A aproximação do início do ano letivo provavelmente causa certa preocupação em mães, pais, avôs, avós e responsáveis por crianças. Quando essas são crianças negras as tensões são ainda mais intensas. As dúvidas, incertezas, medos e desconfortos são algumas das sensações que virão. Elas têm razão de existirem. Já que possivelmente a escola será o primeiro lugar em que a criança negra irá sofrer racismo.
Para termos ideia do tamanho do problema trago um dado importante. O ambiente escolar é o principal local onde os brasileiros sofrem racismo, conforme mostrou uma pesquisa recente. A investigação concluída em julho de 2023, foi realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), contratada pelo Projeto SETA e pelo Instituto de Referência Negra Peregum. De acordo com os resultados, a cada 10 pessoas que afirmaram ter sido vítimas de racismo no Brasil, 3,8 sofreram num espaço como escola, faculdade ou universidade.
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Não precisamos ter receio de afirmar que a escola é racista. Ela é uma instituição (uma das mais importantes) da nossa sociedade e essa mesma sociedade se estrutura no racismo. A discriminação racial no ambiente de educação formal tem várias caras, pode aparecer como agressão (verbal ou física), exclusão, tratamento distinto, racismo religioso, negação da história de um grupo, entre outros. A pesquisadora Eliane Cavalleiro no seu livro ‘Do silêncio do lar ao silêncio escolar‘ apresenta dados de uma análise centrada na socialização de crianças na pré-escola e no ambiente familiar quando o tema são as relações étnico-raciais. Sua pesquisa, que já tem quase vinte anos, ainda é muito atual, pois questiona os não ditos acerca do pertencimento das identidades raciais das crianças.
Pode parecer repetitivo falar, mas vale lembrar que discriminação racial e racismo são diferentes. Então, uma escola pode nunca ter apresentado um caso de agressão verbal a um sujeito negro, ou seja, não ocorreu uma discriminação racial na sua faceta de violência verbal. Mas dizer que essa escola não é racista, não podemos. Visto que ela faz parte de uma sociedade racista.
Nessa volta às aulas, estejamos atentos e atentas e vamos cobrar que as escolas cumpram a lei nacional 10.639, de 2003 que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Africana e Afro-Brasileira em todas as escolas, tanto no ensino fundamental, quanto no médio. Que os livros apresentem indivíduos negros e negras como Luiza Mahin, Luiz Gama, André Rebouças e Maria Felipa para que nossas crianças negras se vejam como heróis e heroínas de sua própria trajetória e da trajetória do nosso povo.