Reconhecimento facial de SP confunde aposentado negro com foragido branco; Homem fica 10 horas sob custódia da polícia

0
Reconhecimento facial de SP confunde aposentado negro com foragido branco; Homem fica 10 horas sob custódia da polícia
Fotos: Edson Lopes Jr./SECOM

O sistema de reconhecimento facial Smart Sampa, da Prefeitura de São Paulo, identificou erroneamente um aposentado de 80 anos como um estuprador foragido. Francisco Ferreira da Silva foi abordado por guardas civis metropolitanos (GCM) enquanto cuidava do jardim de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), onde atua como voluntário, e ficou cerca de 10 horas em delegacias até ser liberado. A família planeja acionar a Justiça.

O episódio ocorreu em 20 de dezembro de 2024, em Cidade Tiradentes, zona leste da capital. Francisco trabalhava como voluntário na UBS Jardim Dom Angélico, no bairro onde mora, quando foi cercado por agentes da GCM e levado para a delegacia. Uma das netas do aposentado, que estava na UBS para uma consulta, presenciou a abordagem e tentou intervir, sem sucesso. O homem procurado pela Justiça tem semelhanças físicas com Francisco, mas nome e dados pessoais não coincidem: “Eles se parecem, mas o homem é branco, e meu pai é pardo”, disse Adriana Ferreira, 36, filha do aposentado em entrevista ao Uol. “Disseram que verificariam as digitais.”

Notícias Relacionadas


A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) afirmou, em nota, que o sistema é eficiente e que “ninguém foi preso por equívoco após reconhecimento facial”. Disse ainda que Francisco foi levado à delegacia porque, durante a abordagem, “não foi possível confirmar sua identidade”. O idoso passou cerca de 10 horas sob custódia – foi levado primeiro para uma delegacia em Itaquera e depois para outra em São Mateus. “Fiquei muito preocupada. Ele tem diabetes e nem tinha tomado café da manhã”, relatou Adriana.

“Não o trataram mal, mas fizeram brincadeiras, dizendo que ele ia dormir lá. E todo esse processo demorou. Deveria ser mais rápido, principalmente pela idade que ele tem”, completou. A família afirma que Francisco passou a sair de casa “camuflado” após o erro. “Ele agora só sai de óculos escuros e moletom”, contou Adriana.

Apesar de liberado, a polícia alertou que o equívoco pode se repetir. “Nem pediram desculpas. Disseram que não têm muito o que fazer e que ele pode ser abordado de novo, porque a imagem não apaga”, disse a filha.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou não ter registro do caso nas delegacias citadas. A família, no entanto, registrou um boletim de ocorrência.

O advogado da família, Alexandre Pacheco Martins, defende que a Prefeitura e o consórcio responsável pelo Smart Sampa sejam responsabilizados: “Talvez o sistema não seja tão ‘smart’ assim”, disse, em referência ao termo em inglês para “inteligente”. “É crime privar alguém da liberdade fora das hipóteses legais.”

Guilherme Madeira Dezem, professor de Direito da USP e Mackenzie, especialista em inteligência artificial, critica a divulgação de um “prisômetro” pelo governo municipal enquanto erros do sistema são omitidos: “Em geral, as vítimas desses equívocos são pessoas negras e periféricas”, afirmou. “Precisamos discutir os limites da privacidade e o uso dessas imagens.”

Em nota, a Prefeitura afirmou que o Smart Sampa já capturou 990 foragidos e fez mais de 2.200 prisões em flagrante, afirmando que o sistema possui “ampla aprovação popular”. Quanto ao caso de Francisco, reiterou que ele foi liberado após exame de digitais e que o sistema segue “protocolos rígidos”.

(Com informações de UOL)

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display