Texto: Jarbas Vargas Nascimento
Os resultados dos últimos censos têm revelado que a população preta e parda continua sua trajetória histórica, no Brasil, em situação de subalternidade e de desigualdades étnico-raciais em relação aos brancos. Não temos dúvida de que o racismo estrutural, institucional e sistêmico imposto à população preta e parda resulta da pressão do privilégio da elite branca e do acúmulo de prejuízos, confirmado pelos indicadores de empregabilidade, representatividade, identidade, habitação, ausência de acessibilidade a recursos educativos de qualidade e de consumo de bens, questões que se interrelacionam e correspondem não apenas a experiências individuais, mas também coletivas da população preta e parda e de sua interação na sociedade onde vive.
Notícias Relacionadas
As cotas raciais ainda não possibilitaram estabelecer a população negra em um sistema de equidade social
Xirê de Rua: Um Ritual de Resistência e Celebração da Cultura Afro-Brasileira
Embora os dados do Censo Demográfico de 2022 revelem aumento de estudantes pretos e pardos nas Universidades públicas, a visibilidade ainda é baixa, por motivos complexos e relacionados, em comparação ao número desses sujeitos no universo populacional brasileiro divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso comprova que as cotas raciais como ações afirmativas ainda não possibilitaram inserir a população preta e parda na universidade pública e estabelecer definitivamente um sistema de equidade social, que desfaça, por conseguinte, as desigualdades interraciais estruturais, construídas ideologicamente pela elite dominante com o intuito de apagar da população preta e parda sua identidade étnica e social.
De nosso ponto de vista, desigualdade socioeconômica, pouca representatividade preta e parda nas universidades públicas, pressões sociais e familiares, desigualdade na educação básica e a concepção de universidade, vigente na contemporaneidade, constituem os quatro eixos, que nos ajudam a compreender o porquê da baixa adesão ao sistema de cotas raciais na Educação Superior, como política de inclusão formativa dessa população excluída historicamente. É importante considerar a desigualdade socioeconômica, pois muitos estudantes pretos e pardos vêm de famílias pobres, fato que, desde a infância, os impede o acesso a uma educação básica de qualidade. Na verdade, isso afeta seu bom desempenho no Vestibular ou Enem, principais portas de entrada para as universidades públicas em nosso país.
Um segundo ponto frequentemente levantado é a ausência de representatividade preta e parda na universidade, além da falta de uma rede de apoio que possa criar um ambiente de empatia e acolhimento desses estudantes, que se sentem isolados e desmotivados, redundando no aumento da taxa de evasão escolar. Somam-se a isso as pressões sociais e familiares, que forçam estudantes pretos e pardos a enfrentarem pressões adicionais, para socorrer financeiramente seus familiares, obrigando-os a priorizarem o trabalho assalariado ao estudo. Ademais, a qualidade desigual da educação básica é, geralmente, um grande obstáculo, pois estudantes pretos e pardos são os mais afetados por escolas públicas de baixa qualidade e alta vulnerabilidade, que comprometem sua preparação para a Educação Superior.
Uma última e não menos importante reflexão recai sobre a concepção de universidade vigente no Brasil. Nossas universidades secundarizaram o processo formativo. O que se realça é a reprodução de conhecimentos, sem questionamento, sem inventividade, sem inovação, questões que não estimulam os estudantes pretos e pardos a permanecerem na universidade, a pertencerem a ela, em razão de a sociedade brasileira considerá-los excluídos, sujeitos que se colocam à margem, à deriva da sociedade.
Há necessidade de uma mudança generalizada na concepção de universidade, pois a negação da identidade preta e parda aprofunda-se com o acirramento das contradições do modo de produção capitalista, que fundamenta nossa sociedade e nossas universidades. A presença de pretos e pardos nas universidades públicas torna-se fundamental no enfretamento do racismo, que afeta o bem-estar emocional e psicológico e a construção de um ambiente cultural e acadêmico mais rico e plural, nos quais a população preta e parda, unida aos brancos vivenciem conhecimentos e unam-se em prol de sucesso acadêmico.
Notícias Recentes
Câmara aprova a inclusão da escritora Carolina Maria de Jesus no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria
Ludmilla retorna ao Rio com a turnê Numanice para dois shows no Riocentro