Ecofeminismo Negro: o papel das mulheres negras na economia circular

A economia circular é um modelo econômico inquestionável e fundamental para a redução de impactos negativos para o meio ambiente, que visa a sustentabilidade, a redução de resíduos e a reutilização de recursos. Diferente do modelo linear tradicional de “extrair, produzir, descartar”, a economia circular busca fechar o ciclo de vida dos produtos. Nesse contexto, a participação de diversos grupos sociais, é indispensável para garantir que os benefícios sejam distribuídos de forma equitativa e que a diversidade contribua para a inovação e a eficiência do modelo. Se precisamos de uma estratégia de atuação para garantir a equidade e a diversidade, sabemos que essa desigualdade tem nome, gênero, endereço e cor bem definidos.

A participação das mulheres negras na economia circular ainda é limitada e muitas vezes invisibilizada. Estudos indicam que, globalmente, as mulheres representam apenas 11% dos profissionais na indústria de reciclagem. Dentro desse percentual, a representação das mulheres negras é ainda menor, refletindo as barreiras interseccionais de gênero e raça.

As barreiras que dificultam a participação das mulheres negras em decisões estratégicas na economia circular são múltiplas e interligadas: desigualdade educacional, discriminação no mercado de trabalho, falta de representatividade.

A complexidade da posição das mulheres negras na economia circular se manifesta em dois papéis críticos e aparentemente contraditórios: elas estão na base da pirâmide social, enfrentando os desafios mais imediatos da economia circular, enquanto também sofrem com a sub-representatividade nas esferas de decisão que moldam esse setor.

Base da pirâmide social: catadoras de materiais recicláveis

No Brasil, as catadoras de materiais recicláveis são um exemplo importante de participação das mulheres negras na economia circular. Em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, muitas cooperativas de reciclagem são formadas majoritariamente por mulheres negras. Essas cooperativas não apenas promovem a economia circular através da coleta e reciclagem de resíduos, mas também geram emprego e renda para comunidades marginalizadas. Estas cooperativas muitas vezes operam em condições precárias e sem o devido apoio governamental, refletindo a necessidade urgente de políticas que reconheçam e valorizem seu trabalho.

Segundo o Instituto Lixo Zero Brasil, aproximadamente 90% dos resíduos recicláveis são coletados por catadores informais, e muitos desses catadores são mulheres negras. Essa realidade destaca a importância das catadoras no sistema de gestão de resíduos e na economia circular, embora seu trabalho muitas vezes não receba o reconhecimento e a valorização adequados.

Sub-representatividade nas estruturas de decisão

Embora as mulheres negras desempenhem um papel fundamental na base da economia circular, sua presença em posições de liderança e formulação de políticas é extremamente limitada. Essa sub-representatividade impede que suas perspectivas e experiências sejam consideradas em decisões importantes que poderiam melhorar as condições de trabalho e promover maior inclusão no setor. 

Aliadas da causa: da base à liderança

A presença das mulheres negras na economia circular é uma questão de justiça social e eficiência econômica. Apesar das barreiras significativas, exemplos de sucesso mostram que, com o apoio adequado, as mulheres negras podem e devem desempenhar um papel significativo na promoção de práticas sustentáveis e na transformação econômica. É essencial que políticas públicas, iniciativas privadas e organizações da sociedade civil trabalhem juntas para remover as barreiras existentes e criar um ambiente inclusivo e equitativo na economia circular.

No Brasil, temos parlamentares comprometidas e que têm se destacado na luta contra a emergência climática e o racismo ambiental:

  • Marina Silva (REDE-SP): Ministra do Meio Ambiente, tem uma longa trajetória na defesa da Amazônia e do desenvolvimento sustentável. Atualmente senadora, continua atuando na promoção de políticas públicas que visem a proteção do meio ambiente.
  • Benedita da Silva (PT-RJ): Deputada Federal, dentre suas pautas prioritárias estão defender a democracia e o respeito à Constituição, lutar por políticas de combate ao racismo, pelas cotas e em apoio ao movimento negro e lutar por políticas públicas em defesa da mulher, em especial da mulher negra.
  • Carol Dartora (PT-PR): Deputada Federal, tem como foco o debate racial, educação e mulheres. Desde 2023 está junto à Frente Mista Ambientalista, criou o GT sobre Racismo Ambiental, levantando pautas, denúncias e soluções para  este tema. No Senado, assumiu a vice-presidência da Comissão Mista Permanente sobre Migrações Internacionais e Refugiados.
  • Talíria Petrone (PSOL-RJ): Deputada Federal, tem atuado na defesa dos direitos humanos e na luta contra as desigualdades sociais. É autora de projetos que visam combater a fome e promover a justiça social.

É importante ressaltar que a luta contra a emergência climática e o racismo ambiental é um esforço coletivo, que envolve não apenas o poder público, mas também movimentos sociais, organizações da sociedade civil e a população em geral. A atuação dessas mulheres na política institucional é fundamental para dar visibilidade a essas pautas e pressionar por ações concretas do governo:

  • Aline Souza: Coordenadora executiva da rede de ONGs Observatório do Clima, tem atuado na promoção de políticas públicas para o combate às mudanças climáticas e na defesa da justiça climática.
  • Amanda Costa: é ativista climática, jovem embaixadora da ONU Entusiasta pela Agenda 2030, tem o objetivo de mobilizar jovens para construírem um mundo inclusivo, colaborativo e sustentável, promovendo a justiça climática e enfrentando o racismo ambiental e já representou parte da juventude brasileira em quatro conferências de Mudanças Climáticas da ONU, a COP23 – Alemanha (2017), COP24 – Polônia (2018), COP26 – Reino Unido (2021) e COP27 – Egito (2022), ambientes onde desenvolveu habilidades como incidência política na agenda climática e educomunicação
  • Ana Toni: Ex- Diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e atual Secretária de Mudança do Clima, Secretaria Nacional de Mudanças do Clima (MMA) tem atuado na promoção de soluções inovadoras para o enfrentamento da crise climática e na defesa da justiça social e ambiental.

Essas são apenas algumas das muitas mulheres que se dedicam à causa no Brasil. A atuação delas na sociedade civil e no poder público é imprescindível para pressionar por ações concretas do governo e do setor privado, e para construir um futuro mais justo e sustentável para todos.

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