De uma infância pautada na educação à transformação da própria estética para engrandecer a autoestima da filha e combater o racismo, ela pauta no afeto, os grandes feitos de sua trajetória.
A mais nova de duas irmãs de uma família negra de classe-média do Rio de Janeiro, a médica Liana Tito Francisco acredita que a transformação do mundo vem por meio do afeto e da educação. “Eu não tenho aquela história triste de superação para contar. Minha história de superação começou com os meus pais”, diz a médica.
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Para começar a contar sua história, Liana se sente na obrigação de falar de sua mãe, Jacira Tito Barbosa. “Ela sempre foi muito inteligente, mas nem ela mesma sabia que poderia chegar tão longe”, conta Liana. O fato por trás dessa lembrança é o concurso que a mãe prestou para ser costureira. Com a alta pontuação que conseguiu na prova, ela conseguiu trabalhar com análise de laboratório. “Aí ela começou a perceber que poderia ter um horizonte que iria muito além”.
Essa crença em um futuro baseado na educação fez com que os pais de Liana conquistassem o ensino superior, ainda nos anos 70. “Naquela época ainda era raro ter pessoas negras com curso superior, mas foi uma coisa que meus pais fizeram questão”, relembra. Essa transformação, fez com que a família conquistasse mais rapidamente um padrão de vida que trouxe estabilidade financeira, com a mãe servidora pública e o pai, no Exército.
Aos 16 anos, Liana escolheu a fisioterapia como profissão, muito motivada também pelo exemplo de sua mãe, que era engenheira química, mas estudou fisioterapia para ajudar na recuperação da mãe, que sofreu um AVC. “Vendo a minha mãe trabalhar, eu fiquei fascinada pelo mundo da reabilitação”, conta.
Mas essa escolha profissional não foi definitiva. Depois de formada e com alguns anos de profissão, Liana percebeu que as oportunidades no mundo da fisioterapia não estavam tão boas. “Eu fui fazer um concurso que pagava bem mal, e chegando lá eu encontrei professores meus da faculdade, com anos de formados, disputando a mesma prova”, conta.
Aos 23 anos, ela voltou para a faculdade. Desta vez, para cursar medicina. “Quando eu entrei eu queria fazer neurologia, ainda pensando naquele trabalho de reabilitação que eu aprendi vendo minha mãe, mas chegando no estudo da neurologia, eu achei muito chato. Eu percebi que eu não gostava de somente passar o remédio, eu queria trabalhar mesmo com a reabilitação.” Foi assim que Liana conheceu o mundo da oftalmologia.
“Eu fiquei apaixonada, porque descobri que não se tratava apenas de prescrever óculos, você realmente reabilita a visão das pessoas”, conta.
Além de um ofício, a medicina também trouxe para a vida de Liana – ainda que de forma indireta – o relacionamento com seu marido, Gilmar Francisco, que também é médico.
Anos depois, com a chegada de Estela, sua primeira filha, Liana se viu confrontada a trazer alguns temas relacionados à negritude de forma diferente para a sua vida para ajudar a filha, que logo na primeira infância, já se deparava com os primeiros casos de racismo.
“No aniversário de uma coleguinha da escola, uma das meninas, durante uma brincadeira numa rede, disse pra ela ‘você não vai subir aqui porque seu cabelo é esquisito’. Isso me arrepia até hoje. Eu achava que eu poderia ser só uma mãe, e não uma mãe preta”, relembra.
“Olhando para aquela situação eu entendi que esse não subir na rede, é a mesma coisa de ‘essa cadeira de executiva não é pra você’, ‘essa faculdade não pode ser sua’, ‘essa residência também não é sua’”.
A partir dali, Liana, que até aquele momento usava o cabelo alisado, viu a necessidade de transformar a sua estética, para também ajudar a filha no processo de aceitação do próprio cabelo. “Eu já não usava mais química, mas estava sempre com o cabelo escovado. No dia seguinte a esse acontecimento eu decidi que nunca mais ia fazer isso, porque se eu dizia para a minha filha que o cabelo dela é lindo, enquanto ela olhava pra mim e perguntava por que o meu cabelo era liso”, explica.
Hoje em dia, os finais de semana são momentos de rituais de beleza autocuidado entre mãe e filha, de cuidados semanais com os cabelos, transformando esse momento que, para muitas gerações foi de dor e sofrimento, em um momento de carinho entre mãe e filha.
“O afeto magnifica as memórias, ele traz aquela sensação de que aquilo é a coisa certa. Eu quero construir com ela que o padrão de beleza e cuidado dela, é um padrão delicioso e confortável”, conclui a médica.
A história de Liana e seu cotidiano familiar e profissional podem ser acompanhados em seu perfil nas redes sociais: @oftalmaelogista.
*Esse conteúdo foi criado em parceria paga com a Avon.
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