Mundo Negro

Zonas de sacrifício racial: quando o racismo ambiental torna-se uma condenação

À medida que as discussões sobre a crise climática avançam na COP29, realizada este ano no Azerbaijão, é fundamental que se reconheça que os impactos das mudanças climáticas não afetam todas as comunidades de maneira igual. No Brasil e em diversos países, populações negras e indígenas, especialmente as localizadas em regiões periféricas, enfrentam uma ameaça dupla: além da exclusão social histórica, sofrem com a degradação ambiental em suas comunidades, áreas frequentemente transformadas em “zonas de sacrifício racial”.

De acordo com a cartilha do Geledés – Instituto da Mulher Negra, zonas de sacrifício racial são áreas onde o peso dos impactos ambientais torna o ambiente perigoso, até mesmo inabitável, devido à proximidade com grandes empreendimentos industriais e energéticos, como mineradoras e petroquímicas. “Essas zonas abrangem terras ancestrais dos povos indígenas, territórios periféricos e comunidades negras, onde os efeitos das mudanças climáticas e das atividades industriais são sentidos com intensidade alarmante”, afirma o Geledés. Em outras palavras, essas zonas são as regiões onde o racismo ambiental se manifesta de forma mais severa, expondo essas comunidades a uma degradação que poderia ser evitada.

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Para Priscila Nunes, Executiva de RH e Fundadora da Black HR Brasil, zonas de sacrifício racial e racismo ambiental são conceitos diretamente interligados. “As zonas de sacrifício são regiões que absorvem os principais impactos socioambientais devido à proximidade com empreendimentos industriais e energéticos, como mineradoras e petroquímicas. São áreas que não são levadas em consideração por esses empreendimentos, inclusive na hora do licenciamento ambiental”, explica Priscila. Essas comunidades já carecem de serviços essenciais, como saneamento básico e coleta de lixo, o que potencializa ainda mais o impacto das atividades industriais. “Normalmente, essas zonas estão localizadas em regiões marginalizadas, que já são acometidas pelo racismo ambiental. Ou seja, áreas que já carecem de saneamento básico, coleta de lixo, rede de esgoto e acesso à água potável”, destaca.

A exemplo de Cubatão, em São Paulo – conhecido como o “Vale da Morte” devido à alta poluição industrial nas décadas passadas –, várias regiões brasileiras são constantemente sacrificadas em nome do desenvolvimento econômico, enquanto suas populações enfrentam efeitos devastadores para a saúde e o meio ambiente. Esses locais ilustram como o racismo ambiental torna-se uma ameaça à vida de comunidades racializadas, que têm seus direitos e sua dignidade negligenciados.

O Geledés e outros ativistas defendem uma adaptação climática antirracista que reconheça e enfrente essas desigualdades. Para o instituto, “adaptação climática antirracista é o enfrentamento das desigualdades raciais, de gênero, sociais e territoriais por meio de políticas públicas estruturantes e emergenciais.” Isso inclui assegurar a proteção das vidas vulnerabilizadas e a conservação dos biomas por meio de ações que contemplem os saberes das comunidades impactadas e que protejam esses territórios da exploração sem limites.

Na COP29, espera-se que os líderes globais ampliem a discussão sobre justiça climática e racial, reconhecendo que a proteção do meio ambiente deve considerar os impactos desproporcionais para as comunidades negras e indígenas. Dar nome a essas “zonas de sacrifício racial” é uma forma de expor uma realidade dolorosa: algumas comunidades são sacrificadas para sustentar um modelo de desenvolvimento que beneficia poucos e marginaliza muitos. Como destaca Priscila Nunes, “o impacto socioambiental é potencializado nas regiões já afetadas pelo racismo ambiental. Esses impactos não são apenas no solo ou nos rios, mas afetam diretamente a saúde e o cotidiano das populações que vivem nessas áreas.”

A participação de vozes negras e indígenas nos espaços de decisão, como a COP29, é essencial para garantir que o conceito de justiça climática seja efetivo e não apenas uma promessa distante. O reconhecimento das zonas de sacrifício racial é um passo importante para que o mundo entenda que combater a crise climática é, antes de tudo, um compromisso com a justiça social e racial.

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