A moda contemporânea tem se tornado um campo cada vez mais rico para o diálogo entre o presente e o passado, onde a ancestralidade emerge como um elemento fundamental para a construção de narrativas criativas. Expandindo sua visão para além dos tecidos ou adornos, a ancestralidade na moda traz consigo uma reflexão profunda sobre as raízes culturais e históricas que moldam a identidade, traduzidas de maneiras inovadoras, desde o uso de materiais até as histórias que sustentam as coleções.
Andreza Ferreira, fundadora da escola de moda Neit, tem sido uma voz importante nesse movimento, propondo uma nova abordagem para a educação e a criação de moda. Inspirada pela divindade egípcia Neit, protetora da tecelagem, ela fundou uma instituição onde as narrativas negras são o ponto central da formação criativa. “Durante minha formação, não tive muitas referências negras. Tudo o que encontrei foi de forma autônoma e fora das instituições de ensino”, diz Andreza.
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Durante a edição 2024 do São Paulo Fashion Week, estilistas negros levaram para a passarela coleções que mostram como a moda contemporânea não apenas resgata memórias do passado, mas também pavimenta o caminho para um futuro onde a ancestralidade continua a inspirar novas formas de expressão criativa e cultural.
Marcas como o Ateliê Mão de Mãe, de Vinícius Santana e Patrick Fortuna, têm seguido essa linha de valorização cultural e histórica, com coleções que exaltam as figuras e símbolos do candomblé, como as ìyàmìs, mães protetoras. Elementos como penas, escamas e palha de piaçava não são apenas adornos, mas um tributo à coletividade e às tradições que sustentam as crenças.
Mônica Sampaio, à frente da Santa Resistência, também encontra na ancestralidade uma poderosa fonte de inspiração. Sua coleção “Manifesto Ancestral” une o afrofuturismo e as raízes Maasai, que ela descobriu por meio de um teste de DNA, criando um elo entre o futuro e as tradições africanas. A escolha de tecidos sustentáveis e estampas vibrantes, somadas ao manto Maasai desenhado por Alex Rocca, reforçam a busca pela reconexão com a história e a identidade africana.
Enquanto isso, o designer Luiz Claudio, da Apartamento 03, com sua coleção “Grão”, homenageia os ancestrais cafeeiros do Brasil. A coleção, que utiliza tecidos como paetê e cetim, traz à tona uma narrativa que não só celebra a riqueza do café, mas também lembra as mãos negras que construíram essa riqueza.
A Meninos Rei, de Júnior e Céu Rocha, também celebrou sua trajetória com a coleção “Suco de Axé”, que traz o olhar sobre a ancestralidade baiana, suas estampas e novos conceitos como a cor branca nos looks minimalistas. Os acessórios feitos por quilombolas de Pitanga dos Palmares e Dandá reafirmam o valor da cooperação comunitária, fortalecendo a ideia de que a moda, além de estética, é um espaço de pertencimento e valorização das raízes culturais.
Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Instituto C&A.
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