Afeto, Raízes e Comunidade: Cidoca Nogueira faz da Casa Milagre um território vivo de memória e pertencimento

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Afeto, Raízes e Comunidade: Cidoca Nogueira faz da Casa Milagre um território vivo de memória e pertencimento

No coração do Velho Cosme, a Casa Milagre surge como um refúgio que une beleza, memória e ancestralidade. À frente deste projeto está Cidoca Nogueira, mulher preta, empreendedora e guardiã de espaços de afeto e resistência. Com olhar sensível e intuitivo, Cidoca transformou seu jeito de viver e compartilhar em cada detalhe do lugar: cores, texturas, aromas e objetos que contam histórias, evocam memórias e celebram a presença negra.

A Casa Milagre vai muito além de um espaço para hospedagem: é um lar que convida à troca, à comunidade e à experiência de pertencimento. Cada elemento do ambiente reflete a trajetória de Cidoca e a potência de um projeto que nasceu da vontade de criar conexão, acolhimento e beleza em harmonia com a ancestralidade.

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Em entrevista ao Mundo Negro, Cidoca compartilhou sua trajetória, suas inspirações e os conceitos por trás da Casa Milagre. Ela falou sobre a importância de criar um espaço que une estética, ancestralidade e comunidade, além de refletir sua visão de pertencimento, afeto e coragem para sonhar e realizar projetos como mulher preta e empreendedora.

Inspiração e Intenção

O que te inspirou a criar a Casa Milagre no Velho Cosme, e qual era o sonho ou a intenção por trás desse projeto desde o começo?

“Já nasci com um senso de comunidade muito presente! Fui filha única durante 21 anos, e meus pais sempre foram atentos, principalmente nos primeiros 6 anos de vida, quando o caráter está sendo formado. Preocupados em que eu não me tornasse uma criança e, mais tarde, uma adulta egoísta. Não daria certo ser preta, pobre, mulher e egoísta na vida. Desde criança, sempre compartilhei minhas coisas com as pessoas, e sigo minha vida dessa maneira. A Casa Milagre nasceu dessa memória afetiva de compartilhar, pelo apreço de acreditar no desejo, no conforto e nos desafios de viver em comunidade.”

Decoração e Conexão com a Ancestralidade

A decoração da Casa Milagre carrega elementos que parecem conversar com a ancestralidade, fé e afeto. De onde vêm essas escolhas e como elas refletem sua história e identidade?

“Tudo acontece de forma muito intuitiva. Eu não penso muito, apenas sinto, vou fazendo, colocando, arrumando, e quando vejo, está pronto. Meu coração me guia de forma natural. Tudo tem muito de mim, e acredito que tem a ver com minha fé e ancestralidade. Sinto Deus e os orixás na criação de tudo que tem poder, cor, cheiro, harmonia e sensibilidade estética. Crio meus espaços dentro do que sou, do que sinto e do que acredito.”

Estética, Política e Pertencimento

Você sente que a Casa Milagre é uma resposta estética e política dentro do território? Como ela rompe ou ressignifica a ideia tradicional de hospedagem?

“O Rio me trouxe um lugar de pertencimento, igual ao que só senti em Montes Claros, Sertão Norte Mineiro, onde nasci. Ser mulher preta, não ter sócios, ter 57 anos, não ter parceiros fixos e escolher acreditar é um desafio e uma coragem diária. Aqui, minhas trocas com pessoas pretas são frequentes: trocar ideias, ouvir, mostrar que é possível realizar e viver sonhos. Esse é o território Casa Milagre, onde pessoas pretas como eu sonham, adquirem, acreditam nas conquistas e possibilidades com coragem diária de não desistir. É se permitir ocupar lugares novos, expandir-se com coragem, presença, verdade e calma. Aqui é lugar de expansão e, ao mesmo tempo, recolhimento. Daí vem nosso diferencial, que rompe e ressignifica.”

Experiência de Hospedagem

Quando você olha cada detalhe da casa — texturas, objetos, cheiros — o que espera que as pessoas negras sintam ao se hospedar aqui?

“É uma casa comunitária, principalmente! Uma comunidade onde dividimos proximidade, pão e amor. Conversamos sobre nossas dores e unimos nossos sonhos. Fácil não é, mas acredito que é possível. Li esses dias que resgatar a aldeia é resgatar valores: comunidade é família estendida, irmãos, amigos próximos, pessoas que dividem o pão e também os mesmos valores. É essa a minha construção na Casa Milagre: proximidade.”

Milagre e Cotidiano

O que é milagre para você hoje como mulher preta, empreendedora, guardiã de espaços de beleza, memória e resistência?

“São as sutilezas de cada dia: o encontro entre mar e montanha, água doce e salgada. Luxo aqui é se sentir à vontade, é transformar uma construção grandona em lar de puro aconchego. Milagre mora aqui porque está dentro de tudo que habita esta casa, dentro de cada um de nós. Casa Milagre é um convite para mergulhar no calor e efervescência carioca com a certeza de que há um cantinho fresco e sereno à sua espera sempre que quiser voltar para casa.”

A Casa Milagre, sob o olhar sensível de Cidoca Nogueira, é mais do que um espaço físico: é um refúgio de afeto, ancestralidade e comunidade. Cada detalhe, cada textura e cada cor refletem a história de quem cria e acolhe, oferecendo um lugar onde pessoas negras podem sonhar, trocar experiências e se sentir pertencentes. Ao visitar a Casa Milagre, percebe-se que o verdadeiro luxo está na simplicidade, na proximidade e na capacidade de transformar um lar em um espaço de memórias, coragem e milagre cotidiano.

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