Estudo publicado na revista Frontiers in Genetics avaliou 25 populações de 12 países latino-americanos, com ênfase em afro-brasileiros e quilombolas
Pesquisadores do Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná (UFPR) analisaram a presença do alelo responsável pela persistência da lactase, enzima essencial para a digestão de laticínios, nas populações negras e quilombola das Américas. A conclusão foi de que a tendência à intolerância à lactose, já alta entre povos americanos, é particularmente sensível para essas populações.
Notícias Relacionadas
Famosos negros que apoiam Kamala Harris e Donald Trump nas eleições dos EUA
“O que acontece aqui impacta mulheres ao redor do mundo”: Danai Gurira fala sobre as eleições e os direitos das mulheres
Como o alelo se desenvolveu de forma independente por toda a Europa e em populações pastoralistas da África – dependentes de rebanhos para subsistência –, existem diferentes mutações africanas e apenas uma europeia. Em artigo publicado na revista científica Frontiers in Genetics, os cientistas analisam a frequência com que cada mutação está presente no continente americano.
Essa e outras pesquisas desenvolvidas no Departamento de Genética da UFPR aspiram contrapor o viés eurocêntrico predominante nos estudos biomédicos do mundo todo e, dessa forma, proporcionar melhores diagnósticos para doenças, permitindo tratamentos mais eficientes para todas as populações.
A enzima lactase é formada por enterócitos do intestino delgado, ou seja, é composta por células responsáveis por quebrar determinadas moléculas, como as da lactose, um açúcar não absorvível presente no leite de mamíferos. Esse processo, chamado de hidrólise, transforma a lactose em glicose e galactose, açúcares de fácil absorção pela mucosa intestinal.
Portanto, a persistência da lactase permite que o indivíduo consuma leite na vida adulta, pois tem um organismo capaz de fazer a digestão da lactose corretamente. Já a hipolactasia primária – ou a não persistência da lactase – está relacionada à indigestão e à má absorção da lactose, que pode ocasionar intolerância à lactose ou outros problemas gastrointestinais, como gases e diarreia. A pesquisa da UFPR avaliou exatamente isso, a persistência ou não da lactase.
A professora Marcia Holsbach Beltrame, orientadora do estudo, explica que a lactase é altamente expressa por recém-nascidos, mas que, com o crescimento, é natural que a enzima deixe de estar presente no organismo, ocasionando a não persistência da lactase.
“O normal é que a enzima lactase esteja presente apenas na infância, pois é na fase de amamentação que consumimos leite. Depois, ela para de ser produzida”.
Para a realização do estudo, os cientistas da UFPR realizaram sequenciamento genético em brasileiros negros para encontrar a enzima lactase. A pesquisa avaliou os dados genômicos de pessoas negras em todo o continente americano com a parceria do pesquisador Victor Borba, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Com informações da UFPR.
Notícias Recentes
CFM recorre à Justiça contra cota para negros e quilombolas em residências médicas
Trump derrota Kamala Harris e assume novo mandato com campanha marcada por desinformação e discursos xenofóbicos