
Gabi Oliveira, uma influenciadora que se destaca por sua “maturidade, inteligência e consciência do papel” de comunicadora, compartilhou com Fátima Bernardes suas profundas reflexões sobre a estética da mulher negra, o poder da internet, a maternidade solo e a importância de uma rede de apoio. Com mais de 600 mil seguidores em uma única rede social, Gabi, de 33 anos, aborda suas vivências “com muita naturalidade” e “muita verdade”, características que Fátima Bernardes admira.
A Jornada de “Gabi de Pretas”: Despertar para a Estética e Identidade Negra
A entrada de Gabi Oliveira no universo digital, em 2015, foi motivada por uma questão pessoal e uma percepção de injustiça. O nome “Gabi de Pretas” surgiu de forma “básica” por não ser “muito criativa” na época, mas logo se tornou um marco em seu propósito. Sua transição capilar durante a universidade foi o ponto de partida para aprofundar a discussão sobre a estética da mulher negra, percebendo que “a conversa não terminava no cabelo”. As mulheres questionavam-se: “Ah, mas por que a gente fala tão mal do nosso próprio cabelo, da nossa própria estética? Por que a gente rejeitou tanto isso desde a infância? Porque foi ensinado que isso era feio?”. Essa indagação a impulsionou a usar a internet para promover um debate mais amplo e acessível sobre as raízes do racismo estrutural no Brasil, que impacta diretamente a autoimagem da população negra.
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Influência e Internet: Compromisso com a Mudança Social
Formada em Relações Públicas, Gabi sentiu a “injustiça” de ver os importantes debates raciais ficarem restritos ao ambiente universitário, especialmente porque “a maior parte da população negra não vai acessar a universidade, infelizmente”. Apesar de se descrever como “muito tímida”, sentiu que “nasceu para isso”, e essa convicção a levou a “comprar uma câmera e ligar essa câmera”. A responsabilidade sempre foi um pilar em seu trabalho, ciente de que “cara, isso vai ficar na internet para sempre, para sempre; enquanto isso durar, enquanto essa plataforma durar, a responsabilidade eu sempre tive”. Sua atuação online se traduziu em um ativismo direto para pressionar a indústria da beleza. Gabi recorda a invisibilidade do mercado da mulher negra, onde as bases de maquiagem nacionais, por exemplo, “iam só até o tom da Tais Araujo até pouco tempo atrás”. Sua argumentação com as marcas era estratégica e incisiva: “Gente, vocês querem lucro? Tem um público aqui que vocês não estão atendendo, que está sedento para ser atendido, e vocês estão ignorando simplesmente por conta do racismo, basicamente”. Ela também enfatizou a necessidade de capacitar as equipes de atendimento nas lojas, pois “não adianta ter o produto e a pessoa se sentir intimidada na hora de entrar na loja, se sentir desrespeitada, não ter um bom atendimento; então precisa também ter esse treinamento para quem está na loja atendendo, não?”. A alegria de Gabi é ver o impacto dessas mudanças, como crianças negras hoje exibindo seus cabelos naturais “cacheados e crespos” nas praças, algo inimaginável no passado. Para ela, “sim, valeu muito a pena produzir conteúdo pra internet e produzir e gerar uma certa pressão na sociedade também para que as coisas mudassem”.
Maternidade Solo e Adoção: Planejamento, Flexibilidade e Autonomia
O desejo de ser mãe sempre acompanhou Gabi, que “sempre pensou desde novinha” em ter filhos. A escolha pela adoção solo de dois irmãos biológicos mais velhos, um deles com deficiência intelectual, foi um processo consciente que começou de forma prática: “Literalmente joguei no Google como iniciar um processo de adoção”. Gabi compreendeu que a prioridade é sempre o bem-estar da criança, afirmando que “a nossa prioridade é a criança encontrar uma família que consiga suprir as demandas dela”, e não se deve tentar ser “super-herói” para evitar mais rompimentos de vínculo. Ela também ressalta a realidade das crianças em abrigos, onde “a criança basicamente é criada ali no carrinho; necessidades básicas: alimentar, dar banho e botar para dormir”. A chegada dos filhos trouxe uma intensidade inesperada, com “privação de sono” e a sensação de estar “igual um zumbi” nos primeiros meses. Contudo, Gabi construiu uma “rede bem grande” de apoio, diferenciando sua maternidade solo planejada de situações de abandono: “eu não sei exatamente esse lugar, porque foi planejado ser solo; é muito diferente da mulher que planeja compartilhar a maternidade e depois se ver abandonada”. A experiência da maternidade ensinou-lhe a lidar com o inesperado: “o imprevisível tá ali pra gente lidar com ele”. Para Gabi, “um dos grandes ensinamentos, para mim, foi mais ainda a flexibilidade, porque eu comecei a perceber ainda mais que não era tudo 8 ou 80; nem tudo sai como planejado ou como você quer”. Ela preza pela autonomia dos filhos, inclusive do que tem deficiência intelectual: “Mário, eu não estou criando filhos para ficarem na minha dependência para sempre; independente de ele ter deficiência intelectual, a gente preza pela autonomia dele”. Sobre o uso de telas, Gabi demonstra que é possível reverter hábitos, mesmo que já estabelecidos. Aos pais e mães “agoniados”, ela afirma: “Dá para limitar depois; eu fui e a primeira coisa que eu fiz foi tirar o tablet”. Sua postura é de firmeza e coerência: “a gente tem que ser firme, né? A gente tem que ser o adulto da relação; nós somos os adultos da relação, então se é não, é não”. Ela também aborda a história de origem dos filhos com naturalidade, afirmando que “a gente trata com muita naturalidade a história deles; eu falo passo a passo, toda vez que eles perguntam, falo o nome dos pais biológicos”, sem anular suas raízes. A maternidade, apesar dos desafios, trouxe-lhe uma “liberdade muito profunda”, mudando sua perspectiva e fazendo com que “muito pouca coisa me abala” hoje em dia.
Pilares e Valores: Família, Educação e Confiança
A base de quem Gabi Oliveira é hoje, segundo ela, é “definitivamente a minha família, principalmente a minha mãe; com certeza, ela sempre foi uma referência para mim”. Ela se sente “muito amada e muito protegida”, com uma “proteção de saber que eu tenho para onde voltar”. A sabedoria de sua avó analfabeta também foi fundamental: “A gente aprende estudando, mas a gente também aprende ouvindo”. Seu pai, um homem negro que sempre defendeu a ocupação de espaços, incutiu nela a convicção de que “a gente pode entrar em qualquer lugar”. Seus pais, segundo Gabi, “sempre confiaram muito, assim: não, a gente confia que vai dar certo, a gente confia que você vai conseguir, a gente confia”, uma confiança que ela busca replicar na educação de seus filhos. Gabi compartilha que a maternidade também a abriu para novas experiências, inclusive em relacionamentos. Ela tem saído bastante e está aberta a conhecer novas pessoas, com uma nova perspectiva: “não deu certo, no dia seguinte eu tenho que acordar, botar as crianças pra escola, entendeu? Não dá mais para ficar”. Essa tranquilidade e “liberdade muito grande” são frutos da experiência de ser mãe, que a fez perceber que “o relacionamento vai no momento que é bom para você, é para somar e tal”.
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