Uma operação realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em conjunto com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Federal, resgatou uma trabalhadora doméstica de 61 anos que vivia há 28 anos em situação análoga à escravidão na casa da vereadora Simone Rezende Rodrigues da Silva (União Brasil), de Além Paraíba (MG).
De acordo com reportagem publicada pelo jornalista Leonardo Sakamoto, a vítima, uma mulher negra e analfabeta, vinha de uma origem humilde na zona rural de Leopoldina (MG). Segundo os fiscais, ela trabalhava sem descanso, não recebia salários regularmente e não tinha acesso a lazer ou vida social.
Notícias Relacionadas
Leci Brandão celebra 80 anos e cinco décadas de samba em programa especial da TV Brasil
Netflix anuncia documentário sobre trajetória de Mike Tyson
Em depoimento, a vereadora negou as acusações e afirmou que a trabalhadora era tratada como “pessoa da família”. No entanto, relatos e documentos analisados pela fiscalização indicaram um cenário de exploração e controle, que incluía a ausência de registro formal e irregularidades no histórico previdenciário, com apenas 3 anos e 9 meses de contribuições ao INSS em quase três décadas de serviço.
Além das tarefas domésticas, a vítima também atuava como cuidadora noturna do marido da vereadora, que tem graves problemas de saúde. Sem direito a folgas e com poucas roupas — todas feitas pelos patrões —, ela dependia da boa vontade da família para alimentação e necessidades básicas.
“Nas poucas vezes em que visitava parentes, a empregadora dava algum dinheiro, criando a ilusão de que sua vida era adequada. A denúncia só ocorreu quando as sobrinhas perceberam que ela deveria ter direito à aposentadoria, mas não havia documentação suficiente para isso”, explicou Luciano Pereira de Rezende, auditor fiscal e coordenador da operação.
A operação, iniciada em 2 de dezembro de 2024, resultou em uma multa à família empregadora por 11 infrações trabalhistas, incluindo a manutenção de pessoa em condições análogas à escravidão. Os direitos trabalhistas devidos somam mais de R$ 640 mil. Além disso, um acordo com o MPT definiu o pagamento de R$ 400 mil por danos morais individuais à trabalhadora.
A vereadora, que está em seu terceiro mandato e já foi secretária de saúde do município, também será investigada criminalmente. O caso evidencia uma das faces mais insidiosas da exploração, em que os laços de dependência emocional dificultam o rompimento da relação abusiva.
A trabalhadora resgatada em Além Paraíba foi acolhida por serviços de assistência social e agora busca reconstruir sua vida longe do ciclo de exploração.
Notícias Recentes
Trabalhadora negra é resgatada após viver 28 anos em situação de escravidão na casa de vereadora em Minas Gerais
Como os negócios podem ajudar a combater o racismo ambiental?