dívida de gratidão com esse homem. O que fica pra mim, de bonito, é ver a integridade dela, sua força, e o fato de ela não ser uma mocinha. Ela também erra porque é humana”, diz Aline Borges sobre sua personagem.
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Zuleica chega em cenas que vão ao ar a partir deste sábado (11), em um cenário de crises. Crise no casamento de Tenório, crise econômica, já que ele está com a corda no pescoço, e crise entre os filhos, que ao saberem que Maria descobriu sobre a traição do marido, não entendem por que não podem, então, conhecer a outra família e as terras do pai no Pantanal. Na entrevista abaixo, Aline Borges conta sobre os bastidores de sua chegada à novela, sobre as gravações no Pantanal e sua visão sobre esta personagem e trama.
Entrevista Aline Borges para TV Globo
Você assistiu à primeira versão? Tem alguma relação especial, familiar, ou de trabalho com a novela?
Assisti partes, não à novela toda. Eu tinha 15 anos, mais ou menos, e tenho uma memória afetiva com a novela, assim como muitos brasileiros. Pantanal é uma novela que mexe com nossas emoções, mexe com o lúdico, o imaginário, você acreditar no encantamento das coisas, nas lendas. Tem um valor muito especial, que deixou marcas e por isso que hoje ela é tão abraçada, tão assistida, tão amada. Quem assistiu, guarda alguma história ou memória afetiva; e quem não assistiu, como é o caso do meu enteado que tem 19 anos, vejo ele super encantado, acreditando naquela história daquela mulher que vira onça, no Velho do Rio, gostando de se encantar. Isso é muita rico porque os nossos jovens hoje só querem saber de internet, eu nunca tinha visto meu enteado ver televisão, novela principalmente. Pantanal é realmente pra todas as idades, não tem uma faixa etária. Ela pega as pessoas sensíveis, que estão abertas e querem se emocionar com a simplicidade da vida.
O autor, Bruno Luperi, disse em entrevista que quis aproveitar a história de Zuleica na obra de seu avô para dar voz às questões de racismo e preconceito nesta adaptação. Como você, atriz, mulher, negra, enxerga essa mudança?
É uma benção ter um dramaturgo como ele, um homem branco que tem esse olhar afinado, apurado para questões raciais, de entendimento para as necessidades de discutir essas questões. Para descontruir a gente precisa discutir, colocar uma lupa para olhar para o racismo, que segue excluindo, oprimindo e matando o povo negro todos os dias. Então, é maravilhoso ter a oportunidade de dar vida à essa personagem, que é uma mulher negra, com uma família preta, numa relação inter-racial, que é até complicado falar sobre isso no Brasil, existe tanto preconceito, tanto julgamento… Acho importante ele ter a coragem e peitar, trazer essa mudança. Porque esse papel foi vivido pela Rosa Maria Murtinho lá atrás, brilhantemente vivido por ela, uma mulher branca. Bruno fazer essa mudança para que a Zuleica seja uma mulher preta e trazer essas questões raciais é de um valor primoroso, muito especial e a gente precisa olhar para isso. Abraçar isso com todas as forças. Não é uma tarefa fácil, mas a gente está caminhando junto. E é lindo observar o quanto o Bruno tem a escuta aberta para essa transformação.
Quem é Zuleica?
A Zuleica é uma mulher como tantas e tantas mulheres, cheia de conflitos, dualidade permeando a vida dela o tempo todo. É uma mulher íntegra, criou os três filhos praticamente sozinha. Muita coisa vai acontecer ao longo do caminho, no arco dramático dela. Ela é uma mulher muito forte, que reconhece suas dificuldades, seus limites, mas que não entrega o jogo. Segue na resistência. E é bonito de ver, diante de toda a situação que vai acontecer nesse trio, de Maria Bruaca, ela e Tenório, que ela não larga a mão da Maria Bruaca. A sororidade, a empatia estão na frente. E é bonito o Bruno não ter ido para o caminho da rivalidade entre essas mulheres. Porque a gente vive num Brasil e num mundo onde a mulher foi ensinada a rivalizar. Neste caso, essa história tem dor, mas tem também respeito, empatia, entendimento de que é muito mais importante a integridade dessas mulheres do que conquistar um espaço na vida desse homem. Principalmente pra Zuleica, que está nessa relação por diversas razões que ainda vão ser reveladas. Ela tem uma dívida de gratidão com esse homem. O que fica pra mim, de bonito, é ver a integridade dela, sua força, e o fato de ela não ser uma mocinha. Ela também erra porque é humana.
Como foram as gravações no Pantanal? Você já conhecia o local? O que achou?
Não conhecia o Pantanal e quando fui na primeira viagem para gravar, tive uma crise de pânico antes do avião decolar, no Rio de Janeiro. Eu nunca havia tido nada parecido. Não entendi bem na hora, mas hoje, olhando o que aconteceu, entendo que não se tratava apenas de estar sozinha, viajando de avião, mas sim de tudo que esse momento significa. Estou dando um grande passo na minha carreira, fazer parte dessa novela é um marco que vai ficar para sempre. Então, entendo que foi um somatório de coisas. O medo desse passo novo, o uso das máscaras, a gente veio de uma pandemia muito traumática, enfim, foram vários fatores. Cheguei a sair do avião, chorei muito lá fora, mas decidi voltar. Olhei pra ele e decidi que seguiria meu caminho. A gente tem medo de crescer na vida, então olhar para esse medo, colocar luz nele, já foi o início da cura. Não é só sobre o medo de andar de avião, mas o medo do novo passo. Isso bate em todos nós, em todo mundo que é humano.
Agora estou aqui (no Pantanal) pela segunda vez e é um lugar que me deixa muito sensível, num bom sentido. Choro ouvindo uma arara, choro vendo um pássaro bebendo água. Onde estou, antes estava cheio, e agora está seco. A gente se conecta com a origem tudo, com a mãe terra, com os animais, a gente silencia a mente e reconstrói nosso olhar pro mundo. Ressignificar tudo. É uma oportunidade imensa, de cura e de expansão de consciência estar no Pantanal.
Alguma impressão especial sobre os bastidores da novela?
A gente entende o sucesso estrondoso que é Pantanal quando vê os bastidores. Ontem eu fui gravar numa fazenda e fiquei vendo as duas outras cenas que tinham, fiquei vendo a raça, o amor, a dedicação da equipe, entrando no rio, levando câmera, para que aquilo ficasse bonito. A entrega do diretor, todos eles têm um olhar muito sensível para tudo, eles querem captar o melhor da gente.
Outro fato interessante é que uma das minhas primeiras novelas na TV Globo foi Celebridade, eu interpretava a empregada do personagem de Marquinhos Palmeira. Fiquei emocionada de ver esse lugar que a minha atriz está hoje. Em 2003 eu fiz essa empregada dessa casa e hoje estou aqui fazendo a mesma novela que Marquinho num outro lugar. Essa personagem é uma mulher forte, que tem uma casa, uma história, não é uma coadjuvante. Trabalhei esses anos todos para conquistar esse espaço que me chega agora. Porque antes de eu me reconhecer como mulher preta, não entendia por que não me chegavam papeis onde eu tinha uma casa, uma vida, era sempre a copeira, a empregada, nesses lugares. Eu não questionava, não entendia. Depois eu entendi que os papeis destinados às mulheres pretas eram esses, onde as mulheres não tinha história. E quando entendi fui trabalhando para que isso mudasse. No teatro ou na TV, quando eu era convidada para papeis assim, falava que não queria mais fazer aquele papel. Então, hoje, estar no Pantanal, dando vida à Zuleica, para mim é um avanço enorme. É grandioso demais e diz muito sobre toda a minha trajetória e sobre o quanto isso mudou. Hoje estou dando vida a uma personagem que um dia foi de uma mulher branca, que esse autor decidiu mudar para uma mulher preta, para dar voz à ela. Isso é representatividade e dá sentido ao nosso ofício. Isso me engrandece também, eu olho para trás e vejo que tudo valeu a pena.
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