
Por Rachel Maia
No dia 25 de julho, celebramos o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Essa data, mais do que uma homenagem, é um chamado à reflexão e à ação. Instituída em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, em Santo Domingo (República Dominicana), a data marca a luta por igualdade de direitos, visibilidade e justiça social para mulheres que enfrentam múltiplas opressões: de gênero, raça e classe.
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E, diante da importância dessa data, compartilho esse momento de luta, reflexão e muitas vitórias com duas profissionais distintas, mas que se complementam não apenas no momento histórico de suas existências — já que têm a mesma idade —, mas, principalmente, por seus feitos como potências sociais, culturais e afro-brasileiras.
Liana Santos, idealizadora e estilista da marca Liana d’Afrika — que está no mercado desde 2016 — já vestiu mulheres que representam, com muita importância, o dia de hoje. Suas criações carregam a missão de celebrar a autenticidade da moda africana e da cultura afro-brasileira, com um toque carioca. Com formação em Design de Moda pela Universidade Cândido Mendes e pós-graduação em Figurino de Artes Cênicas pela Universidade Veiga de Almeida, ela, que é nascida em Niterói, atua como consultora de moda, estilista, figurinista e militante afro, apresentando o que há de mais belo e potente na moda.
“A moda afro-diaspórica surge como ferramenta poderosa de revolução, que vai muito além da estética. Ela se estabelece como forma de expressão cultural, resistência e empoderamento, ressignificando narrativas e reafirmando identidades. Eu costumo dizer que foi na moda e na cultura de matriz afro-brasileira que me conectei com minhas raízes africanas — ‘renasci’. Minhas criações não são só vestuário: cada peça carrega consigo histórias, memórias, símbolos e uma rica herança cultural”, informa Liana.
Rosimeire Cruz é jornalista, graduada pela FMU – FIAM FAAM, atua como redatora e escritora, uma comunicadora que tem colaborado com o fomento da cultura, inserindo jovens periféricos no cenário cultural de São Paulo. Com especializações em Comunicação Digital pela ECA – USP, ela traz, em sua trajetória, expertises de suas vivências profissionais como técnica em eventos — formada pelo Centro Paula Souza —, produzindo e participando de eventos de médio e grande porte, como, por exemplo, a Virada Cultural.
“Escolhi ser jornalista pela convicção no impacto transformador que o trabalho pode gerar. Como comunicadora, vejo a oportunidade de trazer pautas como sustentabilidade, diversidade, equidade, inclusão e cultura para o centro das conversas — conectando essas temáticas a pessoas que desejam fazer a diferença”, afirma a redatora.
O protagonismo das mulheres negras na construção social, econômica e cultural da América Latina e do Caribe é inegável. No entanto, ainda hoje, essas mulheres seguem enfrentando racismo estrutural, desigualdade de oportunidades, invisibilidade na política, na mídia e no mercado de trabalho, além de violência doméstica e institucional.
“Através das estampas autorais africanas, cores vibrantes, adornos e modelagens sofisticadas, a marca promove a valorização da beleza e da identidade negra, desconstruindo padrões eurocêntricos e celebrando a ancestralidade. A moda é intrinsecamente política. Enfatizo: vestir mulheres intelectuais negras significa que as roupas se tornam um manifesto, um grito de resistência contra o racismo, a discriminação e a invisibilidade”, ressalta a estilista.
“O nosso poder está na construção de alicerces para criar nossas narrativas sem sermos interrompidas. Meus feitos são bem maiores que minhas dores — e são esses feitos, construídos com o protagonismo das mulheres da minha família, como a minha avó Maria, que me dizia insistentemente em nossos encontros: ‘minha filha, quem dá valor a nós, somos nós mesmas’, que me movem cheia de esperança”, ressalta a jornalista.
Toda vez que ouço histórias como essas, faço uma reflexão sobre tudo que construímos juntas até aqui. Liana, Rosimeire, Maria: por nossas mães, tias, avós, vizinhas, mestras. Somos muitas, e não vamos parar. Percebam a importância de darmos as mãos e seguirmos. A cultura que nos envolve é transformadora, e o nosso poder de criação nos oportunizou não apenas ocupar espaços, mas também reinventá-los — com afeto, coragem e propósito.
“Criar moda atemporal é um dos conceitos da marca, mas impactar mulheres periféricas, através da valorização da mão de obra local e prover inclusão oferecendo novas perspectivas, por meio de projetos sociais ofertados — como o Costurando Memórias Ancestrais —, demonstrando que costura e moda podem ser uma força transformadora, capaz de gerar valor cultural, social e econômico, é o meu grande feito”, enfatiza Liana.
“Há muitos talentos nas periferias, e eu acredito que há também uma oportunidade de conexão ampla entre realidades econômicas distintas. Acredito no acesso à pluralidade cultural, e isso só acontecerá de fato quando pararmos de isolar as pessoas e separá-las por estereótipos ou classe social. É preciso circular e conhecer a diversidade artística, musical e de vivência de cada indivíduo, e isso nos fortalecerá como nação. Nossa cultura é riquíssima, mas o acesso, limitado”, ressalta Rosimeire.
Esse não é apenas um desabafo ou uma homenagem. É um chamado. Um convite para reconhecermos, juntas, o que já conquistamos — e o quanto ainda podemos transformar. Cada nome citado carrega consigo uma história de luta, afeto, coragem e reconstrução. E por trás de cada nome, há centenas de outras mulheres que se levantam, todos os dias, com a força de quem cria o novo mesmo quando o mundo insiste em negar espaço.
Celebrar o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é reconhecer uma história de resistência, ancestralidade e potência. É também uma oportunidade de rever nossos papéis sociais, ouvir novas vozes e fortalecer a luta por uma sociedade mais justa, diversa e inclusiva.
Seguimos, por aquelas que resistiram e abriram caminhos para que hoje possamos sonhar com mais liberdade — e porque o futuro que sonhamos é coletivo e já começou a ser tecido por nós.
Viva Tereza de Benguela!
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