Cercada de mistério, reflexões, toques de suspense e humor, ‘Histórias Impossíveis’ encerra sua temporada com o impactante episódio ‘Levante’, no especial ‘Falas Negras’, que vai ao ar na TV Globo, após ‘Tela Quente’, no dia 20, Dia da Consciência Negra.
Criadora e roteirista da antologia, Grace Passô agora também embarca na interpretação da personagem Janaína, protagonista da trama. Assim como Grace, Janaína é uma roteirista negra que ingressa em um novo projeto audiovisual. Seu encontro com o restante da equipe de autores – todos brancos – se dá em uma imersão realizada em uma fazenda no Interior, herança da época colonial da família do chefe do projeto.
Desde a recepção de Janaína, fica claro o estranhamento que sua presença causa, tanto na forma como os demais roteiristas se relacionam com ela, quanto pelo comportamento misterioso dos funcionários da fazenda, como Benê (Neusa Borges) e Justino (Leandro Firmino). Uma série de acontecimentos atípicos tem início quando Pedro (Guilherme Fontes), o líder da sala de roteiro, desaparece sem explicações. Mas a investigação de Janaína a leva a descobertas inimagináveis sobre o verdadeiro propósito da fazenda e dos planos de seus funcionários.
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A trama de ‘Levante’ se desenrola até um fechamento surpreendente, que leva a discussões sobre os estereótipos criados para personagens negros ao longo da história do audiovisual, mostrando o quanto a desconstrução de preconceitos e estigmas é um processo em curso na sociedade como um todo.
“Indubitavelmente, logo chegamos nas questões de representação e como a mídia retratou seus personagens negros por anos. Então, começamos a achar que existia nisso uma espécie de sátira, uma visão que podia ampliar ao seu limite tudo que queríamos dizer. Estávamos fazendo uma obra que se propunha a ter ‘Histórias Impossíveis’, então nos permitimos ir longe nos aspectos de gênero para contar uma história sobre uma roteirista e personagens”, explica Jaqueline Souza, criadora da série. “É uma reflexão difícil, mas nós acreditamos no potencial de fazê-la com as viradas que a ficção permite, embalada com convenções do terror e suspense, para alcançar um grande público”, completa.
“O episódio é sobre as imagens que foram construídas da população negra no audiovisual nacional, mas também sobre a urgência de ampliar a presença negra nas salas de desenvolvimento e na direção, sem contar a diferença que faz ter parcerias atentas e executivos sensíveis nos espaços de decisão. Não um, mas vários, em todas as etapas de produção e veiculação. Isso permite uma liberdade criativa que amplia a construção de personagens contraditórios, humanos e que ajudam a remontar o imaginário social e nacional sobre nós mesmos”, defende Renata Martins.
O elenco reúne nomes consagrados na teledramaturgia brasileira, além de participações mais que especiais. “‘Levante’ encerra nossa antologia de forma primorosa. O público terá a possibilidade de ver uma constelação de talentos ao longo de uma trama instigante e envolvente. A dona Neusa Borges é uma de nossas protagonistas, e ela está gigante, um desbunde como nunca visto antes em outro papel, ao lado das maravilhosas Grace Passô, Dandara Abreu e Julia Stockler e dos incríveis Leandro Firmino, Guilherme Fontes, Rodrigo Garcia e Kelner Macêdo. Eu não vejo a hora de compartilhar esse momento com todo o Brasil”, adianta Renata.
Diretora artística de ‘Histórias Impossíveis’ e também de ‘Os Outros’ (original Globoplay), Luisa Lima conta que os atores convidados para o último episódio formam o maior elenco de toda a série. “Desde a gênese do texto, o personagem de Janaína foi escrito pensando na Grace. O Guilherme Fontes esteve comigo na primeira temporada de ‘Os Outros’ e percebi que ele seria um Pedro perfeito. Neusa Borges, a líder do levante, é um ícone do audiovisual brasileiro. Foi incrível trabalhar com ela, esteve firme e aberta”, conta Luisa, que codirigiu o episódio com os diretores Everlane Moraes e Fabio Rodrigo. “Discutimos cada intenção, estivemos juntos no set, com nossas diferentes perspectivas, experiências de vida e profissional, em busca de um sonho comum. Desde o início do projeto até hoje, foram três anos. Um tempo em que podemos comemorar avanços na diversidade do audiovisual brasileiro e internacional. Mas ainda há muito a perseguir e construir. ‘Levante’ traz frescor narrativo, reflete o talento de uma equipe de maioria negra e feminina, abre caminhos e respira novos ares para a dramaturgia brasileira e mundial”, destaca.
“No Brasil, pessoas foram escravizadas por mais de 300 anos porque a narrativa criada dizia que elas não tinham alma. A principal reflexão é que esse tipo de inverdade, principalmente quando repetida milhares de vezes na ficção, segue matando na vida real”, observa o diretor Fabio Rodrigo. “Estou feliz porque posso cooperar com um time poderoso que quer transformar a série em algo inesquecível para o público. O texto criado por Jaqueline Souza, Renata Martins e Grace Passô mostra que há, sim, novos caminhos possíveis”, completa.
Everlane Moraes, que também codirigiu o primeiro episódio da antologia ao lado de Luisa Lima, destaca que, embora ‘Mancha’ e ‘Levante’ tenham seus próprios universos narrativos, os dois apresentam semelhanças temáticas e dialogam entre si. “O primeiro é uma boa maneira de estrear, dizendo o quanto a série quer ‘sair da bolha’ e abrir espaço para o diálogo e reflexão. O mesmo é o último, que nos faz pensar na série como um todo, em como se escrevem os discursos, em como se representam os personagens, e em como é uma responsabilidade muito grande contar histórias”, avalia. “Para nós, que contamos histórias, e ainda mais sendo negros, esse episódio é muito simbólico e um avanço na dramaturgia brasileira”, pontua a diretora.
A autora Jaqueline Souza acrescenta que este é um episódio cheio de metalinguagem e que deve provocar reflexões: “Acredito que ele gere uma sensação de inquietação, muitas conversas e debates. Mas, acima de tudo, ‘Levante’ é um convite, uma chamada de ação para reconhecermos o que foi feito e o tanto que há de se fazer em busca de uma representação preta mais humana, digna e complexa nas telas”, conclui.
A antologia ‘Histórias Impossíveis’, apresentada nos especiais ‘Falas’ deste ano, foi criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, escrita com Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá. A direção artística é de Luisa Lima e direção de Thereza Médicis, Everlane Moraes, Graciela Guarani e Fabio Rodrigo, com produção de Leilanie Silva. Alinhado à jornada ESG da Globo, o projeto tem direção executiva de produção de Simone Lamosa, e direção de gênero, de José Luiz Villamarim.
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