No novo episódio do nosso podcast ‘Fala Diversas’, apresentado pela jornalista Silvia Nascimento, recebemos o repórter Diego ‘San’ Moraes da TV Globo, que encantou muita gente, especialmente, durante a cobertura das Olímpiadas de Tóquio, no ano passado.
Há 13 anos na Rede Globo, o repórter conseguiu emplacar a série ‘DiegoSan’ no Esporte Espetacular, para unir suas duas paixões, como jornalista e atleta.
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A série com 34 episódios, ao longo de quatro temporadas, foi estreada em 2017 e acompanhou a trajetória do Diego, de tentar realizar o sonho de tornar um atleta olímpico e o deixou conhecido em nível nacional. Mas foi eliminado na última fase da disputa pela vaga, em Portugal, e não foi às Olimpíadas como atleta.
A vida de carateca
Fã do filme Esporte Sangrente, Diego com 6 anos teve vontade de fazer capoeira para praticar os golpes que assistia. Mas como não tinha esse esporte em Macaé, interior do Rio de Janeiro, onde morava, começou a treinar karatê. Mas teve que parar aos 18, quando já tinha entrado na seleção brasileira.
“O karatê não era um esporte olímpico, eu não tinha apoio, eu não tinha patrocínio e aí fui investir nos estudos, que um futuro mais promissor”, relembra.
O atleta só retornou ao tatame depois de onze anos, quando o esporte foi reconhecido como uma modalidade olímpica. Em busca pela vaga olímpica, ele já notava que quase não via pessoas negras de alto rendimento, escaladas nas Olimpíadas. E o Diego tem triunfado no karatê.
“Hoje eu sou o número um do ranking do Brasil pelo terceiro ano consecutivo. Estou na seleção brasileira pelo quarto ano. São quatro anos de seleção brasileira. Eu voltei em 2017, peguei a seleção 2019. Esse ano, em abril eu tenho o Sul-Americano no Equador. E no último campeonato mundial fiquei em nono (lugar), eram 50 a 60 atletas na minha categoria, e no ranking eu sou o número 34 no mundo, de 600 ranqueados”, comenta.
Agora, Diego San começa se preparar para se despedir novamente do karatê.”Estou pra encerrar em algum momento a minha carreira dentro do esporte porque é muito difícil conseguir a chegar da melhor maneira possível. Eu não estou falando de um de uma aula, de um treino que eu vou fazer apenas pro condicionamento físico. Eu estou falando de alto rendimento, competições internacionais, competições de nível nacional muito alto”.
E ressalta: “Não é só treinar, é treinar pra vencer, treinar pra estar no topo, treinar pra estar no pódio. Então exige um desgaste muito maior. Então com trinta e três anos e tendo uma divisão de funções que é difícil”.
Agora o karatê se tornou um meio do Diego esquecer os problemas do dia a dia. “Karatê pra mim é minha válvula de escape do meu trabalho, da pressão do trabalho, dentro do jornalismo. Eu vou treinar uma vez ali por dia, durante cinco dias por semana. Até o ano passado eu treinava e fazia dez treinos por semana. Agora tem sido 3 dias por semana. São menos competições, menos cobrança em relação ao resultado, mais estou ali no treino para curtir aquele momento”.
Ser um repórter negro e atleta
Antes de se tornar o Diego San, o atleta relembra um dia delicado no ambiente de trabalho. “Um belo dia me me falaram assim ‘Diego, você pode ficar tranquilo que nessa onda de demissões, por exemplo, você não vai sair porquê que igual você, só tem você’ e aí a referência ‘preto só tem você'”, diz chateado.
Para o repórter, se fosse para receber uma promoção, ouviria “Você é o último das opções na hora de ser escalado pra alguma coisa, mas você não vai ser demitido.”
Nesse momento, Diego diz que respirou fundo e disse “Só tem eu, mas eles não fazem ideia que escolheram o preto errado” e criou o Diego San no ano seguinte.
Apesar das dificuldades de ser um atleta olímpico, Diego vê mais injustiças raciais no meio corporativo, do que no esporte. “Na hora do tatame, se eu fizer três, quatro, cinco vezes mais que o adversário, existe uma chance de eu conseguir ganhar, que é muito diferente às vezes do meio profissional, porque você vai depender de alguém e precisando de alguém pra te dar uma puxada”, desabafa.
Antes de ir à Tóquio, Diego relembra a exclusão na cobertura da Olimpíada de 2016. “Eu fiquei de fora do principal planejamento da escala da reportagem. Em 2015, eu fui o repórter que mais fez o Globo Esporte do Rio de Janeiro. Eu já tinha feito uma série olímpica. Mesmo assim, eu fiz algumas reportagens e cobri um ouro, que foi do Robson Conceição no boxe e consegui uma exclusiva”.
E ainda assim, a escalação foi difícil. “Meses antes das Olimpíadas, ainda duvidavam da minha capacidade, pelo fato de eu ter dividido o trabalho entre jornalista e carateca, e eu nunca deixei de ser repórter”, diz.
E em como qualquer outro ambiente, a falta de profissionais negros na cobertura televisiva foi notável na cobertura.”Em 2021, eu fui o único repórter negro dentro da escala que foi pra Tóquio. Existe a Karine Alves que é apresentadora, do canal fechado SporTV. Eu era o único da TV aberta”.
Diego San conquistou o público na cobertura jornalística nas Olímpiadas no ano passado, foi reconhecido e valorizado entre os atletas, mas ainda se sente desvalorizado no trabalho.
“A gente é posto à prova o tempo inteiro. E quando você precisa de outras pessoas pra validar o seu próximo passo e se essa pessoa acha que por você ser negro, você não tem capacidade de conseguir, você não vai dar o próximo passo. Você depende dela”.
“Dentro do meu ambiente de trabalho, o meu reconhecimento foi mínimo. Se fosse uma pessoa branca eu ia estar no topo da reportagem”, afirma. “A partir do momento que acabou os jogos, eu fui praticamente escondido”.
Hoje, Diego San integra a equipe do podcast Ubuntu Esporte Clube, feito exclusivamente por jornalistas negros e com entrevistados negros.
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