O controle financeiro das famílias sobre adolescentes e jovens que se descobrem LGBTQIA+ ainda é uma das grandes barreiras que a comunidade enfrenta para expressar sua orientação sexual de maneira plena. É comum ouvir frases como “dentro da minha casa, não” ou “enquanto for sustentada por mim não vai fazer essas coisas”.
Essa é a história de muitas pessoas e foi também a de Clara Sodré, mulher negra e lésbica que atua no mercado financeiro e, desde cedo, precisou buscar autonomia e independência para poder viver livre das amarras do preconceito. Nascida em Camaçari, na Bahia, que já foi eleita uma das cidades mais homofóbicas do país, ela viu na educação a possibilidade de construir uma saída para a felicidade. “Quando me aceitei, com 16 anos, passei a me dedicar mais aos estudos porque eu entendia que isso asseguraria mais a minha individualidade, por ter uma família que não me aceitava bem na época”, relembra.
Os caminhos da carreira profissional de Clara a levaram para uma empresa que era abertamente pró-LGBT+, logo na sua primeira experiência CLT. “Foi a empresa que me tirou da Bahia e me trouxe para Santa Catarina. Essa empresa batia no peito porque aceitava as pessoas LGBT como clientes, funcionários e isso na época gerava um certo espanto, porque as pessoas estavam começando a entender a questão da inclusão no ambiente corporativo”, diz Clara.
“Eu saí de uma realidade da Bahia onde era impossível andar de mãos dadas e cheguei em Florianópolis onde os casais LGBT se beijam na rua, e isso me empoderou bastante”, relembra.
A partir daí, separar o pessoal do profissional foi quase impossível e passou a orientar suas escolhas profissionais. “Com o tempo eu percebi isso de que o meu pessoal não anda separado da minha performance profissional. Isso passa pelas minhas individualidades, como ser uma mulher negra, lésbica e nordestina e também me sentir aceita e não ter vergonha”, defende.
Clara relembra que escolheu trabalhar na XP Inc., seu atual local de trabalho, porque em 2020 a empresa “saiu do armário” através de um manifesto nas redes sociais e tornou explícito seu apoio às causas LGBTQIA+. Desde 2020, XP conta com o Seja, um grupo de afinidade formado por pessoas LGBTQIA+ e busca oferecer um ambiente seguro para estes profissionais.
Além disso, a empresa oferece ações afirmativas de desenvolvimento de carreira e mentoria.
RELAÇÃO COM O DINHEIRO
Clara explica que é fundamental que desde muito cedo as pessoas consigam enxergar o dinheiro como um meio, uma ferramenta que poderá garantir sua liberdade.
“Não é só isso, claro, mas estar qualificada e ter boas oportunidades faz toda a diferença. É necessário que as pessoas LGBTQIA+ enxerguem o dinheiro como uma ferramenta de liberdade e emancipação. A educação financeira pode ser um facilitador neste processo”, orienta.