Tradição e inovação na beleza — Make para Negras: Angélica Silva revela tendências e inclusão no universo da beleza

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Tradição e inovação na beleza — Make para Negras: Angélica Silva revela tendências e inclusão no universo da beleza
Foto: Angélica Silva

A maquiagem para mulheres negras sempre enfrentou desafios na indústria da beleza. Durante muito tempo, produtos específicos para tons de pele mais escuros foram escassos ou inexistentes, o que obrigava as mulheres negras a improvisar e adaptar produtos que não foram feitos pensando nelas. Esse cenário tem mudado aos poucos, impulsionado por profissionais que lutam por mais diversidade, inclusão e representatividade no mercado.

Um exemplo importante desse movimento é a maquiadora Angélica Silva, que vem conquistando espaço como uma das maiores especialistas em beleza para peles negras no Brasil. Com vasta experiência e uma atuação reconhecida nas redes sociais, Angélica é referência para quem busca dicas e técnicas que valorizam a beleza negra com autenticidade e respeito. Ela também assinou a direção de beleza do recente lançamento da Boca Rosa, ao lado de Bianca Andra, CEO da marca, e Luiz Cantu, expert em beleza.

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Em entrevista exclusiva para o Mundo Negro, a beauty expert Angélica Silva compartilha suas reflexões e experiências sobre maquiagem para mulheres negras. Abordando temas que vão desde a importância do contorno labial até as tendências atuais de batons, Angélica traz um olhar profundo sobre como a indústria da beleza tem evoluído para incluir e valorizar a diversidade das peles negras.

Pergunta: O contorno labial tem raízes profundas na estética das mulheres negras, mas só recentemente voltou ao radar das tendências mainstream. Como você enxerga esse movimento e o que ele representa culturalmente?

Resposta de Angélica:
“O contorno labial, na verdade, nasceu de uma necessidade. A falta de acesso e investimento da indústria em produtos para peles escuras fez com que essas mulheres improvisassem em um contorno que valorizasse os batons que eram produzidos naquela época; era uma forma de adaptar o que era criado somente para mulheres brancas, para os lábios não ficarem acinzentados ou esbranquiçados por conta de todo pigmento branco que era colocado no cosmético. As mulheres pretas contornavam os lábios para adequar aquele tipo de produto ao seu tom de pele; tudo isso está mais ligado à questão de pertencimento.”

A beleza dos lábios naturalmente volumosos das mulheres negras é tema de muita conversa e ainda carrega tabus. Angélica destaca como as tendências se adaptaram e como o mercado começa a reconhecer essa estética de forma mais genuína.

Pergunta: Entre os produtos labiais que você testou nos últimos tempos, quais tendências realmente funcionam para os nossos lábios especialmente em quem tem lábios naturalmente volumosos? Ainda existem muitos tabus nesse tema?

Resposta de Angélica:
“Mulheres pretas se adaptam muito bem a todas as tendências atuais que carregam fortemente a estética que nós criamos e mantemos ainda hoje. Em um período dos anos 2000, contornar os lábios se tornou algo ‘cafona’ para quem ditava tendências. Os lábios coloridos foram chegando com força em tons arroxeados, vermelhos alaranjados e aquele rosa Danoninho que não valoriza em NADA a pele negra. Isso não impediu essas mulheres de se adaptar mais uma vez e fazer combinações para adaptar cada tonalidade. Eu escutei bastante na minha infância que mulheres negras, por ter a boca maior e mais volumosa, não ‘precisava’ de batom, com a desculpa de que o cosmético era somente para essa finalidade. Com o tempo entendi que, na verdade, quem não tinha boca grande não estava adepto a usar cores chamativas ou contornos labiais, um exemplo é o uso de preenchimentos labiais hoje na área estética. É quase obrigatório ter uma boca carnuda e preenchida. Mulheres negras investem em lip combos que acompanhem a tendência atual, mas em tons específicos pra elas.”

A durabilidade do batom é uma preocupação constante. Angélica compartilha dicas práticas para quem quer garantir um acabamento perfeito, seja com batons matte ou glossy.

Pergunta: Na prática, o que faz diferença para o batom durar mais nos lábios? Tem alguma dica ou truque que você usa pra manter a cor bonita mesmo depois de comer ou falar muito?

Resposta de Angélica:
“É uma questão de acabamento; se você gosta de durabilidade, vai optar por batons e lápis em acabamento matte que secam, não transferem e são à prova d’água. Se você gosta de um acabamento glossy, molhado e cheio de textura, vai precisar abrir mão da durabilidade e ter a noção de que o retoque vai ser necessário. O contorno pode ser o mais resistente possível, assim que entra em contato com balms hidratantes ou gloss que contêm óleos e hidratantes potentes, ele acaba diluindo e ficando mole. O ideal é combinar um lápis, como esse lançamento da Boca Rosa que se comporte bem com ambos os produtos, tanto matte quanto gloss, e pensar em qual estética está disposta a entregar.”

Ter mulheres negras na equipe de desenvolvimento de produtos e na criação de campanhas é essencial para que os lançamentos façam sentido e atendam às reais demandas desse público.

Pergunta: As colaborações entre influenciadoras negras e grandes marcas ainda são poucas, mas começam a ganhar força. O que significa pra você ter assinado a beleza de uma campanha nacional ao lado do Cantu?

Resposta de Angélica:
“Poder ver de perto a indústria realmente incluindo pessoas negras com certeza tem um diferencial pra tudo. Nada começa no produto final, o pertencimento começa na equipe que está desenvolvendo aquele produto e aquela campanha. E isso que fazem na Boca Rosa desde o início, com a inclusão de diversos tons de base sabe? É óbvio que, se você é uma CEO branca e não contrata pessoas pretas para sua empresa de beleza, você não vai ter noção de como funciona realmente esse mercado. Se, pra além de um produto, você faz questão de ter uma equipe diversa, você entende que empreender em beleza vai além de venda de produto. No caso de mulheres pretas que não tiveram acesso, isso significa pertencer. Não somos a minoria, queremos produtos feitos pensados em nós de verdade. Mulheres negras movimentam bilhões em consumo ao ano, mas elas aprenderam que o que não foi feito pra elas não merece o dinheiro delas e as marcas precisam se movimentar pra isso.”

A escolha das cores que mais combinam com diferentes subtons da pele negra pode transformar a experiência da maquiagem, elevando a autoestima e a expressão pessoal.

Pergunta:Na hora de escolher a cor do batom, muitas pessoas negras ainda têm receio de ousar. Que tons você acha que estão em alta e que valorizam a nossa diversidade de peles, subtons e estilos?

Resposta de Angélica:
“Eu bato na tecla do batom marrom há muuuuuuitos anos e realmente faço questão de direcionar produtos que realmente valem a pena o investimento. Na verdade, o batom marrom nada mais é do que o nude em peles negras, o que vai diferenciar é a tonalidade, intensidade e subtom. Você pode investir em batons com mais pigmento que não leva fundo branco, porque na hora da aplicação aquele fundo ressalta. Batons com fundos quentes mais fechados, como terracota, vinho, marrons profundos com um toque berinjela, marrons quentes numa pegada chocolate e até um roxo mais profundo, que nas peles negras revelam um rosado ideal e nesse lançamento de Boca Rosa, temos tons ideais para isso. Já tinha opções nesse estilo na primeira leva, mas agora temos outras novas cores para trazer ainda mais diversidade. Parece algo provável, mas consumir conteúdo de mulheres parecidas com você ajuda demais nessa questão. Geralmente, criadoras de conteúdo negras têm maior acesso a tonalidades, tendo em vista que as marcas direcionam seus produtos pela cartela de cor, isso facilita até numa escolha de base ou maquiagens em geral.”

Considerações finais

A entrevista com Angélica Silva evidencia como a maquiagem para mulheres negras vem ganhando cada vez mais espaço e reconhecimento no mercado da beleza. É possível perceber uma evolução real na oferta de produtos que atendem às necessidades específicas dessas peles, acompanhada de uma maior representatividade e inclusão nas equipes por trás das campanhas. Esse movimento fortalece não só a autoestima das mulheres negras, mas também transforma a indústria, tornando-a mais diversa, justa e conectada com a riqueza e potência da beleza preta.

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