Hoje foi o último dia da a IV edição do Festival Afrofuturismo, que aconteceu no Centro Histórico de Salvador, e teve como tema “Por uma abolição econômica”. Duas mesas muito potentes aconteceram no Teatro Gregório de Mattos e quem estava acompanhando não teve tempo para segurar as lágrimas, assim como os palestrantes.
A primeira conversa foi com Juliana Vicente, sobre “Diversidade e Mídia” e mediação da atriz e apresentadora Sara Barbosa. Juliana é diretora, roteirista, produtora e fundadora da Preta Portê Filmes. Um de seus trabalhos mais recentes é a direção do documentário “Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo”, que teve sua estreia na última quinta-feira, dia 16, no Netflix. Juliana compartilhou com a gente um pouco da sua trajetória e na sua história era possível sentir uma inspiração vinda de seus pais, a inspiração em empreender, em atravessar barreiras do universo e ocupar espaços. Olhar para as posições que estamos ocupando e para os serviços que estamos prestando, se estamos conseguindo mudar as estruturas.
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A inquietação do empreender vem muito de um lugar de inconformação, um cansaço de passar por tantas situações de racismo, de não ter a voz ouvida. E quando conseguimos fazer esse movimento (que não é fácil), passamos a falar não só com os nossos, mas também passamos a construir uma narrativa para que todos entendam a partir do nosso olhar, passamos a trazer reflexões e provocações.
A produção do clipe dos Racionais, colocou no caminho de Juliana a criação do documentário “Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo“, e não estamos falando sobre contar a história dos quatro integrantes do maior grupo de rap, é sobre contar a história de um monte de gente e ouvir “Racionais foi o pai que eu não tive”, como compartilha Juliana durante a conversa, que emocionou a todos, assim como o depoimento de uma das ouvintes que estava na plateia, quando mencionou que a produção é sobre se sentir representado ali, é sobre tantos outros bairros de Salvador ser o “Capão Redondo” dos anos 80. Quando a gente se dá conta de quando uma produção é conduzida a partir de um olhar como o nosso, a construção da narrativa conversa com a gente, com quem a gente é.
E é por isso que estamos hoje falando a respeito do nosso futuro, o afrofuturismo.
Para Juliana, “o afrofuturismo se remete ao mundo que queremos viver. É desenhar o futuro imaginando como é o mundo que a gente gostaria de ver, construir uma realidade a partir de um pensamento. É introduzir a espiritualidade, que faz parte da vida e é algo natural, no processo de criação”.
Quando nos damos conta de que os encontros em Salvador estão sempre fazendo a espiritualidade entrar na conversa, é fluído. Passamos a entender que a conexão com África é muito mais forte do que pensamos, ela pulsa dentro de nós nos reconectando com nossos ancestrais para construirmos novas narrativas. Toda vez que um africano vem à Salvador pela primeira vez, como aconteceu com Kamil Olufowobi, esse sentimento é de pertencimento e de estar numa extensão desse lugar ancestral mágico e singular.
A segunda mesa: “Como conectar a diáspora africana com a internet?”, contou com a mediação de Paulo Rogério – co-founder da aceleradora Vale do Dendê, AFRO.TV e possui especialidade de nova mídia, ideias e estratégia, marketing, diversidade e inclusão, e os convidados palestrantes Kamil Olufowobi e Baynna.
Kamil Olufowobi viveu, estudou, trabalhou e/ou visitou mais de 30 países em 5 continentes. Possui mestrado em Assuntos Globais com foco em Economia, Relações Internacionais e Direito Internacional. Com mais de 20 anos de experiência de trabalho global, ele desenvolveu uma perspicácia comercial global com um histórico comprovado de liderança e entregas excepcionais. E Bayyina Black é executiva de mídia, e fala sobre impacto, propósito, sustentabilidade, disparidade de riqueza racial e empreendedorismo social. Foi uma conversa muito inspiradora com relação à potência da nossa cultura e como difundi-la a partir do digital.
O final desta enriquecedora troca de experiências, foi uma premiação à Paulo Rogério feita por Kamil Olufowobi, como reconhecimento por sua contribuição em transformar, empoderar e impulsionar todo esse movimento negro, a questão dos negócios, do afrofuturismo e do Brasil. Paulo nos compartilhou um pouco da emoção em receber esse prêmio tão importante que premia os afrodescendentes mais influentes do mundo (MIPAD): “Eu fiquei muito emocionado porque foi um encontro fantástico de uma família, o fato de Kamil ser um africano iorubá vindo pra bahia me entregando esse prêmio de surpresa foi muito emocionante. Esse prêmio não é pra mim, pessoa física, é para todos os afrodescendentes brasileiros que se identificam com a cultura africana e que trabalham no dia a dia para que a nossa cultura seja melhor reconhecida e tenha protagonismo econômico”.
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