Eleita em 2021 como vereadora distrital de Hannover, na Baixa-Saxônia, Alemanha, a advogada brasileira Delaine Kühn, 41, defende os imigrantes no país europeu por meio da política e com o seu próprio escritório de advocacia. “Sei que aqui os estrangeiros sofrem preconceito, coisas que às vezes brasileiros brancos jamais sofreriam no Brasil. Mas aqui, se eu entrar em algum lugar, ninguém fica olhando torto, me questionando o que eu faço ”, diz em entrevista à DW nesta semana.
Filiada ao Partido Social-Democrata (SPD), Kühn celebra a sua trajetória profissional na Alemanha, mas destaca como teria sido mais difícil se estivesse no Brasil, por ser uma mulher negra. “Me sinto bem à vontade aqui – tirando o idioma, que não é perfeito –, de ir nos lugares e aparecer. No Brasil eu me fechava. Tentei ser vereadora lá e não tive a menor chance de alguém investir em mim, e aqui foi tudo mais fácil. É mais difícil ser respeitada no Brasil, nossa luta não é muito gratificada”, completa.
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Kühn nasceu no bairro Colégio, periferia do Rio de Janeiro, e decidiu se mudar quando se apaixonou pelo alemão Robert Kühn, com quem está casada há 19 anos e tem uma filha. Influenciada pelo pai que também sempre gostou de política, a advogada diz que exerce o cargo de vereadora por amor. “Sinto que posso mostrar para outras pessoas, principalmente imigrantes, que a gente também faz parte; que eles também têm condições de se posicionar na política e serem representados lá dentro. É uma carga praticamente voluntária. Não é como no Brasil, que tem salário bom e vários avaliadores. Aqui tem que ser feito mesmo por amor”.
Pelo diploma ser do Brasil, muitos julgavam ser impossível ela obter licença para atuar livremente como advogada. “Eu não vou esperar eu falar o alemão perfeito para poder começar a advogar. Quando atender brasileiros, entenda-os melhor do que qualquer advogado alemão”, conta. “Os brasileiros atuavam com uma licença que só permitia o exercício em casos do Brasil, mas não relacionada ao direito alemão. Fiz a inscrição em Portugal e, depois, na Alemanha, registrei-me primeiro como advogada portuguesa, e depois de alguns anos obtive o título alemão. Nosso nicho inicialmente era brasileiro, mas agora trabalha muito com outros estrangeiros, africanos, latinos em geral, alemães também”, explica Kühn.
A advogada relembrou a dificuldade que teve para conseguir um emprego como advogada no Brasil devido ao racismo. “Quando voltei ao Brasil da primeira temporada na Alemanha, em 2009, eu era jovem e tentei entrar nos grandes escritórios de advocacia, que trabalham com o direito internacional. Mandava meu currículo com foto e nunca era chamada; quando mandava sem foto, era chamada para a entrevista, mas nunca ficava com a vaga. Ficava triste, questionava minha competência. Mas na realidade aquilo era justamente o racismo velado. Não era possível fazer parte desse meio, sabe?”, conta.
“Não gosto de ficar falando mal do Brasil, porque posso ser mal interpretada. Por mais que tenha sofrido essas coisas desde criança, sempre vou amar o meu país. É uma crítica construtiva. Tenho amigas negras no Brasil que têm condições e passam às vezes perrengues que eu aqui não passaria”, ressalta a vereadora.
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Fonte: DW
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