
A série de terror ‘Reencarne’, protagonizada por Taís Araujo, estreou hoje, 23 de outubro, no Globoplay e está disponível para não assinantes. A produção escrita durante a pandemia propõe um olhar sobre a vida, a morte e a reencarnação. “Colocamos todas as nossas dúvidas, questionamentos, imaginação pós-vida”, revela Elisio Lopes Jr., em entrevista ao Mundo Negro, co-criador e co-escritor ao lado de Juan Jullian, Amanda Jordão, Igor Verde e Flávia Lacerda.
O elenco de ‘Reencarne’ também conta com outros nomes de peso como Grace Passô, Aretha Sadick, Pedro Caetano, o guineense Welket Bungué e a portuguesa Isabél Zuaa. Ao longo de nove episódios, a série que se passa no cerrado brasileiro, inicia quando um ex-policial civil, depois de passar 18 anos preso acusado de matar seu parceiro na corporação, é solto e decide tirar a própria vida. Antes que a tragédia aconteça, ele recebe a visita de uma moça que afirma ser a reencarnação de seu parceiro. Ela diz que os dois têm uma última missão: descobrir quem o assassinou em sua outra vida.
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Para Elísio Lopes Jr., o processo de criação foi intenso e marcado pelas incertezas da pandemia. “Foi muito louco escrever sem saber se essa série iria mesmo ser feita, se estaríamos vivos, se alguém leria aqueles roteiros. Acho que o público pode esperar uma série que instiga, que vai além do terror, mas que não abandona o melodrama, tudo isso com protagonismo preto”, compartilha o autor.

Além de ‘Reencarne’, o criador também está envolvido em outras grandes produções, como a próxima novela das seis da TV Globo, ‘A Nobreza do Amor’, a peça ‘Torto Arado – O Musical’ e o longa ‘Quando Casa Maria Helena?’. Para ele, essa multiplicidade reflete amadurecimento e propósito. “Eu sou um contador de histórias. Entender isso libertou meu olhar para todos os palcos. A tela também é um palco”, explica.
Leia a entrevista completa abaixo:
- MN: ‘Reencarne’ é uma das séries brasileiras mais aguardadas do ano, um suspense que explora os dilemas entre a vida e a morte. Como foi, para você, a experiência de colaborar na escrita dessa história e o que o público pode esperar dessa trama?
R: Nós, autores de ‘Reencarne’, temos uma forma linear de criar. Nos encontramos, todos dão ideias, dividimos as cenas pelos desejos de cada um, depois juntamos, lemos e ajustamos cada capítulo. Esse modelo transforma a criação num processo ativo todo o tempo. Essa série foi escrita durante a pandemia, a vida e a morte estavam em pauta, e a gente pensando em reencarnação. Foi muito louco escrever sem saber se essa série iria mesmo ser feita, se estaríamos vivos, se alguém leria aqueles roteiros. Colocamos todas as nossas dúvidas, questionamentos, imaginação pós-vida. Acho que o público pode esperar uma série que instiga, que vai além do terror, mas que não abandona o melodrama, tudo isso com protagonismo preto.

- MN: Você está à frente de quatro grandes produções neste momento — ‘A Nobreza do Amor’, ‘Reencarne’, ‘Torto Arado – O Musical’ e ‘Quando Casa Maria Helena?’. O que esse momento múltiplo diz sobre o seu amadurecimento como criador?
Eu sou um contador de histórias. Entender isso libertou meu olhar para todos os palcos. A tela também é um palco, e o desafio foi aprender a criar para cada espaço. No meu aprendizado, o segredo foi entender quem está do outro lado. Me comunicar sempre foi uma prioridade na arte. O público de teatro te escolhe, no público de TV aberta você esbarra nele sem querer, a tv está ligada e de repente começa a novela, a gente entra na casa das pessoas sem pedir, o cinema te conquista pelas paixões, e cada formato tem as suas divindades.
O teatro é a minha origem. O desafio de adaptar e dirigir o musical ‘Torto Arado’ me inquietou. Como levar ao palco um livro consagrado, que fala de tantos assuntos dolorosos e duros? Mas a fé do povo negro e do povo indígena é uma fé que dança e canta. Cultuamos através do movimento e da música, então essa era a chave para esse espetáculo. Desde que estreamos em Salvador, depois nas temporadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, o público está lotando as plateias e dizendo que deseja conhecer mais a sua própria história.
E isso vem acontecendo também na TV e no cinema. Queremos nos ver, para além do olhar do outro. Queremos que os personagens desejados, invejados, admirados, paquerados, pareçam com a gente, com quem a gente ama e odeia. Queremos o direito a sermos vilões e mocinhos dos nossos próprios dramas. Tanto a novela ‘Nobreza do Amor’, quanto o longa ‘Quando casa Maria Helena?” são produções com protagonismo preto e que falam da nossa humanidade.

- MN: Após estrear como o primeiro autor negro a assinar uma novela da Globo em ‘Amor Perfeito’, agora você assume o cargo novamente em ‘A Nobreza do Amor’. O que esse feito significa para a comunidade negra noveleira? E qual a importância de autores negros em outras produções audiovisuais e no teatro?
R: Ser o primeiro não pode bastar. Estou num movimento como criador de expandir o olhar do público. Foram muitos anos da TV, o cinema, a literatura clássica brasileira criando arquétipos e lugares onde não cabiam personagens como os que eu desejo colocar no mundo. Eu acredito que precisamos nos acostumar com a possibilidade de colocarmos nossos desejos e fragilidades no centro das histórias, sem temer que a cor da nossa pele seja mais importante do que o que sentimos. Vai ter preto falando de amor, de reencarnação, fazendo comédia, montando a cavalo e salvando o mundo.

- MN: Entre o teatro, o cinema, o streaming e a TV aberta, qual dessas linguagens mais o desafia como roteirista e por quê?
A TV aberta por ser uma arena livre, o público é imponderável. A gente não tem como agradar a todos. Os demais formatos você tem o público que escolhe te assistir, consumir a sua história. Já na TV aberta não. Você está dentro da casa das pessoas, uma novela chega todos os dias no mesmo horário e você passa a conhecê-la, a gostar dela ou não. Essa responsabilidade de conseguir falar com tanta gente diferente é um desafio para qualquer contador de histórias. Eu acredito nas novelas. Nós gostamos de acompanhar a vida dos personagens, de ter companhia, de poder opinar e saber se errou ou acertou. Acho que é o nosso papel como criadores: termos afeto pelo público que senta todo dia na frente da TV querendo ser entretido. Desejar atingir nosso público dá sentido ao que criamos.
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