
Texto: Rachel Maia
Durante séculos, a África e o Brasil foram marcados por uma economia que em nada favorecia a sociedade e o desenvolvimento dos países. Basta analisar a estrutura atual para entender que aquele modelo de negócio — tão desumano — limitou o acesso ao conhecimento pela população e impediu a expansão das riquezas naturais e econômicas.
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Esse passado ainda ecoa entre nós. O legado da escravidão e da exploração deixou marcas profundas — sociais, culturais e econômicas. Ainda hoje, os reflexos desse período são percebidos nas desigualdades, na falta de representatividade e nas distorções históricas que insistem em invisibilizar os povos africanos e brasileiros.
Reconhecer esse passado e colocá-lo nas rodas de conversa e nas pautas decisivas é o primeiro passo para mudar a realidade atual — marcada por uma herança escravocrata. Estamos atentos a tudo o que podemos transformar com escuta ativa e debate assertivo, para que nenhum cidadão tenha seus direitos violados.
Nossas potências culturais e econômicas
A nova economia global tem se posicionado sobre a importância e valorização da diversidade, criatividade e inovação. E é exatamente aí que a conexão África-Brasil pode se destacar — investindo em educação, tecnologia, intercâmbio cultural e comércio justo. As oportunidades econômicas entre África e Brasil são muitas, e precisamos olhar com atenção para esse cenário de transformação.
Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), o continente africano abriga seis das dez economias que mais crescem no mundo. Países como Nigéria, Quênia, Gana e Etiópia vêm atraindo investimentos em setores como: energia limpa, infraestrutura, agronegócio e tecnologia da informação.
O Brasil, por sua vez, possui expertise em áreas altamente relevantes para o continente africano — como agricultura tropical, biocombustíveis, mineração e tecnologia educacional. Essa sinergia abre espaço para cooperação técnica, comércio bilateral e investimentos conjuntos em inovação e sustentabilidade.
Importante destacar o Quênia, que, conforme publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2023) e dados do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade, é referência para outros países africanos na exploração de energia geotérmica — gerada a partir do calor do interior da Terra. Há décadas explorando esse recurso natural, o país ocupa o sétimo lugar na produção de energia geotérmica no mundo, com esse tipo de energia representando 47% da matriz energética nacional e apresentando crescimento constante.
As conexões entre o Brasil e a África podem ressignificar um passado do qual não há o que se orgulhar. Escrever uma nova história, sem ocultar nossas potências, é uma tarefa para todos os brasileiros, que devem compreender, o quanto antes, que o Brasil foi construído com dor, bravura e resistência. E que cada um de nós, hoje, tem a missão de promover um futuro que garanta aos indivíduos segurança, crescimento, respeito e igualdade.
Hoje, temos a chance de reescrever a história de dois territórios marcados pelo tráfico de pessoas e pela exploração da mão de obra — com mais justiça, colaboração e prosperidade. As riquezas das culturas africanas estão vivas no Brasil, e é inegável que a herança cultural do povo negro ecoa em cada canto do país, evidenciando sua intelectualidade, criatividade e luta. Mais do que herança, podemos perceber uma força que se renova de geração em geração, em busca de liberdade e pertencimento.
Somos porque eles foram.
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