
O caso de racismo sofrido pelo jogador do Palmeiras, Luighi, durante a partida contra o Cerro Porteño, pela Libertadores Sub-20, no Paraguai, na última quinta-feira (6), continua gerando repercussão. O advogado Hédio Silva Júnior, fundador do JusRacial e ex-secretário de Justiça de São Paulo, criticou o Palmeiras pela falta de medidas efetivas para proteger o atleta e punir os responsáveis: “Esperava que o Palmeiras ou a CBF finalmente resolvessem levar o assunto a sério mas, lamentavelmente, continuam enxergando a dor de Luighi e de tantos outros jovens negros como “assunto de preto”, algo banal, irrelevante e tratado com improvisação e amadorismo”, declarou.
O episódio ocorreu no Estádio Gunther Vogel, em San Lorenzo, quando Luighi e o colega de time Figueiredo foram alvos de insultos racistas. Figueiredo relatou que um torcedor, com uma criança no colo, fez gestos imitando um macaco em sua direção. Já Luighi foi chamado de “macaco” e ainda recebeu uma cusparada. O jogador denunciou o ocorrido ao árbitro Augusto Menendez, mas a partida seguiu sem intervenção. Após o jogo, Luighi desabafou em entrevista, questionando: “Até quando a gente vai passar por isso? O que fizeram comigo foi um crime”.
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Dr. Hédio Silva Júnior, por meio do JusRacial, enviou uma notificação extrajudicial à Conmebol exigindo explicações sobre o episódio. Ele também criticou o Palmeiras por negligenciar a defesa do jogador. “O Palmeiras não pleiteou a punição do juiz por não ter interrompido a partida, não questionou a súmula do jogo, uma prova essencial para sabermos inclusive se o juiz foi devidamente treinado para lidar com uma situação dessas. Afirmou publicamente que o Cerro Porteño é reincidente, mas não requereu certidão de reincidência de modo a agravar as punições ao clube”, afirmou.
Além disso, ele ressaltou que o Paraguai, apesar de não ter uma lei específica contra a discriminação racial, é signatário de uma convenção internacional que prevê indenização para vítimas de racismo.
O ex-secretário de justiça de São Paulo espera que a Conmebol dê uma resposta satisfatória à notificação enviada pelo JusRacial. “Não é razoável que as pessoas não se sensibilizem com a coragem de Luighi e seu desabafo pungente. Espero que o Palmeiras ou a CBF finalmente levem o assunto a sério”, disse.
Conmebol e conivência com o racismo
O advogado também acusou a Conmebol de conivência com casos de racismo. “A Conmebol não orientou ou treinou o árbitro para interromper a partida, fixou multa abaixo do valor previsto para publicidade irregular e puniu o Cerro Porteño com campanhas publicitárias, que sabemos não terem utilidade prática”, afirmou. Ele destacou que a entidade não impôs sanções que obriguem o clube paraguaio a prevenir futuros episódios. Como punição pelo caso de racismo, a Conmebol determinou que o Cerro Porteño pague uma multa de 50 mil dólares, a realização de uma postagem nas redes sociais e a ausência de público na Libertadores Sub-20 – onde o time já está eliminado.
Próximos passos
Caso a Conmebol não atenda às solicitações da notificação, o JusRacial pretende judicializar o caso. “Com as respostas em mãos, vamos manejar ações judiciais que obriguem a Conmebol e os times a adotarem medidas preventivas e permanentes”, explicou Hédio Silva Júnior. Ele defende a imposição de penalidades como anulação de partidas, perda de pontos e exclusão de times envolvidos em casos de racismo.
Posição do Palmeiras
A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, sugeriu em entrevista à TNT que os clubes brasileiros deixem a Conmebol e se filiem à Concacaf. No entanto, o Dr. Hédio Silva Júnior vê a proposta com ceticismo. “Tenho a melhor das impressões da Leila [Pereira, presidente do Palmeiras], mas parece piada a tentativa de nos convencer que o Palmeiras iria abdicar da Libertadores ou de outros campeonatos sul-americanos; ademais, o papel do Palmeiras deveria ser utilizar toda normativa da Conmebol, da Fifa, a legislação do Paraguai, do Brasil e, inclusive, da Corte Interamericana de Direitos Humanos para buscar uma resposta miseravelmente satisfatória para o Luighi e inaugurar um novo capítulo nesse filme antigo que é o racismo no futebol”, destacou.
Leila também criticou em entrevista à Cazé TV antes do Choque-Rei que aconteceu na segunda-feira (10) pela semifinal do Paulistana, a penalidade aplicada pela Conmebol: “A penalidade que a Conmebol determinou foi ridícula”, disse. Ela também criticou o valor da multa aplicada pela Conmebol, afirmando que encaminhou uma carta à FIFA para que a organização intervenha. Para Leila, o destino da multa cobrada pela Conmebol é “absurdo”: “Engraçado que os 50 mil dólares vai para a própria Conmebol. Não vai para a vítima. O valor é ridículo e mesmo esse valor ridículo, vai para os bolsos da Conmebol. Isso é absurdo”.
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