Agosto é tradicionalmente marcado como o mês dos pais. Em geral, vemos campanhas publicitárias, homenagens escolares e ofertas comerciais de todos os tipos. Mas, para além do consumo, este também pode ser um mês de reflexão sobre o cuidado, as responsabilidades familiares e, principalmente, sobre os silêncios que ainda cercam as paternidades negras no Brasil.

Historicamente, os homens negros têm sido retratados de forma estigmatizada quando o assunto é paternidade: ausentes, irresponsáveis, violentos ou descomprometidos. Pouco se fala, no entanto, sobre o racismo estrutural e institucional que impede que esses homens exerçam plenamente o cuidado com seus filhos e filhas.

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Pouco se discute também sobre políticas públicas que não reconhecem a diversidade das paternidades e a centralidade do cuidado como direito e prática transformadora.

É nesse contexto que o Instituto Mapear está elaborando o Novo Panorama sobre as Paternidades Negras no Brasil e a Equidade no Cuidado. Com lançamento previsto ainda para 2025, a publicação tem como objetivo lançar luz sobre as experiências reais de pais negros em diferentes territórios, denunciar barreiras históricas enfrentadas por eles e, ao mesmo tempo, afirmar as potências de uma paternidade baseada no afeto, na presença e na corresponsabilidade.

Atualizando e ampliando o primeiro relatório lançado em 2021, o Novo Panorama traz escuta territorializada, dados inéditos e propostas concretas para impulsionar políticas públicas que promovam o cuidado como um ato político, coletivo e antirracista.

Nos últimos anos, temos aprendido que não basta falar de paternidade de forma genérica. É preciso racializar esse debate. Os desafios enfrentados por um pai branco de classe média — e até mesmo por aqueles fora dessa classe — não são os mesmos enfrentados por um pai negro.

O racismo estrutural atravessa o exercício da paternidade em cada etapa: da gravidez ao pré-natal, da licença parental às interações escolares, do sistema de justiça à representação na mídia.

Reivindicar o direito de cuidar, para homens negros, é também reivindicar o direito à vida, à saúde, à liberdade e à dignidade. Por isso, precisamos valorizar, apoiar e dar visibilidade a essas trajetórias com políticas afirmativas, formação de profissionais, presença nos espaços de decisão e campanhas públicas que enfrentem o racismo e promovam a equidade.

Neste mês dos pais, é hora de reconhecer as múltiplas faces das paternidades negras no Brasil. Não como exceções, mas como protagonistas de uma transformação social profunda e necessária.

O Novo Panorama chega justamente para fortalecer essa virada de chave: da invisibilidade à potência, da ausência imposta à presença real, da exclusão ao cuidado como direito inalienável.

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