Essa é a leitura que faço diante do posicionamento manifestado de maneira recorrente e sistemática pelos brancos. Eles não se conformam com as nossas conquistas e persistência diante das adversidades colocadas pelo racismo. A doutora em psicologia, Cida Bento, na sua tese – Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público (2002) – já anunciou “ascensão negra, medo branco”.
E nada disso tem a ver com as exceções, ou como dizem por aí “pretos no topo”. O meu olhar diz respeito ao coletivo, negros conquistando alguns direitos sociais e políticos, acessando ambientes no mercado profissional, educacional, habitacional e artísticos com a devida relevância. No entanto, não ignoro que falta muito para sairmos da teia do racismo; olhar para o passado nos ajuda a compreender a situação atual e o quanto evoluímos.
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E não esmorecemos mesmo com a violência racista sangrando nossos corpos. Nem aceitamos as desculpas esfarrapadas dos brancos. Os argumentos justificando os privilégios não param em pé quando debatemos. Dos últimos tempos para cá, os brancos repetem como papagaios que o problema é o “racismo estrutural. Tentam impor a ideia de que não há nada a ser feito sobre o racismo, e consideram uma questão da própria natureza do homem que extrapola o concreto. Porém, não somos tolos como eles pensam, sabemos que o racismo é uma construção social – não importa como se manifesta e o encadeamento entre os instrumentos institucionais e as múltiplas opressões. O combate é realizado através da ação humana, e nesse sentido, inexiste justificativas que retire a responsabilidade das costas da branquitude.
As Cotas Raciais são um exemplo de ação política que demonstra a sua eficácia contra o racismo. Desde a implantação, produzem mudanças substanciais nas instituições de ensino superior e técnico, concursos públicos, e como não poderia ser diferente, na vida das pessoas negras.
Esse impacto positivo produz críticas brancas que não cessam; recentemente até vimos a imprensa burguesa publicando textos e despejando a ira sobre as ações afirmativas. O que não é incomum em se tratando de jornalismo sem qualquer compromisso civilizatório, alinhado aos interesses das classes dominantes. As redações aproveitam a legião de frustrados espalhados na sociedade, consumidos pelo pensamento da meritocracia, e produzem subjetividades para nos atacarem.
Os frustrados que não alcançaram elevado status social são fáceis de ser cooptados; acreditam que o pouco que conquistaram foi fruto de merito, e caso se esforcem muito mais alcançarão os “céus”. Não entendem que, apesar da brancura, o capitalismo limita a quantidade de quem usufrui do “banquete” em abundância.
Irmãos e irmãs, continuemos multiplicando a consciência racial e rechaçando qualquer tipo de subserviência no nosso meio. Não esperemos de braços cruzados pela vontade do Estado e muito menos pela benevolência dos brancos. Ao povo negro só cabe a filosofia “nós por nós”. Que os racistas continuem assombrados, não vamos recuar!
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