
Alberto Cordeiro, diretor de Estratégia, Transformação e Governança da Natura, é o único brasileiro de grande empresa a figurar na lista MIPAD 2025 – Global Top 40 Under 40, reconhecendo pessoas afrodescendentes mais influentes com menos de 40 anos em parceria com as Nações Unidas. Em entrevista exclusiva ao Mundo Negro, Cordeiro afirmou que o prêmio é, acima de tudo, uma responsabilidade: “Representar não apenas uma trajetória pessoal, mas um coletivo historicamente sub-representado em espaços de influência, é algo que levo com seriedade e compromisso”. Para ele, a nomeação valida anos de dedicação à liderança com propósito.
Cordeiro destaca que seu trabalho vai além da representatividade. O diretor de estratégia busca estruturar oportunidades para talentos negros de forma sustentável, criando plataformas como a Conferência Juntos, que já impactou milhares de profissionais por meio de contratações, bolsas e outras oportunidades. “Mais do que representar, procuro agir com consistência e intenção. Porque presença por si só é um passo, mas presença com influência e capacidade de decisão é o que realmente transforma ecossistemas”, explica.
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Entre os próximos passos, Alberto pretende integrar diversidade de forma estratégica nos negócios. “Sigo comprometido em aprofundar o debate sobre equidade racial nos espaços de poder que ocupo. Isso significa trazer consistência, dados e intencionalidade às conversas, mesmo em conversas informais. Provocar reflexões estruturadas, formar aliados e manter esse tema ativo nas agendas decisórias são movimentos contínuos e estratégicos para a transformação que desejamos”, conclui.

Entrevista completa abaixo:
MN: Como você recebeu a notícia de ter sido nomeado pelo MIPAD-Nações Unidas como uma das Pessoas Afrodescendentes Mais Influentes com menos de 40 anos? O que esse reconhecimento representa para você pessoalmente e para sua trajetória profissional?
Alberto: Receber a nomeação do MIPAD, em parceria com as Nações Unidas, foi uma honra imensa. Ao mesmo tempo, um momento de pausa e reflexão. Fui surpreendido com a notícia, mas o sentimento mais forte foi de responsabilidade. Representar não apenas uma trajetória pessoal, mas um coletivo historicamente sub-representado em espaços de influência, é algo que levo com seriedade e compromisso.
Pessoalmente, esse reconhecimento valida anos de dedicação a uma agenda intencional com propósito claro: transformar contextos, ampliar vozes e entregar resultados com impacto social.
É simbólico porque consolida uma jornada marcada por escolhas muitas vezes contramajoritárias, mas sempre alinhadas a valores de equidade, excelência e liderança com propósito.
Profissionalmente, essa nomeação é um marco estratégico. Ela reforça que é possível conciliar performance com consciência, e que ocupar espaços de decisão sendo quem somos, com autenticidade e visão de futuro é uma vantagem competitiva, não um risco.
O prêmio não é apenas sobre o que construí até aqui, mas sobre o que essa visibilidade pode abrir em termos de novas conexões, agendas globais e oportunidades de gerar impacto sistêmico.
Ser reconhecido entre as Pessoas Afrodescendentes Mais Influentes com menos de 40 anos é um indicativo de que nossa presença é relevante, e necessária, na construção de soluções para os desafios contemporâneos. A representatividade é importante, mas é a representatividade com entrega que transforma estruturas. E é essa entrega que sigo comprometido em ampliar.

MN: De que forma você acredita que seu trabalho contribui para ampliar as vozes e oportunidades para outras pessoas negras?
Alberto: Acredito que o verdadeiro impacto se dá quando o propósito encontra estrutura. É nessa interseção que tenho concentrado meu trabalho: promovendo a inclusão de pessoas negras de forma estratégica e sustentável, com foco tanto em acesso quanto em permanência em espaços de influência.
Tenho buscado atuar em duas frentes que se complementam: a criação de mecanismos concretos para acelerar talentos negros e a provocação ativa de mudanças dentro das estruturas de poder já estabelecidas. Esse posicionamento se materializou, por exemplo, na criação da Conferência Juntos, uma plataforma coletiva que nasceu com o objetivo claro de ampliar a presença negra em posições de destaque e que, hoje, já contabiliza milhares de pessoas impactadas por meio de contratações, bolsas e oportunidades de desenvolvimento profissional.
Mas esse compromisso não se limita a grandes iniciativas. Ele também se traduz no dia a dia: nas mentorias que ofereço, nos conselhos dos quais faço parte, nas políticas que ajudo a desenhar e nas decisões que buscam garantir que portas abertas permaneçam acessíveis a quem vem depois.
Mais do que representar, procuro agir com consistência e intenção. Porque presença por si só é um passo, mas presença com influência e capacidade de decisão é o que realmente transforma ecossistemas.
MN: Quais foram os principais desafios que você enfrentou no caminho até aqui e como eles moldaram sua visão de liderança e influência?
Alberto: Ao longo da minha trajetória, enfrentei desafios que, embora individuais, refletem dinâmicas estruturais. Ser uma pessoa negra no Brasil significa lidar, de forma contínua, com microagressões, subestimações sutis, e por vezes explícitas, que afetam não apenas a autoestima, mas a performance e a percepção de valor profissional.
Durante muito tempo, esses obstáculos consumiram energia estratégica que poderia ter sido direcionada para inovação, liderança e crescimento. Reconhecer esse padrão foi essencial para que eu pudesse ressignificar minha trajetória, redirecionar esforços e assumir o protagonismo com mais intencionalidade.
Esse processo coincidiu com a chegada de apoios institucionais e individuais consistentes (mentores, programas de desenvolvimento, lideranças que apostaram no meu potencial). Foi esse suporte que me deu a estabilidade emocional e estrutural necessária para performar em alto nível. E essa vivência moldou profundamente minha visão sobre liderança.
Hoje, enxergo a liderança como a capacidade de criar ecossistemas de confiança e desenvolvimento. Liderar é abrir espaço para que outras pessoas floresçam com liberdade, clareza de propósito e suporte real. É uma gestão baseada em inclusão intencional, onde o sucesso individual é construído a partir de um compromisso coletivo.
Se alcancei esse espaço, é porque alguém apostou. E minha responsabilidade agora é retribuir sistematizando esse ciclo de oportunidades para que ele se torne regra, não exceção.
MN: Quais são os próximos projetos ou metas que você pretende desenvolver para potencializar ainda mais o impacto que já vem causando?
Alberto: Uma das principais frentes que estou desenvolvendo atualmente é o fortalecimento da conexão entre diversidade e estratégia de negócio, não como narrativa, mas como competência essencial para sustentabilidade, inovação e geração de valor no longo prazo.
Tenho atuado para demonstrar, de forma concreta, como a inclusão qualificada de diferentes perspectivas melhora a qualidade das decisões e amplia a capacidade de inovação das organizações. Seja em fóruns estratégicos ou no desenho de políticas corporativas, meu foco tem sido integrar diversidade como parte essencial do negócio, e não como uma pauta acessória.
Além disso, sigo comprometido em aprofundar o debate sobre equidade racial nos espaços de poder que ocupo. Isso significa trazer consistência, dados e intencionalidade às conversas, mesmo em conversas informais. Provocar reflexões estruturadas, formar aliados e manter esse tema ativo nas agendas decisórias são movimentos contínuos e estratégicos para a transformação que desejamos.
Meu objetivo é consolidar projetos que não apenas falem sobre impacto, mas que o entreguem com escala, mensuração e perenidade.
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