Na noite de 31 de maio de 1921, quando tinha 7 anos, a afro-americana Viola Fletcher acordou com seus pais gritando para que ela e seus cinco irmão saíssem imediatamente de casa. Tulsa, sua cidade, considerada a “Black Wall Street” americana, lar da classe média alta da comunidade negra, estava sendo ataca por bombas vindas do céu, um “arrastão branco” formado por pessoas brancas com armas, incêndios e outros ataques provocados por grupos racistas que apareceram no bairro negro depois que uma mulher branca de 17 anos acusou um afro-americano de 19 anos de um suposto comportamento impróprio em um elevador dentro do Edifício Drexel. Quando uma multidão de brancos tentou linchar o acusado, eles foram repreendidos por veteranos afro-americanos da Primeira Guerra Mundial. O grupo racista voltou para se vingar.
Ao todo 300 pessoas foram mortas. Homens, mulheres, idosos, crianças, bebês e gestantes. Aproximadamente 1200 de negócios promissores construídos por descendentes de povos escravizados foram saqueados e destruídos. Uma barbaridade sem precedentes que durou até o dia seguinte, 1º de junho. Além e negócios, a região abrigava também instituições de ensino e igrejas geridos integralmente por pessoas negras.
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Uma das heranças dessa tragédia foi o imensurável trauma de Viola, hoje com 107 anos e a mais velha sobrevivente do maior ataque racista da história dos EUA. Ela participou de um evento no Congresso Americano, no último dia 19 de maio, onde deu detalhes do que viveu e ainda vive. Ela e seu irmão, Hugues Van Ellis de 100 anos, querem reparação.
“Eu estou aqui querendo justiça” disse Viola. “Eu estou aqui pedindo para o meu país reconhecer o que acontece em Tulsa, em 1921”.
Ele se lembrou da sua vizinhança, no bairro de GreenWood, onde ela até então vivia seu sonho americano, sendo uma garota negra amada e livre em uma região de pessoas parecidas com ela. “Eu nunca vou esquecer a violência daquela multidão branca quando a gente deixou nossa casa. Eu ainda vejo homens negros levando tiros, corpos negros deitados no chão. Eu ainda sinto o cheiro da fumaça e vejo o fogo. Eu ainda vejo negócios negros sendo queimados. Eu escuto os gritos de Tulsa, eu vivo esse massacre todos os dias”, detalhou.
Os sobreviventes e seus descendentes nunca foram ressarcidos ou receberam qualquer tipo de reparação pelo ocorrido. “Quando eu e minha família fomos forçados a deixar Tulsa, eu perdi minha chance de ser educada. Eu nunca terminei meus estudos e nunca fiz muito dinheiro”.
Durante seu discurso, Viola explica que atualmente ela ainda passa por dificuldades financeiras, apesar de ter trabalhado a vida toda como doméstica para famílias brancas. Ela acusa as autoridades locais de faturarem com sua história. “Eles têm usado o nome de vítimas como eu para enriquecer e os aliados brancos conseguiram 30 milhões de dólares para construir o Tulsa Centennial Comission enquanto eu ainda vivo na pobreza”, denunciou a sobrevivente.
Lebron James produzirá documentário sobre o massacre
O filme “DREAMLAND: The Rise and Fall of Black Wall Street,” na tradução literal “Terra dos sonhos: A ascensão e a queda da Wall Street Negra” é o documentário da CNN Films sobre o massacre de Tulsa e terá a produção de Lebrom James.
“Não podemos avançar até que reconheçamos nosso passado e se trata de homenagear uma próspera comunidade negra, uma de muitas, que foi encerrada por causa do ódio”, explica Jamal Henderson, diretor de conteúdo da SpringHill e um dos produtores executivos do documentário, disse no comunicado à imprensa.
O documentário ainda não tem previsão de estreia.
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