Nas eleições de 2024, o voto negro nos Estados Unidos se torna um tema decisivo, especialmente com Kamala Harris na disputa, potencialmente se tornando a primeira mulher negra a ocupar a presidência do país, caso a chapa democrata vença o ex-presidente Donald Trump. No entanto, o engajamento desse grupo enfrenta desafios, em grande parte impulsionados pela desinformação e percepções distorcidas sobre a economia e políticas passadas.

O voto negro tem sido um pilar nas eleições americanas, representando cerca de 14% do eleitorado registrado em 2020, segundo estimativas do Pew Research Center e do Census Bureau dos EUA. Durante um comício no Rancho Ochoa, no Arizona, voltado à comunidade latina e em apoio ao candidato democrata Ruben Gallego, a afro-americana Kasiyah Tatem, que trabalha em um programa de Jovens Lideranças em Washington, D.C., falou ao Mundo Negro sobre a mobilização do voto negro. Para Tatem, embora haja uma crescente adesão à candidatura democrata, muitos eleitores ainda se dividem por conta de informações equivocadas. “Há essa desinformação de que Trump proporcionou alguma vantagem econômica para eles durante sua presidência. Eles acreditam que os cheques de estímulo vieram dele, quando, na verdade, vieram dos democratas no Congresso tentando passar essa lei que os republicanos estavam bloqueando”, explica Tatem.

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Essa percepção errônea sobre a economia é um dos fatores que, segundo ela, contribui para que alguns eleitores negros considerem o apoio a Trump. “Eles lembram que a economia estava ‘boa’ sob Trump, mas não reconhecem que essas políticas vieram de Obama, da administração anterior. Então, há muita desinformação sobre como o governo funciona e quem realmente está apoiando eles,” observa. Tatem também identifica uma divisão socioeconômica, onde parte da elite negra prioriza interesses individuais em vez de uma visão coletivista. “Há aqueles negros da elite socioeconômica, que são mais interessados em si mesmos do que em serem coletivistas,” afirma.

Além disso, Tatem ressalta o papel das celebridades e influenciadores na conscientização política da comunidade. “Acho importante que nossos artistas favoritos se posicionem e mostrem sua política para que mais pessoas que não prestam atenção fiquem cientes do que está acontecendo,” comenta. Para ela, figuras públicas como artistas e atletas ajudam a aproximar o processo político de um público que, de outra forma, poderia sentir-se alheio às decisões eleitorais.

Empolgação com Kamala Harris mobiliza o voto negro

Outro fator que tem impulsionado o engajamento dos eleitores negros é a candidatura de Kamala Harris. Jordyn Hodges-Wilson, moradora de Phoenix e voluntária na campanha de Kamala, acredita que a possibilidade de eleger a primeira mulher negra e asiática-americana à presidência tem motivado ainda mais a comunidade. “Acho que os eleitores negros estão particularmente engajados nesta eleição porque estão realmente empolgados com Kamala Harris,” afirma Hodges-Wilson. “Historicamente, fomos esquecidos nas urnas quando os candidatos não defendem nossos interesses, seja por meio de políticas que ajudem nossas comunidades ou pelo discurso em torno delas.”

Para Hodges-Wilson, essa eleição representa um momento histórico que pode influenciar futuras gerações. “Acho que eles estão realmente animados com a oportunidade de eleger não apenas a primeira mulher presidente, mas a primeira mulher negra e do Sudeste Asiático. Isso estabelece um padrão para gerações futuras,” enfatiza.

Desafios na disputa com Trump

Quando questionada sobre como abordar uma eleitora negra que cogita votar em Trump, Hodges-Wilson defende que é importante votar com consciência e evitar agir contra os próprios interesses. “Eu diria apenas para não votar contra o próprio interesse,” ela aconselha. “Trump demonstrou historicamente que ele não apenas não se importa com as mulheres, mas especialmente com as mulheres negras. Quando a escolha é entre ele e uma mulher de cor que tem sido uma defensora vitalícia de nossa comunidade, nossa saúde materna e justiça econômica, a escolha é muito clara.”

Ela acrescenta que muitos eleitores podem não compreender completamente o impacto de um voto em Trump. “Acho que, ao conversar com uma eleitora assim, trata-se de entender o que realmente está em jogo e talvez não perceber o que aconteceria se ela votasse em Trump,” conclui.

Esses fatores tornam o voto negro um elemento complexo nas eleições americanas de 2024. Em um cenário polarizado e marcado pela desinformação, a mobilização desse grupo pode ter um peso decisivo nos rumos do país, colocando em jogo questões de representação e influência política no contexto de uma eleição historicamente relevante.


Nossa editora-chefe Silvia Nascimento está nos Estados Unidos a convite do governo americano, por meio do consulado dos EUA em São Paulo, participando do “Reporting Tour” para acompanhar de perto as eleições americanas e suas implicações para a comunidade negra.

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