Pior que a lenta inclusão de negros nas grandes empresas é o fato dos empresários ainda negarem que isso é um problema. Pesquisa do IBGE feita em 2010 com 15 mil pessoas mostra que a cor da pele interfere na vida profissional de 71% dos entrevistados. O aumento da inserção dos negros nas grandes empresas aumentou discretamente, mas considerando que os negros compõem pelo menos metade da população brasileira, é fácil constatar que a igualdade de oportunidades profissionais parece ser ainda um sonho distante.
“O resultado dessa pesquisa do IBGE é importante porque os próprios entrevistados informam que percebem o preconceito no trabalho. Essa percepção confirma o que para muitos brasileiros era uma afirmação “radical” e “sem base”: o Brasil ainda é um país preconceituoso e está longe de promover uma verdadeira integração racial”, constata Paulo Itacarambi, vice-presidente executivo do Instituo de Empresas e Responsabilidade Social Ethos.
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A pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil, realizada pelo Ethos e pelo Ibope, mostra que houve avanços muito lentos na inclusão racial nas empresas, entre 2003 e 2010. No nível executivo, os negros ocupavam 1,8% dos cargos nas 500 maiores em 2003 e, em 2010, 5,3%. No nível gerencial, os índices evoluíram de 8,8% para 13,2%. Nos quadros de supervisão, a participação subiu de 13,5% em 2003 para 25,6% em 2010. No quadro funcional, a evolução foi de 23,4% para 31,1%. Os negros são 46,5% da população economicamente ativa do Brasil.
Inclusão na prática
Felizmente a despeito do panorama ainda não muito otimista sobre o negro no mercado de trabalho, algumas entidades e empresas têm reconhecido a questão racial como fator importante no quesito responsabilidade social. A FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) iniciou há quatro anos o Programa de Valorização da Diversidade, com foco não só na inclusão de negros, como também na de mulheres e de pessoas com deficiência. O programa fez em 2007 um levantamento das práticas já adotadas pelos bancos e a cultura de cada um sobre os temas raça, gênero e deficiência. O estudo mostrou que os negros representavam 19% dos 462 mil funcionários do setor.
De posse dessas informações, a diretoria da FEBRABAN constituiu uma Comissão de Diversidade, que passou a sugerir ações e diretrizes para os bancos atuarem internamente, enfrentando os obstáculos de acordo com a cultura de cada um. A instituição também criou uma hotsite para o cadastramento de currículos.
Qualificar o profissional negro para aumentar a sua empregabilidade e competitividade no mercado de trabalho é um dos alicerces da Empregueafro, projeto de recrutamento e seleção para afrodescendentes da empresa WG (Work&Growth). “No momento estamos consolidando o nosso banco de currículos e em breve iniciaremos o processo seletivo”, explica Luiz de Jesus um dos idealizadores do projeto.
A Proton Consultoria, empresa especializada em recursos humanos lançou em novembro o programa “ProtoNegro – Talento e Igualdade no mercado de trabalho”.
“Quanto maior o nível hierárquico, menos negros. O ProtoNegro chega para minimizar essas diferenças, discutir e ampliar o crescimento profissional de forma sustentável, além de auxiliar as empresas no recrutamento e seleção de profissionais adequados”, argumenta César Salles Gomes, Diretor de Operações e também responsável pelo projeto.
No página da empresa na internet é possível informar a etnia durante o processo de cadastramento do currículo, o que facilita a identificação do profissional que será selecionado para uma empresa que tenha aderido a algum programa de inclusão ou diversidade.
Na seção Carreira do Site Mundo Negro você brevemente terá acesso a oportunidades de emprego e aperfeiçoamento profissional.