
Embora os dados mostrem avanços graduais na representação feminina nos conselhos de administração das empresas listadas no Ibovespa, a ausência de um recorte racial escancara uma realidade crucial: as mulheres negras praticamente não figuram nesses espaços de poder. Entre os 21% de mulheres que ocupam tais conselhos, qual é a parcela que corresponde a mulheres negras? O fato de que essa estatística muitas vezes não é sequer coletada ou divulgada já aponta para a invisibilidade do tema.
Historicamente, essas mulheres enfrentam barreiras duplas — de gênero e raça — para acessar cargos de alta liderança no Brasil. Os números apresentados pelo estudo “Liderança Empresarial 2025” revelam que apenas 3,6% dos cargos de CEO são ocupados por mulheres. Contudo, dentro dessas estatísticas, o recorte racial não é exposto, ocultando as dificuldades específicas enfrentadas por mulheres negras para adentrar ambientes majoritariamente brancos e masculinos.
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A falta de diversidade racial nos conselhos e na alta liderança é mais do que uma questão de representatividade; é uma questão de justiça e inovação. Empresas mais diversas tendem a ser mais bem-sucedidas. No entanto, o atraso do Brasil em incluir mulheres negras nessa equação reflete o problema estrutural do racismo combinado com o sexismo. Mesmo ao analisar os cargos de conselheiras, os desafios se intensificam: quantas mulheres negras têm a mesma oportunidade de acessar redes de contatos, qualificação e processos seletivos frequentemente desenhados para excluir marcadores de diversidade?
Além disso, a questão da equidade salarial permanece. Os salários médios de conselheiros que chegam a R$ 775 mil por ano levantam a seguinte questão: mesmo quando conseguem romper as barreiras e ocupar tais posições, será que as mulheres negras recebem remuneração justa em relação aos seus pares brancos?
A luta por equidade de gênero nos conselhos precisa incluir a interseccionalidade entre gênero e raça, promovendo políticas de ação afirmativa e programas que incentivem não apenas a presença de mulheres, mas especificamente a de mulheres negras. É preciso passar do discurso para ações concretas que desafiem o racismo estrutural e empurrem as empresas brasileiras para um futuro onde liderar também signifique incluir.
Recentemente li no livro Nossa Luz Interior da ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, “Quando se trata de nos levantarmos e nos posicionarmos de uma maneira que nos inspire, as mulheres que nos inspiram de forma mais profunda e duradoura são aquelas que são honestas e vulneráveis, que se recusam a esconder suas lutas ou a fingir que não as sentem.” Essa ideia ressoa profundamente com a experiência de mulheres negras que, apesar de suas lutas, continuam a se destacar, inspirando outras a buscar seu lugar em todos os espaços de poder. A inclusão delas não é apenas uma obrigação moral, mas uma necessidade para a construção de um futuro mais justo e próspero.
Fontes:
Nossa luz interior: Superação em tempos incertos– Michelle Obama.
Avança aos poucos a presença de mulheres em conselhos, O valor.
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