Nascido na Zona Leste de Belo Horizonte, Osvaldo Pimentel é o filho caçula da Dona Maria de Fátima.
Durante parte da sua infância, morou próximo à estação de metrô Horto Florestal, uma região de Belo Horizonte que sempre alagava quando chovia muito. “Ali na região em que eu morava quando chovia tinha muito alagamento, e no começo dos anos 90 um deles quase tirou minha vida”, contou.
Graças a Reginaldo, seu vizinho que pulou e o salvou, nada aconteceu. Mas Osvaldo conta como se fosse hoje o quanto era “normal” depois de cada enchente arrumar as coisas e seguir a vida como se nada daquilo tivesse acontecido.
Dona Fátima, sua mãe, é sua maior referência de luta e conquista. Na época das enchentes, ela percebeu que só o trabalho como doméstica não ia dar conta das contas da casa e com uma bolsa térmica que havia recebido de brinde após comprar uma geladeira no crediário começou a vender sanduíches no Tribunal de Justiça, (com a ajuda de sua filha mais velha). Com o dinheiro extra, veio a primeira conquista: mudar para uma casa que tinha um sobrado onde não alagaria mais.
Osvaldo estudou a vida inteira em escola pública, e graças a sua mãe que trabalhava no centro conseguiu frequentar uma das melhores escolas públicas da capital, chamada Delfim Moreira. “As donas da casa que minha mãe trabalhava eram influentes e conseguiram uma vaga pra mim, contou.
Ao sair dessa escola e ir para o ensino fundamental, Osvaldo teve um pouco de dificuldade em algumas matérias, e teve o apoio das tias Regina e Lúcia, que vinham de Goiânia e se revezavam para ajudá-lo enquanto sua mãe trabalhava.
Ao entrar no ensino médio, em 2004, Osvaldo resolveu se dedicar mais aos estudos, e junto deste momento contou da importância de ter o Racionais como referência para a construção da identidade. “Músicas como Negro Drama, A vida é um desafio e Jesus Chorou foram um divisor de águas para mim”, disse.
Hoje, sei da importância de da dos estudos de base para as crianças negras. Só dessa forma formaremos presidentes, CEOs e bons políticos negros”.
Para ele, essa construção de identidade foi chegando aos poucos, assim como reconhecimento da sua própria cultura Afro. “A vida inteira eu vi minha tia que trabalhava como caixa usando cabelo alisado, e hoje depois de anos ela pode usar o cabelo como quiser, assim como eu que deixei o meu crescer há pouco tempo”.
Ser advogado era seu sonho de infância, e vendo uma das irmãs trabalhando no tribunal de justiça foi o que potencializou ainda mais sua vontade. “Eu convivia ali com aquelas pessoas e tinha vontade de me tornar uma delas”, disse.
“Enquanto alguns diziam que não valia a pena estudar, eu sempre acreditei muito na educação, e fui incentivado pela minha família. Educação pra mim é um valor”
Sua jornada no ensino superior não foi diferente da de muitos alunos pretos de escola pública, entrou para a faculdade Newton Paiva através do Prouni e o programa de cotas que analisava também a renda de toda a família.
“Na minha sala eram apenas 2 negros, e em cada uma das discussões sobre cotas eu preferia me calar ao debater com pessoas que jamais entenderiam a minha realidade, até porque ali tínhamos apenas uma professora negra, e isso diz muito”.
Ao sair da faculdade Osvaldo trabalhou por 2 anos em um escritório. Vendo de perto o dia a dia de um escritório jurídico, percebeu que trabalhar nesta área não era o que buscava, e tinha muita vontade de seguir carreira acadêmica ou tentar magistratura, para ser Juiz Federal.
Enquanto estudada e se preparara para dar o próximo passo em sua carreira, fazia consultoria jurídica para empresas. Foi quando conheceu a Monetizze, startup mineira de meios de pagamento, e começou a trabalhar remotamente para a empresa, até que em 2017 recebeu o convite para trabalhar mais de perto, como Gerente Jurídico.
“Ao entrar para o cargo eu sentia que precisava estudar mais, foi então que com o apoio da Monetizze, cursei a pós graduação em Direito Empresarial no Ibmec, e foi essa especialização que realmente abriu cada vez mais a minha mente não só para o direito empresarial, mas para a gestão de negócios”.
Três anos depois surgiu outra oportunidade e Osvaldo passou a trabalhar como Superintendente na Monetizze, e mais uma vez sentiu a importância de se manter estudando. “Foi então que busquei a especialização em gestão, com ênfase em negócios da Fundação Dom Cabral, uma das melhores escolas de negócios do mundo”.
Em nossa conversa, Osvaldo lembrou também da importância da luta pelos Direitos Civis nos EUA, no processo de construção de ações afirmativas e, como isso contribuiu para a eleição de um presidente negro. “Sem esse movimento e as ações afirmativas, o Obama não teria sido presidente dos EUA e tido toda essa representatividade pelo nosso povo”.
Há um ano Osvaldo assumiu a cadeira de CEO da Monetizze, transformando sua carreira. Estratégico, preparado, motivado e altamente orientado a resultados, Osvaldo acredita no poder do “juntos”, e hoje em seu modelo de gestão foca em unir competências e buscar a essência de cada indivíduo.
Exemplo de representatividade para profissionais negros, que buscam ascender em suas carreiras até cadeiras executivas, Osvaldo é a prova de a educação transforma. Hoje como CEO, Osvaldo Pimentel conta o quanto a educação sempre esteve presente na sua vida, desde a escola até hoje em dia. “A educação faz parte da minha vida, e para mim é o principal meio de transformar a nossa realidade, é nisso que eu acredito, é um valor”, concluiu.