Depois de 12 anos criando conteúdo na internet e prestando consultoria para gigantes do setor de beleza, o ativista de pele, influenciador e agora escritor Tassio Santos, criador do perfil Herdeiro da Beleza, lança seu primeiro livro. Chamado de “Tem Minha Cor? Quando maquiar se torna um ato político”, a obra aposta na maquiagem e skincare como caminho para resgatar poder. “Se antes as marcas desenvolviam (quando desenvolviam) cores para alguém com no máximo meu tom de pele, por exemplo, agora elas consideram pessoas ainda mais escuras. E isso só aconteceu por demanda popular“, conta Tássio em conversa com o MUNDO NEGRO.
Para a criação de seu novo livro, o creator diz que colocou suas habilidades jornalísticas em prática e catalogou o portfólio de grandes marcas do Brasil. “Com esses dados em mãos, comparei com a mesma pesquisa que fiz em 2016. Algumas marcas evoluíram bastante. Já outras não tiveram um avanço tão expressivo assim”, diz ele ao definir seu livro como uma grande análise da cultura através da maquiagem. “Uma vez Krada Kilomba falou que “a negação é usada para manter e legitimar estruturas violentas de exclusão” e isso faz sentido! Eu estudo a falta de tons no mercado brasileiro sob essa ótica: uma estratégia de perpetuação do racismo – já que maquiagem faz parte do processo de embelezamento do corpo e a construção do poder passa também pela estética“.
Notícias Relacionadas
Desinformação ameaça o voto negro nas eleições americanas
Quincy Jones, lendário produtor de ‘Thriller’, morre aos 91 anos
Para Tassio, encontrar produtos para além da base e uma dermatologia mais inclusiva são os principais desafios que as pessoas negras ainda enfrentam no mercado de cosméticos atualmente. “Sabe-se pouco sobre pele negra, inclusive quando o assunto é fotoproteção. Eu falo muito sobre o desafio de encontrar um protetor solar que não deixe esbranquiçado, mas talvez a gente não precise apenas disso“, diz ele. “Nem toda pele reage da mesma forma frente ao sol e corre o risco da gente estar deixando passar alguma especificidade que é só nossa. Então fica o pedido por mais investimento e disposição para dermatologistas estudarem pele negra”.
Durante anos de experiência no mercado de beleza, Tassio sentiu a necessidade de criar o termo ‘Racismo Cosméticos’, para definir episódios de discriminação dentro da indústria. “Muitas pessoas negras, principalmente mulheres de pele retinta, tem histórias infelizmente nesse universo. Só que toda vez que abriam o peito, elas chamavam de ‘isso’. Nunca tinha nome, era só ‘isso’. E eu aprendi com bell hooks que a gente precisa nomear as coisas para ser mais fácil reconhecê-las e, portanto, combater se for o caso. No livro eu dou muitos exemplos de Racismo Cosmético. Técnicas e produtos”, relata.
De acordo com o escritor, o livro “Tem Minha Cor? Quando maquiar se torna um ato político” possui quatro capítulos, com a primeira parte apresentando um introdução sobre a construção do belo. No segundo capítulo, ele define Racismo Cosmético e relata experiências que pessoas negras passam dentro desse universo da maquiagem/skincare. A pesquisa comparativa entre marcas no Brasil entra no capítulo 3 e no final, ele propõe soluções para os problemas. Tassio defende que dentre tantas soluções, uma delas é diversificar o quadro de funcionários em toda a cadeia de produção da indústria cosmética. “Pessoas de diferentes tons de pele, mas não só! Diversidade no pensamento, no idade, na origem… Se a gente quer uma indústria inclusiva, incluído o Brasil precisa estar”, relata.
O autor finaliza indicando que deseja passar uma mensagem de acolhimento com seu novo livro. “A gente que gosta de maquiagem e tem pele escura passa por tanto episódio traumatizante que talvez o livro faça emergir esse sentimento de inadequação. Mas quero que os leitores saibam que eu estou com eles nessa! Então toda vez que minhas palavras façam vir à mente alguma memória difícil, quero que olhem pra capa e se sintam acolhidos por mim“, diz ele.
Notícias Recentes
Negros Trumpistas: para cientista político americano, empreendedorismo atrai jovens negros ao voto em Trump
Com 28 Grammys e 60 anos de carreira transformadora no jazz e no pop, Quincy Jones construiu parcerias históricas