Diébédo Francis Kéré, arquiteto, educador e ativista social, foi escolhido como o grande vencedor do Prêmio Pritzker 2022, título que é considerado internacionalmente como a maior honraria da arquitetura. Kéré foi premiado por seus projetos pioneiros que “sustentam a Terra e seus habitantes em locais de extrema escassez”, disse Tom Pritzker, presidente da Fundação Hyatt, patrocinadora do evento, em comunicado. Ao mesmo tempo que se torna o 51º vencedor do prêmio, Kéré também se consagra como o primeiro negro a receber tal honraria.
“Espero mudar o paradigma, levar as pessoas a sonharem e arriscarem. Não é porque você é rico que você deve desperdiçar material. Não é porque você é pobre que você não deve tentar criar qualidade”, diz Kéré sobre seus projetos. “Todos merecem qualidade, todos merecem luxo e todos merecem conforto. Estamos interligados e as questões ligadas com o clima, a democracia e a escassez são preocupações para todos nós.” Nascido em Gando, Burkina Faso e radicado em Berlim, Alemanha, Francis Kéré busca empoderar e transformar comunidades através da arquitetura.
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Criado em 1979, o Prêmio Pritzker homenageia arquitetos vivos com conquistas significativas para a humanidade e o urbanismo. O brasileiro Oscar Niemeyer venceu o prêmio em 1988.
A arquitetura de Francis Kéré
Possuindo um forte compromisso com a justiça social e com o uso inteligente de materiais locais para conectar e responder ao clima natural, Francis Kéré trabalha em países marginalizados. Construindo escolas contemporâneas, unidades de saúde, habitação profissional, edifícios cívicos e espaços públicos, muitas vezes em terras onde os recursos são frágeis, a expressão das obras do arquiteto ultrapassa o valor de um edifício em si.
Dentre obras de destaque criadas pelo profissional, a Escola Primária de Gando, construída em 2001, estabeleceu as bases para a ideologia de sua arquitetura. A ideia de Kéré era construir uma fonte sustentável para uma comunidade, de forma a satisfazer necessidades e diminuir desigualdades. Sua resposta criativa exigiu uma solução dupla – um design físico e contemporâneo para uma instalação que poderia combater o calor extremo e as más condições de iluminação com recursos limitados.
A argila indígena utilizada na Escola de Gando foi fortificada com cimento para formar tijolos com massa térmica bioclimática, retendo o ar mais frio no interior enquanto permite que o calor escape através de um teto de tijolos e telhado elevado, resultando em ventilação sem a intervenção mecânica do ar condicionado. Com o tempo, o sucesso desse projeto aumentou o corpo discente da escola de 120 para 700 alunos.
Outro trabalho de Kéré que chamou atenção do Prêmio Pritzker, foi a Escola Secundária Lycée Schorge, de 2016. Localizada em uma das cidades mais populosas de Burkina Faso, Koudougou, a instituição serve como um marco local por suas qualidades estéticas. Nove edifícios modulares estão dispostos radialmente, estabelecendo um anel central de espaço comunitário flexível para performance, celebração e reunião.
“Francis Kéré é igualmente arquiteto e servo, aprimorando as vidas e experiências de inúmeros cidadãos em uma região do mundo às vezes esquecida”, comenta Pritzker. “Através dos edifícios que demonstram beleza, modéstia, ousadia e invenção, e pela integridade de sua arquitetura e geste, Kéré cumpre graciosamente a missão deste Prêmio.”
Atualmente, dentre diversos projetos, Kéré segue trabalhando na Assembleia Nacional do Benin. Sob construção, projeto é inspirado na simbólica Palaver Tree, um marco poderoso e espaço comum para muitas comunidades africanas. Projeto renderizado revela um salão de assembleia afundado, enquanto o “tronco” do prédio é oco, favorecendo ventilação e luz.
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