Dia da Educação: Jaciana Melquiades ressalta a importância do ensino de história e de afro-brasileira nas escolas

Nesta quinta-feira (28), a data celebra o papel da educação na construção do desenvolvimento de cada indivíduo 

Além de ressaltar a importância da educação na vida do ser humano, já que é o mecanismo mais valioso para a construção de valores sociais, éticos e morais, o Dia Mundial da Educação, celebrado nesta quinta-feira (28), também provoca reflexões. E, com o intuito de promover equidade, a Lei 10.639/03, tornou obrigatório no país o ensino de história e de cultura africana e afro-brasileira nas escolas. Mas na prática, a realidade é outra. Afinal, já parou para pensar quantos negros foram usados como referência de ensino ao longo do seu tempo escolar? 

Jaciana Melquiades, educadora social, historiadora e consultora educacional de igualdade racial, e sócia-fundadora e diretora executiva daEra Uma Vez o Mundo” – Startup educacional e de impacto social, que desenvolve  brinquedos e atividades educativas afrorreferenciadas, dedica sua trajetória profissional a encontrar meios de reduzir os impactos estruturais do racismo na educação. 

Embora a população negra seja a maioria da habitação do Brasil, sendo representada por 56%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela não ocupa todos os espaços da sociedade. O racismo, por sua vez, é peça-chave desse sistema discriminatório. 

Jaciana destaca que é fundamental a aplicação da Lei ainda na fase infantil do indivíduo, em prol de uma sociedade mais igualitária. “Essa é uma lei de janeiro de 2003, que entrou em vigor para alterar a Lei de Diretriz da Educação. Estamos falando de olhar diretamente para o apagamento que nossa história sofreu e construir um futuro saudável, o que só é possível com todos nós sabendo de onde viemos”, acredita. 

A era colonial, a qual os negros eram escravizados, marginalizados, torturados e vistos como subalternos, em pleno século XXI, ainda impera por meio do racismo, que segue violentando negros e refletindo em várias esferas do cotidiano, sendo uma dessas, a educacional. “A evasão escolar é um sintoma de uma questão estrutural e aprofundada das desigualdades: o racismo. Ele é responsável pela desumanização de corpos pretos, é responsável pelas agressões cotidianas que sofremos e, consequentemente, pelas mazelas sociais que nos acometem. A evasão escolar é sintoma e uma das ferramentas de combate ao racismo é justamente uma educação de qualidade, que permita que que sejamos todos e todas educados para o respeito às diferenças”, ressaltou Jaciana.

Para a historiadora, a aplicação da lei pode ajudar ainda na reconstrução da autoimagem negra. “Se aplicada corretamente, recuperamos as narrativas que tiram a história negra dessa redução que conhecemos. Insistem em reduzir a nossa história à escravidão. Nossa história começa muito antes e é isso que precisa estar nas escolas: um olhar afrocêntrico que permita a construção de nossa imagem com toda riqueza que nos cabe”, pontua. 

De acordo com Jaciana, embora seja difícil a lei em exercício em todas as escolas públicas do país, acreditar em profissionais que – assim como ela – lutam por inclusão e escolas para todos, é indispensável. “Infelizmente a instituição, de uma maneira geral, é alicerçada nessa estrutura racista que forjou o Brasil. Conheço uma escola pública em São Paulo, modelo de aplicação da lei e sonho mesmo que seja replicada. É prova de que se toda equipe acredita no projeto, é possível fazer dar certo. A Escola Municipal Educação Infantil Nelson Mandela nos prova isso”, frisou.

E prossegue dizendo: “Acho que a lei é uma ferramenta que serve para uma tentativa de correção das escolas que já temos em pleno funcionamento. Sonho com o tempo o qual teremos escolas afroncentradas, pensadas por nós e para os nossos. Muitos intelectuais trabalham para isso, inclusive. Mas para fins urgentes, é necessário que insistamos na aplicação da lei”, conclui.

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