
Amo minha raça, luto pela cor, o que quer que eu faça é por nós, por amor — Racionais MC’s
Texto: Luciano Ramos
Notícias Relacionadas



Afirmar-se publicamente como uma pessoa negra e orgulhosa da raça não era uma coisa simples para muitos afrodescendentes da maneira que é hoje. O racismo brasileiro é tão perverso que estimulava os negros a mutilarem a própria identidade, a negarem as origens étnicas e assumirem os valores e a estética que dialogam com a cultura eurocêntrica. Isso ainda persiste. A promessa implícita para os que se propõem a seguir essa lógica é receber um caloroso “seja bem-vindo” nos espaços segregados. No entanto, é uma ilusão, a tolerância quando acontece não pode ser confundida com acolhimento. E a busca pelo inatingível deixa marcas profundas na saúde mental, o adoecimento é inevitável quando o negro tenta a todo custo ajustar-se a uma cultura estranha.
Felizmente, crescemos, evoluímos no conhecimento e, diferentemente do passado, existe uma massa de negros ostentando as raízes, consumindo a cultura africana e afro-brasileira sem a necessidade de dar explicação e se desculpar por serem quem são. O próprio Dia de Zumbi dos Palmares e Consciência Negra (20 de novembro) revigora a luta. Nesse mês, rememoramos as histórias e lições de nossos ancestrais e demonstramos à sociedade que os negros estão juntos contra qualquer forma de exclusão e violência. Denunciamos os mecanismos de dominação que carregam em sua essência a manutenção ininterrupta do genocídio da população negra, ignorando que “a gente combinamos de não morrer” como nos lembrou a escritora Conceição Evaristo.
Essa resistência consciente não surgiu do nada. Ela emerge através da sabedoria dos nossos ancestrais, conhecimentos que atravessam gerações, difundidos no campo oral, na prática e na teoria. Ao beber dessa fonte, movimentos negros, intelectuais, ativistas e apoiadores das lutas antirracistas articulam o enfrentamento em diferentes camadas para as demandas negras ecoarem e serem transformadas em políticas públicas.
A população negra brasileira é enorme. Somos mais da metade da população, pretos e pardos presentes na mesma categoria racial. Esse contingente populacional deixa a branquitude em estado de atenção, sabem que temos potencial revolucionário. A história dos povos negros no Brasil e no mundo tem muitos registros nesse sentido. O que não pode é essa massa populacional se deixar enganar por migalhas ou ideias que fragmentem a nossa resistência. Ainda que tenhamos divergências nos métodos de luta, saibamos respeitar e compreender as diferenças existentes na comunidade negra, porque acima de tudo o racismo nos torna um corpo único. Estamos por nossa conta, enfrentando a todos que não nos enxergam como humanos.
Notícias Recentes


